Amor Maior Que a Morte Inteira...

Segurou-lhe forte a nuca e encostou os lábios lentamente em seu pescoço. Ao contrário do que os outros de sua espécie fariam, controlou seus instintos e não fincou os seus caninos na jugular do amado com toda sede e voracidade das criaturas noturnas. Esperou que ele fechasse os olhos num sinal de desejo, confirmando a entrega aos carinhos dela, fria e tão contrariamente à sua respiração, ela fura-lhe o peito com suas garras afiadas pelo doce sabor de sua vingança, e arranca-lhe o coração inteiro. O amava de forma indefinível. E de tão indefinível sentia-se incurável por toda sua vida infinita. Ela jamais desejaria a ele o mal dessa eternidade que carregava em si, mas ao mesmo tempo se via já sem condições de continuar convivendo com o “não amor” dele por ela. Deitou o corpo dele sem vida e marcado pelo seu batom vermelho na mesa. Serviu-se de vinho e saboreou lentamente o seu jantar. Rendida à seu mais sublime sentimento. Talvez o único que ela tinha. Houve uma lágrima, uma só. Mas a expressão era fixa: elegantemente olhando para o nada enquanto comia cru o coração do único amor em todo os 350 anos da sua “não vida”.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 19/06/2011
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