Cada dia uma historia.

Cada dia uma historia.

Todos os dias aquela família mineira se reunia pela noite, sempre na cozinha que ficava desconexa, no caminho do quintal, ali junto a uma mangueira, bem no estilo mineiro como diria Rubem Braga.

Na cozinha um fogão à lenha com suas panelas preta de ferro, onde sempre tinha uma guloseima para embalar as noites frias daquela cidade. O mingau de fubá com bastante queijo branco raspado e canela, era a preferida daquela família. Nestas reuniões as noites eram embaladas de causos de assombrações e mortes e ora brincadeiras de adivinhações ou charadas, tendo como prenda alguma guloseima a mais ou isenção de alguma tarefa do cotidiano. Eram felizes assim, vivendo numa simplicidade e perfeita união.

Certa noite, ali reunida em plena quaresma, se revezava em causos cada um mais cabeludo que o outro. Era comum naquela época de pouca ou quase nenhuma luz elétrica, os casos arrepiantes. Sempre alguém buscava a confirmação com um presente, que prontamente jurava ser verdade ou ter visto também, às vezes usavam pessoas de outras ruas ou cidade vizinha. Assim desfilava pela noite, as mulas sem cabeças, o lobisomem, a mulher de tábua, o homem do saco e outras tantas crendices daquela época.

Nesta noite já alta um barulho estranho rompeu aquela paz. Vinha de cima do telhado do galinheiro. Como era de folha de zinco o barulho era terrível de unhas de alguma besta sobre o telhado e ainda emitia uma espécie de ronco. Como a cozinha tinha apenas uma porta com ligação para a casa, houve um engarrafamento de gente no salve quem puder, e eu menino fiquei a chorar de medo. Quando para alivio vi meu destemido pai em plena gargalhada, pois sabia que era a volta de um pato fujão, que tinha saído pelo dia e naquela hora da noite voltava, voando e pousara sobre a cozinha, para ter acesso ao galinheiro.

Passado o susto e retorno dos mais rápidos na fuga em meio a gargalhadas e explicações, a família decidiu que aquele pato fujão deveria ter suas asas aparadas e que seria o prato principal no final de semana. Foi assim, que no domingo próximo bem cedo minha mãe sacrificou aquele pato como ingrediente principal do famoso e gostoso prato Pato com arroz vermelho, que ficou uma delicia.

Ainda hoje quando nos reunimos o pato vem nos assombrar.

Toninho

24/11/2011.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 05/12/2011
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