QUANDO ELES VÊM À NOITE

Desde que meus filhos se casaram e meu marido morreu vivo só nesta casa, digo que estou sozinha, mas na verdade são muitas as pessoas que reencontro nesta solidão. Quantos rostos, quantas conversas e histórias uma pessoa na minha idade tem para lembrar? São muitos lugares, muitas vidas que se cruzaram com a minha. Hoje passo os dias e as noites a guardar as saudades, penso que mais minha que dos outros. Sinto falta das ilusões, da juventude e de como tudo parecia ser bom, e os sorrisos eram fáceis, e a solidão era apenas uma palavra.

Quando era jovem sabia que iria ser velha e antevia isso antes de tudo com alegria, nunca tive medo da velhice e tinha certeza que seria uma velha melancólica, por isso, quando conhecia uma pessoa que gostava, via logo que um dia iria sentir saudade dela.

Vivi tanto que quase todas as pessoas amigas já morreram. E para os lugares que conheci não posso mais ir, pois não posso mais andar. Ainda bem que toda noite essas pessoas que desapareceram me visitam, chegam todas jovens e alegres, falam e riem muito, lembram do passado e nós ficamos assim a noite inteira. Quando amanhece, elas vão embora e eu fico novamente sozinha, esperando que a noite chegue para elas me levarem.

Nadja Claudino
Enviado por Nadja Claudino em 19/06/2011
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