A Bailarina, Romance, Cap. XIII

Da janela do táxi que deixava o Morro do Aipim em direção ao hotel, Marluce imaginava o friozinho que sentiria se estivesse andando na calçada naquela temperatura de talvez 18°. Não viu qualquer mendigo, como o que implicara com as duas bailarinas de Afonso antes de embarcarem para Blumenau. E nem meninos de rua que certamente não se encantariam com o muro baixo de hortênsias que se estendia diante da fachada de uma bela residência. Vilma ia na janela do outro lado e Ingrid no meio das duas. Na frente, comprimindo-se ao lado do motorista, iam Érica e Camila, mais jovens que as outras duas e mais magras também.

-O moço bonito de terno não apareceu dessa vez, comentou Vilma.

-Você bem que tava marcando, não é, Vilma?, observou Camila.

-Parece que isso é uma espécie de moda agora, não acham?, perguntou Ingrid.

-Nunca vi desse jeito. Pelo menos lá na cidade, respondeu Vilma, que fingia não perceber Ingrid e Marluce de mãos dadas.

Marluce mantinha-se calada e surpresa por estar aceitando o calor da mão de Ingrid sobre a sua. Definitivamente reconhecia que seu estado não era aquele em que chegara em casa na primeira noite em que saíra com a professora. Apesar de todo o vinho que bebera lá no Morro do Aipim. Mas percebia também que a possibilidade de uma crescente excitação a partir daquele afago poderia vir a ser provocada pela bebida que ingerira, por menor que tivesse sido a quantidade. Como também por toda aquela movimentação festiva que criava a expectativa de momentos mais festivos ou prazerosos que não poderiam ser descartados. A confirmação dessa hipótese era a lembrança da referência que fizera, com toda a consciência de que Ingrid perceberia, à pele sardenta da professora, objeto da sua maior atração. E eu não estava bêbada. O que teria sido provavelmente muito mais delicioso.

Os táxis chegaram ao hotel quase que ao mesmo tempo. Afonso, Marcel e os assistentes resolveram tomar um café no bar antes de subir. Vilma decidiu acompanhá-los, deixando que Érica e Camila subissem sozinhas. Marluce preferiu deter-se numas esculturas exibidas na continuação do hall, ao lado da recepção. Estava perfeitamente consciente da impaciência de Ingrid em se dirigir à suíte, tendo verificado que ela obtivera o cartão magnético de acesso na recepção antes de todos.

-A Vênus de Milo sempre será clássica. Fica bonita em qualquer réplica, aproximou-se Ingrid, disfarçando no que podia a vontade de subir.

-Soa algo assim como “quem é rei, nunca perde a majestade”. Talvez um lugar-comum, não é?

-Não, não. É perfeito. Note que nesse caso sempre e nunca se confundem. Mas, eu diria que quem é plebeu nunca perde a ansiedade. A escultura está à venda?

-Não sei. Só perguntando na recepção.

-Você quer ficar com a peça?

-Não, não. É que gosto muito de esculturas.

-Tem outra aí que possa lhe interessar?

-Em exibição, numa situação de inércia, não.

-Por que? Há alguma outra em movimento? Alguma imagem num telão?

-Não sei. Só perguntando ao vento. Ou ao piloto do avião.

-Vamos voar então?

-Sim, vamos subir.

Um minuto no elevador sem dizerem palavra. Mas quando a porta se abriu no nono andar, as duas se beijavam calorosamente. Sem medo do testemunho de alguém. No corredor vazio, Marluce tirou os sapatos. Queria sentir os pés descalços sobre o tapete macio. Viu uma bandeja com duas taças de cristal e uma garrafa de vinho na porta de um dos apartamentos standard. Pegou uma das taças. Seria um souvenier. Ingrid, enquanto isso, cada vez mais impaciente, tinha dificuldade em abrir a porta da suíte com o cartão magnético. O que foi superado depois de mais alguma insistência.

Finalmente a sós, Marluce ainda inventou um banho quente. Quando regressou do banheiro, encontrou Ingrid recostada à cabeceira da cama, o fino vestido azul de alças ainda no corpo, uma das pernas no chão.

