Até um demonio

Sentado a sob uma arvore o demônio esperava, era Halloween, sabia que logo começaria aquela linda festa, adorava ver as inocentes crianças vestidas como pequenos seres das trevas. Seu superior, um espírito mais forte, lhe ordenara que seguisse uma garota que estaria vestida de bruxa, cujo referencial seriam os lindos olhos amendoados que a deixava com uma singular semelhança a povos árabes. Viu-a caminhar com seus passos tristes, estava cabisbaixa, parecia decepcionada com algo.

Os passos dela eram curtos, caminhava de forma peculiar, pondo pé na frente de pé, ele a imitava, sentia o cheiro da carne virgem daquela garota, que diferente de muitas, aos 16 nem sequer cogitava ter esta experiência, era uma romântica que preferia sonhar símbolos românticos que fálicos.

O demônio tocou aquela pele macia com seus descarnados dedos, apesar dela não poder sentir, ele teve a impressão de que ela notara aquele contato, ele ficou assustado, só agora se perguntando, por que seu mestre o mandara, (um demônio do suicídio) seguir aquela pequena?

Na festa, ela se sentou, ficou observando a todos, seu olhos buscavam alguém em especial, soube logo que era um rapaz de olhos claros que ostentava uma bela roupa de príncipe, arrancando suspiros de fadas, elfas, índias, odaliscas e muitas outras personagens. Notara então, que aquele era o objeto de desejo daquela garota, e que não era um desejo só dela. Teve pena, não por achá-la menos bonita, muito pelo contrario, apesar de ter uma visão bastante distorcida do que poderia ser considerado belo, ele sabia que a face dela era muito agradável para os padrões da época em que vivia.

Algumas garotas, que pareciam ser amigas dela, logo a cercaram chamando-a para dançar, já ela, tímida, se levantou e tentou alguns passos daquela barulhenta musica, seu grupinho foi logo cercado por rapazes, que a olhavam deslumbrados, deviam ser aqueles olhos, pois pareciam hipnotizados. O demônio, que sondava de perto, podia notar, em seus olhos, a vida se extinguindo em órbitas vazias, como se alma se apagasse. Ela estava morrendo! Talvez por amor, solidão ou tristeza, mas realmente morria. Foi ao banheiro então, molhando o rosto e olhando seu relfexo no espelho, sussurrou baixo:

-Ele nunca vai te querer... Nunca...

Segurou as lagrimas que se formavam nos olhos, respirou fundo se preparando pra voltar a festa. O demônio sabia que o espelho era um grande instrumento, e que poderia usá-lo para deturpar a imagem da moça, fazendo-a se ver realmente feia, quando esta levantou os olhos mal pôde crer, apesar da imagem ser a mesma se via distorcida, não agüentando segurar as lagrimas. O demônio, apesar de sentir muita pena daquela pura alma, precisava cumprir seu papel, circundou ao redor dela sussurrando coisas ruins, levantando questões sobre a importância de se manter viva, induzindo-a a acabar com sua existência mesquinha, que no fundo ele tanto invejava.

Mesmo não tendo um coração, sendo um símbolo da pura maldade ele sentiu pena, ela já procurava com os olhos algo que pudesse ser usado para acabar com a própria vida, e ele segurava já em suas mãos as correntes que seriam presas a ela quando fosse levar sua alma ao inferno.

Segurando uma gilete de barbear, ela fitava seu reflexo, ainda em duvida pensava se aquela era a melhor decisão. Assustou, (deixando a gilete cair), quando alguém bateu na porta perguntando com impaciência se ela iria demorar. Ficou muda, olhando apenas o pequeno corte que fizera acidentalmente com o susto, doía, e um filete de sangue escorria. O demônio então sentiu algo em seu ser, e achou melhor ir embora, talvez fosse alem de suas capacidades incitar aquela morte. Retirou então suas influencias malignas da garota e ficou estático, ainda vendo-a sair daquele transe suicida e voltando para a festa, só neste instante então percebeu que o rapaz vestido de príncipe a procurava com os olhos, pois quando a viu pareceu ficar mais calmo e tentou se desviar das pessoas para se aproximar.

Não poderia ficar ali por mais tempo, pois seu corpo já formigava, era o inicio da punição por sua incompetência.

Chegando ao primeiro céu então viu seu superior com os olhos em chamas:

-Seu maldito, já podia senti-la a dois passos da danação, em que você errou?!

-Eu senti pena...mereço a mais dura punição...

-Será punido sim...-viu que o demônio estava inconsolável- mas não se martirize tanto, há alguma bondade em você, afinal, você já foi anjo...

(Conto retirado do meu blog dramatic.zip.net)

T Sophie
Enviado por T Sophie em 03/01/2007
Reeditado em 18/06/2008
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