Redenção, Caminho Para o Paraíso (Capítulo 10)

_ E que verdades são essas Marcos? Mais invenções suas?

Magnus olhava furioso para seu inquisidor. De todas as criaturas sobrenaturais que encontrou, jamais imaginou que estaria sendo julgado por um vampiro.

_Não se preocupe Magnus. Como disse antes, você não é culpado de nada. Talvez apenas de ser um idiota chorão e ingênuo...

_CHEGA! _ interrompeu um furioso Magnus. Seus olhos que eram claros e tristes, agora estavam vermelhos e furiosos. Suas asas possuíam um brilho espectral que parecia reproduzir as cores das chamas do inferno. Sua voz soava como um trovão. Allin, mas do que depressa, sacou sua lança e sua armadura de combate, como q por instinto. Erakel olhava pasmo para o antigo amigo, não sabendo em quem acreditar: se em sua antiga amizade e suas lembranças, ou na visão que tinha diante de si. Mas, antes mesmo que alguém pudesse esboçar qualquer reação contra Magnus, este voltou ao normal, tão imediatamente quanto se mostrou furioso. Suas asas sumiram, os olhos voltaram ao normal, e o silêncio reinou.

_O que foi isso Magnus? _ perguntava Allin _ de onde você invocou tanta fúria?

Magnus olhava, atônito, para todos a sua volta. Não podia explicar o que tinha acontecido, apenas tinha sentido uma forte onda de fúria crescer dentro de si e dominar a sua mente. Depois disso, sentiu como se tivesse desmaiado, e acordado com as palavras de Allin, e os olhares de Erakel e Marcos em sua direção.

_Eu não sei... eu... eu apenas senti uma raiva crescendo e depois... o que foi que eu fiz?

Ninguém ousou responder. Todos sabiam tanto quanto Magnus sobre o que tinha acontecido. Allin foi a primeira a se movimentar, retirando sua roupa de combate e sua lança, deixando-os simplesmente sumir como por mágica. Depois, olhou para Magnus, e se sentiu decepcionada pelos seus atos.

_Fúria. Ira. _ dizia, desapontada e desanimada _ Você se deixou envolver por um dos pecados capitais, uma das sete características próprias da humanidade.

_Do que você está falando, garota? _perguntava Marcos, demonstrando o mínimo de interesse possível, apenas para quebrar o clima do ambiente _ que história é essa de pecados dos homens?

_Quando Demiurgo expulsou Adão e Eva do Éden, condenou-os a conviver com sete das características típica das criaturas do inferno, e sete das virtudes de suas crias da cidade de prata. Com o tempo, as características do inferno passaram a ser chamadas de Pecados Capitais. Estes pecados são marcas inerentes da alma dos homens, e o ponto fraco que os demônios usam para corromper suas almas, e ganha-las para seus fins sujos e mesquinhos.

_Você está insinuando então que eu estou me tornando um demônio completo? Que eu jamais vou poder reconquistar a minha entrada em Paradísia? _Magnus exibia um semblante triste e desiludido.

_Não necessariamente. Apenas significa que você está começando a deixar de lado suas virtudes, e se tornando mais pecador, mais... humano.

Novamente, o silêncio pairou. Os quatro apenas se olhavam, cada um pensando algo diferente, mas ninguém ousava falar nada. O clima estava tenso e pesado, até que Marcos finalmente quebrou o silêncio.

_Acho que já chega de enrolações. Tenho muito que fazer, e, ao contrário dos senhores boas-vidas, eu tenho apenas a noite pra fazer o que preciso, por isso, será que podemos ir direto ao assunto agora? Ou será que vocês ainda querem resolver algum probleminha com o papai-do-céu?

_Como ousa... _ começou a dizer Allin, sendo interrompida por Erakel, que havia se levantado.

_Não é hora de conversas bestas. Marcos tem razão Allin. Sei como você se sente, mas ele não passa de um vampiro. Jamais poderá imaginar como um de nós se sente diante de tais ofensas...

Marcos olhava para Erakel. Sabia que havia algo estranho no ar. Magnus revelara uma faceta totalmente desconhecida de todos. Alguém estava brincando com todos ali. E Allin, por mais bela que fosse, era uma anjo, e não cederia a corrupções tão facilmente. Resolveu então, de uma vez por todas, colocar as cartas na manga.

