DETALHES DO DESTINO

 


 
Não se passou um dia que não pensasse em Armando, isto me perturbava muito, mas justificava para mim mesmo que era por ele ter algo especial que me pertencia. Era o vaso que me levava a pensar nele, claro que era.
De sexta para sábado acordei com uma mão suave deslizado em meu corpo e estremeci de prazer, virei o corpo e fiquei chocada com a visão de Victor no meu quarto.
_Você?
Victor mudou o semblante feliz, deixando formar uma ruga entre os olhos.
_Como assim Sabrina, quem mais poderia ser?
_Desculpas querido, e que esperava ir te buscar no aeroporto e me assustei, só isto.
Eu mesma fiquei perturbada com a minha facilidade de mentir agora; na verdade pensei ser Armando. Dormia e acordava pensando nele, sonhava com ele, queria que fosse ousado, abusado e me beijasse, nem que fosse uma única vez.
Victor me abraçou e disse estar louco de saudade e suas mãos continuaram percorrer meu corpo, mas eu disse:
_Victor meu querido, me deixa escovar os dentes e tomar um banho, acabei de acordar.
_Claro que sim, estou louco por um banho também.
Victor me despiu lentamente, beijando meu corpo quente e se excitando cada vez mais, me empurrou para o Box e abriu o chuveiro, começou a me ensaboar e deslizar seu corpo no meu.
Eu estava sedenta de carinhos e foi fácil corresponder aos apelos de Victor com a mesma intensidade de todas as outras vezes em que fizemos amor.
Sempre ouve uma química intensa entre nos dois e isto era tudo. Depois tomaríamos um banho, vestiríamos nossas roupas e sairíamos para um lugar publico; um bar, um restaurante, um cinema. Éramos os candidatos certos para o casamento para todo sempre conformados. Não tinha duvidas que logo isto tudo fosse rotina em nossas vidas. Victor sempre ia viajar e me deixar só, eu teria que cuidar do lar, ele não queria que eu trabalhasse mais, só me restaria ter filhos e morar no castelo de sonhos, sonhos que poderia ser meu pesadelo pelo resto de nossos dias. Até que ponto a solidão pode nos escravizar a um relacionamento assim?
Eu me tornei a bonequinha de luxo de Victor, ele me dava de tudo e eu aceitava suas condições para tê-lo por perto vez ou outra. O pedido de casamento veio no dia do meu aniversário, aceitei como presente que caiu do céu. Eu pensei que nada me valia mais que ele, e que poderia seduzi-lo todos os dias e ser feliz para sempre. Mas com o passar do tempo vi Victor se afastando cada vez mais e seu trabalho sugando todas as suas energias. Perdi a conta das vezes que ele dormiu em meu colo depois de transar comigo como um coelho. Mas para o trabalho estava sempre atento, era um empresário de sucessos e era o melhor partido para alguém que só enxergasse os cifrões como felicidade. Não era o meu caso, era simples, gostava de coisas boas e admirava o belo, mas jamais me casaria só por dinheiro. Conversei sobre isto com Victor que não me deu muita atenção, apenas sorria e dizia que me amava cada vez mais. Sabe o que isto significava para mim? Que Victor se sentia o todo poderoso e que eu só fazia aumentar seu ego, ele pagaria caro por mim e me tinha de graça.



 
Como previsto poucas horas depois já estávamos na casa dele numa piscina enorme e sendo servidos de um café da manhã farto.
Eu sempre pensativa, olhando tudo como se estivesse ali pela primeira vez. O telefone de Victor sempre tocando e ele sempre se afastando para atender.
Pensei em Armando ali sozinho, quebrando a cabeça com o arranjo da noiva e deixei um sorriso bobo desenhar-se em meus lábios.
_Victor, eu e você precisamos conversar.
_Mais querida? O que falta agora para seu casamento ser um sucesso?
_Meu Victor? Não deveria ser o nosso casamento? Realmente quero conversar com você antes de fazer uma loucura.
_O que anda fazendo Sabrina? Por que isto agora sabe que não tenho tempo para estes detalhes de noivos. É só pedir que arrume alguém para fazer, pagamos tudo e pronto. Que neura a sua. Acabei de chegar e estou cansado.
_Cansada estou eu de fazer papel de boba, Victor, não disse que para mim é só ir ao civil e pronto, quem inventou esta cerimônia foi você para agradar seus pais.
_Ah Sabrina, já esta indo longe demais com suas crises, nada de colocar a família nisto.
_ Já estão Victor, já estão todos envolvidos no meu destino. Falei já chorando e sai de perto dele.
Ele me chamou de volta com autoridade, me fez tremer de medo quando pegou firme em meu braço e vi outro homem ali.
_Não me faça de besta Sabrina, desde cedo que te notei diferente, não ficou feliz com minha surpresa hoje cedo e está ai sonhado acordada que notei. Não pensa que só porque estou recebendo telefonemas não te vejo, estou de olho em você.
Chorei sem coragem de me defender e sem ação nenhuma para fazer algo naquele momento.
Olhei nos olhos vivos de Victor e com os lábios trêmulos disse:
_Me perdoa Victor! Está tudo bem, o que quer fazer agora, vamos passar o dia aqui em sua casa?
Ele me abraçou e segredou em meu ouvido: “Eu te amo Sabrina,” Depois olhando em meus olhos disse: _Tenta entender minha vida querida, não posso deixar de trabalhar só porque vou me casar, estes telefonemas são contatos importantes para a empresa.
Ele estava certo do ponto de vista dele, eu precisava ser mais compreensiva e ir à onda mansa ou abandonar o barco antes de naufragar.


