O fantasma do shopping

 

(continuação)

 

Eu não morri.

 

 

Depois que minha amiga jurou por tudo quanto é santo que eu continuava vivinha da silva, acreditei. Ao voltar pra casa e ver que nenhum familiar levou susto comigo, me convenci. Chegamos à conclusão de que aquela outra é que devia ter morrido e agora andava por aí a me assustar. Mais provável é que ela fosse minha irmã gêmea, surrupiada diretamente da sala de parto por uma malvada mulher travestida de enfermeira. Naquela época não havia ultrassom e possivelmente minha mãe nem sabia que esperava dois filhos de uma vez. Fazia tanta força, coitadinha... que dor... que dificuldade... já estava até grogue... Como o primeiro dos bebês sumiu misteriosamente, o médico também atordoado achou melhor não dizer nada. Ou talvez estivesse de conluio com a dita enfermeira. O fato é que calou-se para sempre, pois logo depois veio a falecer e ninguém jamais desconfiou de coisa alguma. Só eu mesma é que devia guardar lá no íntimo a lembrança nebulosa de uma companheira, afinal de contas, aos chutes e cotoveladas havíamos disputado o mesmo pequeno espaço durante meses... Mas também podia ser que tudo isso tivesse se dado ao inverso. E se fosse eu o bebê roubado?... Agora era uma e questão de honra. Eu precisava reencontrar aquela mulher de qualquer jeito, fosse ela um fantasma ou alguém de verdade. Saber se ela era eu, ou se eu era ela é o que mais importava.

 

Por essas e outras, resolvemos voltar ao shopping. Antes, porém, decidi me ‘repaginar’.