VILA DO SOL

A rotina da pequena Vila mudava quando chegava algum visitante ou morria alguém do vilarejo. Conhecida como Vila do Sol. Ficava localizada num lindo vale onde as montanhas que a rodeavam eram formadas por árvores enormes e nativas. Poucos se atreviam a fazer tal caminhada, pois os que lá tentavam chegar não conseguiam entrar na mata. Era muito fechada e os moradores ouviam sons horripilantes. Antes do anoitecer fechavam janelas e portas e aqueles que se aventuravam a sair à noite somente o faziam em grupos e retornavam antes da meia noite.

Certo dia, uma menina que estava a brincar sozinha no quintal com sua boneca começou a conversar como se estivesse falando com alguém. Sua mãe que, de vez em quando, a olhava pela janela da cozinha, levantou a cortina e perguntou-lhe:

_ Filha, com quem estás a conversar?

A mãe de onde estava conseguia somente ver a garota.

_Com o meu amigo, mamâe?

Aflita, pois o único acesso ao quintal seria por dentro da casa, a mãe disse-lhe:

_ Que amigo filha? Não veio nenhum coleguinha brincar contigo?

_ Veio sim, ele está aqui, mamãe!

Apavorada a mulher saiu pela cozinha afora e ao chegar a porta a menina não mais se encontrava, a não ser a sua boneca.

A mãe da criança entrou em prantos e correndo vila afora, gritava por socorro. Todos sairam para ver o que acontecia, e a mulher mal conseguia se expressar, chegando a desmaiar. Levaram-na para dentro de uma casa e ao reanirmar-se contou o ocorrido. Todos ficaram apavorados e se indagavam como poderia isso acontecer se não havia nenhum forasterio, todos que ali se encontravam era da vila. A mãe desesperada gritava:

_Bianca, onde está? Aparece filha! Mamãe não pode ficar sem você, volta filha!

Formaram vários grupos para fazer busca, mas onde procurar? O único acesso de saída do quintal seria para as montanhas. Se ela tivesse entrado na casa para sair a mãe a veria. O pai vivia viajando, trabalhava com vendas e seu retorno à vila estava previsto para aqueles dias. Os moradores resolveram a fazer a busca o mais rápido possível, pois estava à chegar uma tempestade. Por dois dias percorreram a redondeza chegando à procurar na entrada da montanha.

Nada se viu ou ouviu. O tempo chuvoso, o lamaçal prejudicava mais ainda, trazendo cansaço e dificuldade nas buscas.

A mãe de Bianca tentou entrar em contato com o marido, mas não foi possível pois os meios de comunicação estavam interrompidos. Além disso, estava apreensiva com o que seu marido iria lhe dizer sobre o acontecido. Ele era o tipo de homem que adorava a filha e jamais iria perdoa-la.

Passados uns cinco dias o marido retorna ao lar, procurando pela filha:

_Bianca, papai voltou? Onde estás? Ah! tá se escondendo eu vou te encontrar! Querida!

Não obtem retorno. Torna a chamar:

_ Verônica! Onde estás?

Percorre a casa toda e não encontra ninguém. Pensando que sua mulher teria ido à casa de alguma vizinha, se dirige ao quarto quando alguem bate à porta.

__ Olá Antônio! Como vai? Entre.

Antônio meio cabisbaixo:

_ Sr. Cleber, o que tenho a dizer é muito difícil para mim, mas sua filha Bianca sumiu, procuramos por todo local e não a encontramos.

_ Como? Meu Deus! Isso não! Como pôde ter acontecido uma coisas dessas. Onde está Verônica, como ela está?

_ Calma, Sr. Cleber vou leva-lo onde está sua mulher.

Eram quase três horas da tarde, entraram no caminhão e foram para o hospital onde sua mulher se encontrava sob cuidados. Quando entrou no quarto viu sua mulher que estava dormindo sob os efeitos de remédios. Cleber ficou com sua mulher até a manhã seguinte e quando ela acordou, o marido lhe disse:

_ Verônica como pode deixar isso acontecer?

_ Como? Você está me culpando pelo que aconteceu? Não acredito no que estou ouvindo! Eu amo a minha filha! Saia daqui! Me deixa em paz!

_ Cleber, simplesmente saiu e nunca mais voltou.

Passado uns cinco dias, Verônica tem alta do hospital e vai para casa pensando em como fazer o seu marido entender que não teve culpa com o que aconteceu. Ao entrar na casa olha desolada com o que vê, todos os cômodos estavam vazios. Sai a procura de respostas: _ Alguem viu o meu marido? Ele está na cidade?

Local pequeno, todos sabiam e viam o que acontecia na vila. mas ninguém queria se meter.

Verônica sai caminhando sem destino até que encontra uma senhora, já idosa que lhe diz:

_ Minha filha, eu vi um rapaz sair da cidade.

Chorando, ela pergunta: Como ele era? A que horas pegou o ônibus?

_ A senhora descrevendo a fisionomia de Cleber respondeu:

_ Ah! não, não de ônibus! Ele estava num carro.

_ Num carro!

_ Sim, num carro atrás de um caminhão com mudança.

Verônica chora muito balbuciando: _ Aquele infeliz, me deixou justamente na hora que mais precisava. Oh! Meu Deus! Que farei, já perdi a minha filha que sumiu e jamais encontrarei! Não tenho mais nada, nem para onde ir.

Então a senhora diz:

_ Então você é a mãe da menina que sumiu?

_ Sou e jamais a encontrarei!

_ Ora, se aquele homem que saiu com as mudanças é o seu marido, quem é a mulher e a criança que estavam com êle dentro do carro?

Verônica saiu desesperada a correr pela estrada com um único objetivo a esperança de resgatar a sua filha.

Quanto à Vila, continuaram a viver da mesma forma como se nada tivesse acontecido. Suas superstições quanto à montanha permanecem e nem se preocupam em saber que os sons horripilantes são ventos nas árvores com os de animais.