 
O grande dia chegou, estava vestindo um vestido lindo na cor perola e meu arranjo foi cuidadosamente feito com rosas brancas e um laço perola.
Todos os convidados estavam já aguardando a entrada da noiva.
Da janela do quarto onde me arrumei o mestre de cerimônias olhou e me disse:
_Esta lindoooo! Quer espiar um pouco? Entregou-me um binóculo e me disse que o noivo estava do lado esquerdo da nossa visão.
Olhei e vi Victor conversando com seu padrinho, seu irmão mais velho que chegou dias antes. Vi papai encostado num carro sem a menor vontade de participar. Sorri ao vê-lo ali e pensei que tinha onde puxa a teimosia. Do lado da mãe de Victor estava minha mãe linda e serena como se a vida fosse sós flores.
Olhei atentamente para o altar e não tinha certeza de ver o vaso, então perguntei para o rapaz do cerimonial se ele tinha certeza dele está lá.
-Vou conferir senhorita Sabrina e já volto.
Fiquei sozinha e observei mais e mais, não vi Armando ali, não veio? Será que trouxe o vaso e foi embora?
Julio voltou com a boa noticia, o vaso estava lá e estava um encanto. Hora de descer e seguir meu destino. Victor já mostrava impaciência.



 
Ao som da marcha nupcial entrei até a metade do caminho, meus olhos observava cada detalhe ali, as hortênsias estavam lindas e no tapete vermelho tinham pétalas de rosas brancas, não pedi isto, mas tudo bem, eu dispensei floristas e até que ficou bonito.
Victor veio me receber dos braços de meu pai que me abrando segredou-me: “Filha tem certeza”? Sorri e disse “Pai, pai, se comporta”.
Bom para Victor que me pegou com um sorriso lindo nos lábios pensava que eu estava feliz e deveria estar. Mas estava apreensiva e queria visualizar logo o altar para achar um detalhe do destino que me fizesse acreditar que eu ia ser feliz. Minha avó me dizia que casamentos podem terminar na porta da igreja, mas não se pode ser infeliz uma vida toda que também pode ser curta se não for bem vivida.
Fim da caminhada.
_Amigos e parentes de Victor e Sabrina estamos aqui para juntos oferecermos estas vidas no altar de Deus rogando a eles eternas felicidades...
Um vento soprou levemente a cortina que ficava atrás do altar, os cabelos da mãe de Victor sofreu um leve desarranjo que ela fez questão de ajeitar. Seu braço tocou no arranjo lateral a mesa do altar e uma rosa branca despencou caindo aos pés de Victor. Ele abaixou e pegou e sem saber o que fazer com a rosa tentou fincá-la no vaso divino de rosas brancas e hortênsias que Armando me presenteara. Tudo se passou em segundos e vi meu vaso cair e não contive a perda e segurei-o rapidamente em minhas mãos, deixando meu buque de noiva no chão.
Victor me olhou pasmo e sussurrou: “Larga isto!”
Meu buque foi pisado por mim quando tentei voltar ao meu lugar. Ouvimos sussurros dos convidados.
Olhei para trás pedindo socorro a um anjo qualquer, mas que se chamasse Armando. Não estava ali, ele não veio. Não se importava comigo. Uma lagrima se fez e caiu no arranjo em minhas mãos.
_Podemos continuar, perguntou o pastor sem entender nada e procurando ser discreto.
Olhei novamente para o buque de rosas brancas todo desfeito no tapete vermelho, vi o tapete como sangue sugando as rosas brancas.
Em minhas mãos o vaso de Armando, um detalhe não visto por mim, um pequeno papel dentro, aberto dentro de um vão das hortênsias. “Se me ama verá isto antes do sim”. Sorri e senti meu coração palpitar forte.
Disse baixinho: “Victor me perdoa, não quero me casar, não seremos felizes”.
Victor ficou pasmo e me seguro forte nos braços e disse: “Não me faça de palhaço Sabrina, eu te mato aqui mesmo.”
-Mata não Victor, do seu lado eu já estava morta. Me deixa partir e seja você feliz, pouco te falta, apenas um ornamento para sua vida, uma mulher objeto é fácil comprar.
Virei às costas e sai de cabeça erguida diante de muitos olhares.
Papai me pegou pelos braços e me conduziu até seu carro e nada falou enquanto dirigia. Quando virou uma curva tomou um caminho diferente e sorrindo me disse:
_Dessa princesa, ele esta a alguns metros daqui.
_Como pai?
_Sabrina meu anjo, além de um bom policial sou um bom pai, segui você, percebi que andava estranha, e conheci Armando filha. Ele te ama de verdade, só me pediu para colocar o arranjo na mesa e nada te dizer. Disse-me que os detalhes é por conta do destino.
Sai quase correndo e vi Armando encostado em seu carro. De longe senti sua energia me buscando.
Abracei-o como quem resgata a alma e fui beijada como quem recebe o fôlego de vida.
Colocamos o arranjo de flores no carro e saímos dali.
Armando me levou para um hotel, já tinha colocado a sua casa a venda; não poderíamos morar ali mais, íamos decidir juntas nossas vidas.




 
Armando sorrindo desfez o arranjo e jogou as pétalas perfumadas de rosas na cama forrada com um lençol de seda lilás, e me despiu com carinho, saboreando todo meu sabor de anjo arteiro, e feliz por ser conduzida por ele para uma noite de amor intenso e prazeroso, nunca antes vivida por mim.



FIM
 
Obrigado por acompanhar meu texto.
 
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PRIMEIRA PARTE


SEGUNDA PARTE
Simplesmente Sys
Enviado por Simplesmente Sys em 15/10/2011
Reeditado em 15/10/2011
Código do texto: T3278842
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