_Há algum tempo atrás, e que não vem ao caso revelar, eu estava atrás das informações que nossa caríssima anjo havia requisitado. Acontece que recebi um telefonema, marcando um encontro comigo no Largo do São Francisco, que como todos vocês devem saber, é um campo neutro para todas as criaturas, sejam do céu, do inferno, ou de qualquer outro lugar do mundo, e de outros mundos também.

_E o que isso tem a ver? Você se encontrar com uma pessoa não que dizer que ela esteja falando a verdade. No local que ela escolheu, você não teria como usar nenhum tipo de poder para desmascarar mentiras. _interrompeu Erakel _ Acha realmente que vamos dar crédito às suas histórias dessa forma?

_Concordo, não poderia mentir. Mas a pessoa também não poderia usar de nenhum artifício para se passar por outra pessoa. Então, como você explica o fato da pessoa que se encontrou comigo se Amanda, sua amada considerada morta, Erakel?

Erakel ficou sério e calado, olhando, desconfiado e intrigado para Marcos. Não sentia mentira nas palavras do vampiro, sentia como se ele estivesse dizendo a verdade. Olhou para Allin, e viu que a anjo o encarava. Magnus olhava perplexo para todos, sem saber o que estava, ao certo, acontecendo no ambiente.

_Sei que era ela, reconheci imediatamente como alguém familiar, e depois investiguei mais a fundo. Sua amada não está morta. Pelo menos, não da maneira como todos os outros mortais deveria morrer.

_Mas se o que você está falando é verdade, por que ela não apareceu pra mim? Por que não me procurou? _ Erakel falava com lágrimas de sangue escorrendo por seu rosto, e caindo no chão de pisos claros _ Por que ela apareceria para um vampiro, que sequer é um amigo, e não pra mim, que a amo mais que minha própria vida?

Marcos olhava para o caído e, por alguns instantes, chegou a sentir pena dele. Lembrou-se dos tempos em que era um mortal, e de como sua vida pareceu perder o sentido quando se descobriu imortal. Mas agora já não se preocupava mais com isso. Havia aprendido a conquistar novos desafios, a ser forte. O ambiente estava carregado de pesar, culpa, medo, receio, angústias. Os sentimentos que ali estavam se acumulando eram pesados, tensos e negativos. Tão negativos que, aos poucos, Allin começou a se sentir mal, ficar mais fraca. Magnus havia percebido isso, e estava amparando a amiga, e agora também amante.

_Mas isso não é tudo o que eu tenho pra falar. Ainda há muitas outras coisas a serem descobertas. _ Marcos olhava para todos, principalmente para Magnus _ Enquanto eu estava conversando com a garota, que com certeza era Amanda, aconteceu um crime na cidade, que vocês já devem ter visto ou ouvido falar em algum lugar.

Mal havia acabado de dizer, Marcos jogou algumas fotos na cama onde Erakel estava deitado até alguns minutos atrás. Erakel as pegou, e se horrorizou com as imagens que viu, mas um horror não maior do que o expressado por Allin e Magnus ao verem as fotos, logo em seguida.

_Essas são as imagens de uma garota jovem, ainda virgem pelo que consegui descobrir. Pelas marcas encontradas, é um possível estupro, mas para mim, sei que é algo maior.

Os outros apenas contemplavam o vampiro para descobrir o que ele falaria em seguida. A tensão apenas aumentava no ambiente, e Marcos podia sentir isso. Já estava quase no nível necessário para seu plano, apenas precisava contar com mais algumas cartas na manga.

_Posso afirmar, com certeza, que essa garota foi morta por motivos sobrenaturais. Para um ritual para ser mais específico. _ Allin olhou com raiva para o vampiro. Magnus e Erakel conteram um esboço de nojo diante da revelação. Para todos os presentes no ambiente, com exceção de Marcos, a vida era um bem que deveria ser preservado e cultivado. A inocência era um virtude, uma das poucas do homens, que não deveria ser violada, jamais, de forma tão grotesca. _ À noite, o sangue retirado, o corte na região íntima... tudo indica que ela foi morta para se conseguir os componentes para um ritual.

_Mas onde isso tudo vai levar? O que isso tudo teria a ver com Amanda, Magnus e tudo o que está acontecendo? _ Allin estava impaciente. Não sabia quais eram as intenções do vampiro, mas sabia que a situação já estava indo longe demais.

