UM VAMPIRO PARA CHAMAR DE MEU

Sempre fui apaixonada por vampiros. E meu sonho era conhecer um...

A gritaria foi grande quando minhas primas descobriram um morcego na biblioteca da fazenda da minha avó. Estávamos passando as férias (monótonas) de verão lá e encontrar um morcego nos tirou do tédio. Logo minha mente criativa começou a imaginar mil coisas. E se o tal fosse um vampiro? Tipo aquele do Crepúsculo? Mesmo sabendo ser impossível, não descansei. Passei o dia todo disfarçando, indo na biblioteca verificar se o vampiro continuava lá. Quem sabe ao cair a noite ele não se transformasse em um vampiro super sedutor?

Meu sono chegou próximo da meia noite e era tanto que cerrei os olhos assim que pus minha cabeça no travesseiro. Porém, menos de meia hora depois, despertei com alguém me chamando.

- Helena…

Era como se o meu nome estivesse flutuando no ar. Minhas primas, ao lado, dormiam. Não tinham escutado nada. Fiquei em pé, tensa. A voz era suave, mas ao mesmo tempo viril.

- Helena…

Meus pelinhos do braço se arrepiaram. Eu não sabia de onde vinha a voz. Abri a porta, deslumbrada. Certamente o morcego havia se transformado em um belo vampiro. Minhas pernas trêmulas me levaram até a biblioteca. O lugar não estava totalmente escuro quando a porta se fechou atrás de mim. Sobressaltei-me. Uma mão forte pousou no meu ombro e eu fechei os olhos, totalmente enlevada. Achei que fosse cair, mas ele me segurou no exato instante em que meus joelhos dobraram.

Talvez eu tenha desmaiado por alguns segundos, pois quando me dei conta eu estava nos braços do vampiro, aconchegada ao seu peito frio. Os olhos amarelos dele brilhavam na escuridão e liam meus pensamentos mais libidinosos. “Sim, eu quero ser sua. Sugue meu sangue, não me importo.”

Jamais imaginei que pudesse existir no mundo das trevas um vampiro tão belo. Seus cabelos desciam em cascatas até os ombros e seus lábios que muito em breve beijariam meu pescoço eram carnudos na medida certa. Além de tudo, o vampiro me segurava firmemente como nenhum outro garoto jamais havia feito.

- O que você quer de mim? - sussurrei, deslumbrada.

Ele não respondeu. Fechei meus olhos novamente e logo senti os seus lábios de gelo no meu pescoço. A dor veio misturada ao prazer. No início, senti medo. Até tentei me desvencilhar. Porém, a sensação de ter meu sangue sugado pelo vampiro era incomparável. Nunca senti nada parecido na vida.

-Por favor, não pare jamais…

O vampiro não parou. Entreguei-me a ele, sabendo que em troca eu o teria pela eternidade afora. Pouco me importava ser uma criatura da noite, desde que eu me tornasse a esposa do príncipe das trevas.

Acordei-me jogada no chão da biblioteca mal entrou o primeiro raio de sol pela veneziana. Fiquei em pé, rapidamente. Vampiro como eu era, o sol agora era meu inimigo mortal. Mas… o que eu ainda estava fazendo ali? Por que meu adorável vampiro não havia me levado com ele?

Meus dedos tatearam meu pescoço, na busca da marca dos caninos. Nada. Não era possível! Eu ainda sentia os lábios gelados dele na minha pele! Teria sido… um sonho? O morcego não se encontrava mais no teto. Injuriada, voltei para o quarto. A fazenda dormia e eu decidi que não contaria aquilo para ninguém. E quem iria acreditar em mim?

Passei o dia todo me sentindo estranha. Era como se o vampiro estivesse sempre ao meu lado. Meu corpo o desejava e muitas vezes procurei a marca das mordidas no meu pescoço para ter certeza de que realmente elas não estavam ali. Para cada canto que eu olhava, tinha a nítida sensação de que havia algo a minha espreita. E bem poderia ser verdade, pois não havia sol naquele dia. A chuva começou a cair forte no início da tarde e não parou mais.

Anoiteceu mais cedo e fui tomar um banho para me acalmar. Tirei minha roupa, lentamente. Como eu desejava que ele me atacasse pelas costas e me possuísse ali mesmo, no chão do banheiro. Na frente do espelho, excitada com aquele pensamento, toquei no meu corpo procurando o prazer. Eu precisava me acalmar para minha noite não correr o risco de se tornar um inferno.

De repente, fui jogada no chão violentamente. Bati a cabeça no piso frio e acho que fiquei desacordada por um minuto ou dois. Quando comecei a despertar, a primeira coisa que senti foi uma pressão no meu corpo e lábios próximos ao meu pescoço. Era ele, meu príncipe.

- Meu amor… você voltou para me levar.

Abri meus olhos, sonhadora e apaixonada. E dei um grito de pavor. Não era meu vampiro que me seduzia naquele momento. Era… era uma vampira! Enojada e com medo, tentei lutar com aquela bela criatura de cabelos vermelhos de fogo. Não era possível uma coisa daquelas estar acontecendo. Que brincadeira de mau gosto era aquela?

Os olhos amarelos da vampira encararam-me profundamente antes dos seus lábios começarem a ir muito lentamente em direção ao meu pescoço. Tive um momento de dúvida antes de começar a me debater de novo.

- O que você quer?- perguntei, sufocada pelo terror.

- Você - ele respondeu - Sua alma, seu sangue, sua vida.

A voz da criatura era doce e rouca. Fiquei balançada. Ela acariciou meus seios antes de investir novamente no meu pescoço. Sim, eu estava fraquejando. Eu estava gostando! Não podia admitir aquilo, mas aos poucos, fui deixando de lutar para me afundar em um prazer nunca antes imaginado.

Não sei quanto tempo durou, mas quando me dei por conta eu já era uma criatura das trevas. Desde então, vagueio pela terra com minha companheira, em busca de sangue, prazer e dor. Mesmo que pudesse, não escolheria outra vida. E é com ela que quero passar toda a minha eternidade.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 29/08/2011
Reeditado em 13/01/2012
Código do texto: T3189248