O velho assassino

Pode parecer uma história surreal, mas quantas pessoas conhecem um ex-assassino profissional, de 63 anos, aposentado? E quantos, por infortúnio do destino, acabaram sendo despachados pelos filhos para um asilo cheio de outros velhinhos moribundos? Bom esse sou eu, e meu nome é Herold Skreeg.

Vou tentar resumir um pouco a história da minha vida para vocês. Eu comecei minha carreira no ramo de assassinatos por volta de 1967, como um assassino de aluguel. Logo mais tarde, em 74, fui contratado, e muito bem pago, para me tornar assassino profissional da máfia. Tenho que admitir que nasci com o dom para matar pessoas, nunca achei trabalho que fosse tão prazeroso e ao mesmo tempo me pagassem tão bem. Quando constitui uma família com minha amada esposa, precisei esconder esse segredo dela e de meus 2 filhos. Para eles eu era somente um sócio do dono de uma empresa industrial, o que caia como uma luva, já que o pagamento que eu recebia por assassinato era quase o mesmo comparado ao salário dos manda-chuvas das grandes empresas, e por sorte, minha esposa nunca demonstrou curiosidade em conhecer meu suposto "local de trabalho". Quando me aposentei, em 92, pensei que finalmente poderia viver minha vida de rei e esquecer minha vida de matanças. Infelizmente o destino sempre aparece com suas reviravoltas, e no meu caso, me arruinou. Minha esposa falecera e isso me deixou muito abatido. E o amor que eu nunca dei aos meus filhos, foi retribuído quando eles decidiram que estava na hora de eu ir para um asilo. Eles nem se preoucuparam, simplesmente escolheram o asilo mais longe e barato para que não precisassem me visitar. Hoje penso se isso seria algum castigo divino por ter matado todas aquelas pessoas em troca de dinheiro.

E aqui estou, preso nesse inferno! Talvez até mesmo o inferno seja melhor do que esse lugar. É sério, somente os velhos mais inúteis, doentes, com problemas na cabeça ou aqueles que foram abandonados pela família( no meu caso) vem parar num asilo, quero dizer, esse lugar é um tipo de presídio, nós idosos não podemos sair daqui e ir para onde quisermos; também parece um velório, só vejo rostos depressivos, lamentando pelas coisas que não fizeram durante suas patéticas vidas onde agora o que lhes resta é esperar pela morte; sem falar que é um hospício, esse lugar só tem malucos; a única pessoa com que tenho uma conversa sensata é o médico que vem nos visitar mensalmente.

Nessas horas me orgulho de mim mesmo, percebo que não sou um velho imprestável, estou em boa forma física para alguém de minha idade, sem mencionar que ainda estou lúcido e esperto como uma raposa. Infelizmente isso não resolve meus problemas pessoais com os outros idosos desse lugar. O meu colega de quarto, Igor Heath, é um pé no saco. Faz 4 dias que não consigo dormir, porque ele fica gritando histericamente e sem sentido algum, durante as noites. Eu já reclamei com as enfermeiras, mas elas não se importam. Tentei então conversar com o Igor, mas tudo que consegui foi perder meu tempo. Aos poucos ele foi me tirando do sério, depois das gritarias, ele criou uma mania irritante de pegar minhas coisas de higiene pessoal e usá-las. Depois disso, peguei ele 3 vezes dormindo na minha cama, porque ele tinha mijado na cama dele e molhado tudo. Bom, eu resolvi relaxar e refletir sobre o que eu deveria fazer, e cheguei á conclusão de que o melhor seria matar o pobre Igor. Durante a madrugada, enquanto ele dormia graças aos calmantes, eu peguei meu travesseiro e pressionei contra o rosto dele, sufocando-o até o momento que ele parou de se debater. Nunca dormi tão bem antes.