_Hora, você realmente não sabe Allin? Somente uma pessoa poderia ter feito isso com aquela garotinha, e, se não estiver enganado, basta pegar essa pessoa que chegaremos à raiz de todos os recentes problemas.

_E quem é essa pessoa? De quem você está falando agora? _ Erakel agora já era pura impaciência. Não gostava de pessoas que enrolavam a conversa ao invés de ir direto ao ponto.

_Hora, vamos com calma, Erakel. Não quero me precipitar e dizer coisas erradas, apesar de que eu não erro. _ Marcos exibia a arrogância típica dos vampiros como ele, o que irritava principalmente a Magnus. _ Eu tenho quase certeza de quem é o culpado, mas ainda há algumas respostas que eu não conheço, e preciso me certificar primeiramente delas, para depois revelar toda a trama.

_Não temos tempo para isso, seu idiota! _ Erakel mostrava sua impaciência _ Se você sabe o que está acontecendo, ou pelo menos tem idéia do que está acontecendo, é melhor me falar agora, de uma vez!

_Ele tem razão, Erakel. _ interviu Allin _ Não podemos nos arriscar a envolver a pessoa errada, isso daria vantagem ao nosso inimigo. Seja lá quem for, que até mesmo eu desconheço, ele está um passo na nossa frente. Temos de agir com cautela e informações. Além do mais, se Marcos não revelar nada no momento, Magnus não precisa se tornar seu escravo. Temos de agir com prudência.

Novamente se fez um silêncio no ambiente. Todos se olhavam, sem saber o que dizer. O clima estava tenso.

_Bom, vou certificar-me de certas coisas, amanhã à noite terei a resposta concreta de tudo, e então, como já disse, exigirei a servidão de Magnus como pagamento pelas informações. _ Marcos apenas disse, e saiu, fechando a porta atrás de si, e tão rapidamente que não deu tempo para que pudesse revidar ou responder seu comentário.

_Por que você fez isso Magnus? Por que jurar servidão àquele maldito morto-vivo pelas informações? Nós podemos consegui-las sem pagar esse preço tão alto. _ Allin, como sempre, mostrava o conforto e a compaixão que davam forças a Magnus. Havia sido assim tempos atrás na Cidade de Prata, e agora era o mesmo na Terra. _ Não é justo que você pague esse preço, é praticamente inaceitável!

Erakel apenas observava a cena. Lembrava-se, como se tivesse acabado de acontecer, de Magnus o pregando naquela cruz, dizendo como odiava o caído pelo que ele havia se tornado. A dor que sentiu, como Christos deve ter sentido, a cada martelada dada naqueles pregos enferrujados e velhos, dotados de algum tipo de magia que o impediam de regenerar os ferimentos. Olhou para suas mãos, e viu as marcas das chagas, das estigmas. Provavelmente ficaria para sempre com elas, e enquanto as tivesse, sabia que seria difícil perdoar o antigo amigo, ou mesmo acreditar que não havia sido ele o traidor.

_Eu acho melhor vocês irem embora agora, dizia Erakel, pois não há mais nada que possamos fazer, e não creio que eu esteja precisando da compania de vocês também.

Magnus e Allin se olharam, e saíram sem dizer mais nada. Ainda doía em Magnus lembrar que Erakel realmente acreditava que era ele o culpado pelo que lhe havia acontecido, e Allin também sabia que não era bem vinda, e tinha de pensar em alguma maneira de livrar magnus do trato que havia feito. Erakel estava, agora, finalmente sozinho, como estava planejando. Era hora de pensar no que estava acontecendo, e assimilar todas as informações que havia recebido.

Como Marcos havia dito, e Allin confirmado, Amanda pode não estar morta. Há alguém querendo mata-lo, e não há pistas de quem possa ser, menos uma: Magnus o havia traído, crucificado e, depois, agia como se nada estivesse acontecendo. O que havia de errado nisso tudo? Quem era realmente o verdadeiro culpado?

Pensava fixamente em tudo o que havia acontecido nos últimos dias, e dormiu, ainda com esses pensamentos na cabeça, sem nem imaginar que estava prestes a descobrir a verdade de tudo o que estava acontecendo.

Eduardo Setzer Henrique
Enviado por Eduardo Setzer Henrique em 28/11/2006
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