Uma foto na mão

Ele olhava aquela foto como se adorasse uma divindade. Sorria com aquele objeto na mão e olhava para os céus em forma de agradecimento. Ninguém podia ter acesso visual a aquele encanto que dele não se desfazia um só instante. Como não era possível que ninguém se aproximasse, sem que ele imediatamente escondesse entre a camisa e o corpo ou cobrindo com a mão espalmada, a curiosidade popular só crescia. Alguém após analisar minuciosamente aquele homem em atitude tão excêntrica, resolveu por livre e espontânea arbitrariedade comentar que a foto tão bem escudada, era de um amante, que na sua adolescência fora impedido pela família de viver um amor homossexual, sendo obrigado a casar-se com uma mulher, tivera filhos e após tantos anos descobre que seu amor está vivo e passeando em um parque de diversões. Ele com uma câmera fotográfica digital marca Kodak aprisionou esta imagem que o deixou baitoladamente consumido deste então. Uma senhora devota de uma Igreja Católica que perambula as madrugadas com um véu escuro na cabeça, sem saber que já havia uma versão popular para a situação resolveu dizer o que pensava. Segundo ela aquela foto só podia ser do Sagrado Coração de Jesus apontado para aquele ferimento no peito que não cicatriza, aquele sangue que não estanca por causa dos pecados do homem, que todos deviam prestar mais assunto nos atos do sujeito pois são estes pequeninos que herdarão o reino dos céus, e, com eles todos aqueles que crêem. Mas ele continuava sua aflição, indo e voltando com seu ar de feliz e olhando para aquele papel, o Pastor de uma Igreja Evangélica pediu que ele fosse até seu templo, ele não foi, o Pastor pediu que mostrasse a foto, ele não mostrou. Diante disto, o Pastor afirmou que isto era intervenção do Satanás, que nenhum ato desta natureza poderia ser considerado cristão, esbravejou, esqueceu de cobrar a “taxa dez por cento” e pediu para ver a foto novamente, mas aquele sujeito apertou-a contra o peito, sorriu alienado e saiu. O Pastor anotou na página da Bíblia e rogou praga, para que aquele imbecil pervertido pelo demônio se danasse. O Padre foi menos exigente e deixou o homem a vontade para mostrar ou não a foto, mas aconselhou que se fosse pornografia sua alma já estava no vinagre. Ele como sempre nada respondeu e saiu andando e admirando seu objeto de desejo e curiosidade alheia. Um detetive chegara a conclusão de que aquele homem não tinha casa, tomava banho no chafariz da praça sempre após a cidade dormir e, se alimentava das marmitas que não eram comidas pelos guardas noturnos, deixadas pelas donas de casa que se sentiam protegidas pelos apitos nas madrugadas. Mas não conseguiu descobrir o que estava naquela imagem. Resolveu então pedir ao juiz que pedisse a prisão preventiva daquele adorador de foto, mas o Juiz se recusou dizendo que não havia provas de qualquer delito para a petição. Mas pediu que um militar trouxesse o homem até sua presença. Ao chegar perguntou que foto era aquela, o sujeito como sempre nada respondeu, o Magistrado perguntou novamente e o silêncio foi novamente a resposta. Levantou, analisou se o prendia por desacato a autoridade, Todavia, deu uma nova chance repetindo a pergunta...Desta vez fora como todas as outras, nenhuma resposta. O Juiz chamou os guardas e mandou que o homem fosse revistado a força e, a foto fosse trazida a sua presença. Porém em um ato de extrema agilidade aquele silencioso adorador de um pedaço de papel, se escondeu no banheiro e não saiu até que a porta violentamente foi ao chão. Em um canto acuado ele não esboçou reação sob a truculência dos policiais que o deixaram completamente nu em busca da foto, até uma Colonoscopia fora realizada ao natural. Mesmo assim nada acharam. O Juiz ordenou então que os soldados vasculhassem o vaso e o cesto de lixo, após um paulatina varredura chegaram a conclusão que o papel poderia ter sido dissolvido na descarga. Deram-lhe as roupas de volta e algumas tapas nas orelhas com chutes na traseira para ir embora. Na rua com as mãos vazias ele andava como um cãozinho perdido, sorumbático e olhando para o chão, até que uma folha arrancada de uma revista era soprada pelo vento de um lado para outro. Em dado momento ele se agachou e apanhou aquele papel. Com um semblante novo e sorriso aberto, apertava aquela gravura contra o peito e olhava para o céu como se agradecesse. Quando alguém se aproximava escondia rapidamente. Um vendedor de jornal intrigado, olhou para aquele zelo excessivo e balançou a cabeça negativamente...