No dia seguinte quando encontraram Igor, morto na cama, nem suspeitaram de assassinato, simplesmente acharam que a hora dele havia chegado. Isso me fez pensar, o quão simples foi matar alguém sem nem mesmo me preocupar em ser pego, afinal, todos os velhos foram deixados aqui para apodrecerem. Nínguem se importa se eles morrerem, não haverá perícias, investigações, nada. Como eu disse, são só velhos moribundos. Vendo por esse lado, decidi então que estava na hora de vestir meu manto negro, pegar minha foice e acabar com o sofrimento dos velhinhos desse asilo. Depois do Igor, eu me livrei da Charlotte. Aquela velha gorda era muito chata, não me admira o porque abandonaram ela aqui, ela sempre me tirava à força o controle remoto da sala da tv, sem educação alguma, e eu não podia fazer nada já que ela era hipertensa e as enfermeiras falavam para não estressarmos ela. Eu resolvi então dar uma morte digna, fazendo ela engolir as pilhas do controle remoto, e pra temperar, acrescentei 5 colheres de sal. O estrago que a radiação das pilhas fizeram no estômago dela foi crítico. Quando descobriram a causa da morte, acharam que em sua obsessão pelo controle remoto, ela haveria engolido as pilhas achando ser outra coisa. E eu sai impune mais uma vez. Desse dia em diante eu passei de um prisioneiro do inferno à carrasco.

Já faz um ano que as mortes dos idosos nesse asilo deixaram de ser naturais. Eu começei fazendo uma lista, com o nome dos meus alvos, detalhes sobre eles, anotações importantes, e para me prevenir caso alguém encontrasse essa lista, escrevi ela em códigos dos quais só eu sei decifrar. Aos poucos eu fui dando um fim à cada um dos velhotes que tornavam esse lugar mais desprezível ainda. Precisei tomar cuidado, já que muitas mortes consecutivas levantariam suspeitas e sempre tive que fazer com que elas fossem acidentais ou naturais, fora limpar as evidências. As coisas ficaram ruins quando uma nova enfermeira, Meg Blossom, começou a sismar em tomar conta de mim, sempre por perto, de olho, me vigiando. Ela começou a xeretar minhas coisas, estava se tornando incoveniente, e eu precisava tomar uma atitude antes que ele acabasse descobrindo alguma coisa. Planejar a morte dela exigiu muita cautela e precisão, e eu tinha que fazer direito. Com sorte roubei uma das chaves para o vestiário das enfermeiras e consegui pegar um dos cutelos da cozinha. Só havia 3 enfermeiras no turno da noite e Meg era uma delas. Tudo que precisei foi esperar ela ir para o vestiário sozinha, e quando o fez, eu entrei lá e tranquei a porta por dentro. Ela estava nua, distraída, tomando seu banho em um dos chuveiros, até que eu peguei ela de surpresa por trás. Tentei dominá-la, mas eu já não era tão jovem e forte como antigamente, então precisei quebrar o seu pescoço. A parte mais difícil veio depois disso, quando eu precisei cortá-la em pedaços com o cutelo para esconder os restos em sacos. Não foi uma tarefa fácil, ainda mais para mim, sentindo as costas doerem de ficar tanto tempo agachado, limpando o sangue do piso, e de perder o fôlego carregando os sacos com os membros dela até o depósito de lixo, na parte de trás da cozinha do asilo. Levei 5 horas para terminar o serviço, e as outras 2 enfermeiras que estavam de plantão só não apareceram graças à o residente do quarto 14, que era o mais doente de todos e sempre precisou do auxilio de duas enfermeiras, fora os cuidados extras. Como eu disse, sou um homem precavido, e para ter certeza que o residente do quarto 14 daria problemas para as enfermeiras naquela noite, tive que trocar os medicamentos dele na parte da tarde do mesmo dia.

Meg foi dada como desaparecida após 3 dias. Até hoje não acharam o corpo dela. A polícia local passou pelo asilo para fazer uma perícia, vasculharam o lixo, mas já era tarde demais. O caminhão do lixo já havia levado o corpo dela há muito tempo. Depois que me livrei daquela bisbilhoteira, continuei com minha matança de velhinhos. Somente os melhores da cabeça e aqueles que não me incomodavam eu deixava vivos. Assassinatos deixaram de ser meu ofício para se tornarem meu passatempo, um hobbie. Agora eu penso que esse talvez fosse o plano de Deus, me tornar um assassino para que eu pudesse dar um fim digno à vida das pessoas, para que eu as tirasse dessa vida cheia de sofrimento e as mandassem para o paraíso. Eu sei que não tinha o direito de tirar a vida delas, mas no final eu sei que se eu me arrepender, ele irá me perdoar. Mas por enquanto ainda tenho mais alguns nomes na lista para terminar.

Espero que nínguem jamais encontre essas anotações. Espero que eu possa levar esse segredo comigo para a cova e que as pessoas nunca mais ouçam falar no nome Herold Skreeg novamente.

Gabriel Almeida
Enviado por Gabriel Almeida em 19/07/2011
Reeditado em 01/09/2011
Código do texto: T3105425
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.