PORTA ENTREABERTA

PORTA ENTREABERTA

Sergio Pantoja Mendes

... é noite. Uma densa, negra e invernal noite, no caminho que traço.

A fresta de uma porta entreaberta, me atrai. Espio... Sorrateiro e curioso, pela fresta espio. Um vulto rápido, no interior, se faz mistério. Uma sombra fugidia, se esconde... na penumbra se esconde... Onde? Pra onde foi ela?... A angústia, de não saber o desconhecido, se soma ao imediato medo... Quê mistérios, guarda o vulto furtivo, que vi de passagem?...

Paro... Indeciso paro... Mas o quê faço aqui?... Sigo? Volto? Entro?... Decido e me ponho a caminho então... Ando até a porta que me chama, que atiça a minha curiosidade... Vacilo... Por quê me importa o vulto das sombras?... Respiro... Na noite densa e pesada, medroso bem fundo respiro. Mais e mais me aproximo...

Na porta, uma placa com uma inscrição que não lembro, mais me intriga. Entro... O medo ancestral me invade. Me domina, agora... Uma presença que apenas pressinto, diáfana, se afasta e se perde na escuridão ambiente... Outras presenças, sensórias, me oprimem... todas se afastam, mas ainda me oprimem... Fico só... Quê criaturas, aqui se escondem? Quem ou o quê, são esses vultos camuflados, na noite pesada?...

Tento fugir... me perco na escuridão e não mais encontro a porta... vejo somente, uma réstia de luz que nunca alcanço... mas... de repente... outra porta entreaberta... outra réstia de luz... meu medo mais se assanha... passo?... retorno?... Mas retornar para onde?... Um impulso, me dirige àquela réstia de luz esmaecida. Decidido, atravesso a porta. Estou agora, em um salão murmurante. Em torno de mim, todos os vultos encapuzados e sombrios que pressenti, estão parados e pronunciando coisas que não entendo... Quem ou o quê, são aqueles seres?... Por quê me assustam?... Por quê me atormentam?...

De repente, um deles levanta um braço e me aponta um dedo. Logo, um outro repete os mesmos gestos. Depois outro... e outro... e mais outro...

Meu corpo sua e treme medroso; agora eu entendo... Para cada dedo que me é apontado, uma chaga em meu corpo se abre... Aterrorizado, tento fugir; mas estou paralisado... Quero gritar, mas meu grito está sufocado... Todos os seres ali, ainda me apontando e sussurrando, começam a planar em minha direção... Então, desesperado, lembro. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu lembro... lembro da inscrição, na primeira porta entreaberta... os vultos sombrios, chegam até mim... então... acordo...

Sergio Pantoja
Enviado por Sergio Pantoja em 24/07/2011
Código do texto: T3116273
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