-Agora vou eu, anunciou Ingrid.

-Não, você não precisa, disse Marluce, deixando cair a felpuda toalha em que vinha enrolada.

A contemplação do corpo de uma menina clara e morena de 17 anos: os cabelos negros ultrapassando os ombros; os bicos dos seios duros e vermelhos encimando uma protuberância pequena sobre um monte maior; a barriga lisa compondo um desenho de Vênus com as curvas definidas da cintura; as pernas longas e torneadas e entre elas a vegetação negra escondendo lábios de um sabor cujo pecado maior seria não ser conferido.

Marluce aproximou-se devagar da cama, como faz o atacante que não conhece a capacidade do oponente. Ingrid levantou-se não para reagir, mas para recebê-la com todo o poder de confraternização e leveza que pudesse ter o amor profano, o amor não fálico, o amor entre duas mulheres. O beijo mais uma vez prolongado, impossível agora de ser testemunhado, como o do elevador, as línguas tocando os céus das bocas, saindo depois para os olhos, a ponta do nariz, o lóbulo das orelhas. Marluce, sempre cheirando, inspirando fundo e soltando o ar pela boca, resquícios talvez da preleção de Afonso, começou a descer as alças do vestido de Ingrid, na ânsia de se deparar com aquela pele sardenta cujo cheiro haveria de reter no fundo das narinas assim como no limiar da imaginação. Neste último caso toda vez que estivesse ausente a parceira.

Ingrid sentiu nos braços a pressão dos dedos de Marluce e nos seios, ainda protegidos, o calor da respiração da aluna, cuja intenção era fácil de se perceber. Livrando-se do soutien, depois de afastada a pressão dos dedos que continham seus braços, Ingrid permitiu o acesso a Marluce, deliciando-se com uma avidez a que não estava habituada. Não havendo então mais motivos para conter o desejo de tocar a mata espessa no ventre de Marluce que, para a facilitação do intento, subiu uma das pernas para a cama, mantendo a outra no chão. Os dedos de Ingrid numa procura febril pelo clitóris de Marluce, demorando-se bastante na sua fricção depois de tê-lo encontrado.

-Espere um pouco. Quero você sem calcinha, disse a aluna.

Ingrid surpreendeu-se. Não esperava que Marluce pudesse assumir o comando. E nem que pudesse ser tão agradável admitir a receptividade que aquele comando passava a ter.

-Senta agora sobre o travesseiro, ordenou Marluce como se estivesse habituada a dar instruções.

Estendendo-se sobre a cama entre as pernas de Ingrid, Marluce demorou-se na contemplação da vagina da professora, admirando-se com os pentelhos ruivos que quase lhe encobriam a fenda. Foram só dois minutos até que se decidisse a lamber demoradamente cada um dos lábios, aguardando pelo aumento da viscosidade da seiva entre eles produzida. Que passou logo a ingerir, com chupões intermitentes, levando nisso muito mais tempo ainda.

-Não imaginava... que... que... pudesse ser tão bom... tão bom assim. Ui, ai... ai, ai, ai..., meu Deus, dizia Ingrid, as pernas cada vez mais escancaradas.

Marluce também admirava-se com o que estava fazendo. Era de fato a primeira vez. Não teria sido o vinho do restaurante. Não estava bêbada. Algo a ver com a pele sardenta, de efeito muito mais maravilhoso agora, totalmente à sua disposição? Isso sim. Talvez desejos sublimados que teriam como indícios, por exemplo, o interesse pelo futebol das meninas. Certamente haveria outros indícios.

Mas isso não interessava. O que ela precisava agora era sentir contra o próprio sexo o sexo ruivo da professora. E foi o que fêz, aproveitando-se do nível mais alto do travesseiro em que a professora se achava sentada para se encaixar no meio das pernas de Ingrid, mantendo uma de suas coxas por baixo.

-Vem...vem...Ingrid. Vem... professora, esfrega essa buceta na minha.

-Oh, Lu...Oh, Lu... Lu… Luzinha, meu carinho.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 21/10/2011
Código do texto: T3289561
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