...ao lado de marido morto.
“Mulher continua dormindo ao lado de marido morto”.
A manchete de jornal desencadeou o plano de ação.
Desnecessário contar que a ação já lá estava, ansiando por acontecer. Faltava-lhe apenas um plano.
Ela arrumou a cama, com seus mais preciosos lençóis. Analisou o ambiente detendo-se em cada detalhe, mudando de lugar pequenos objetos.
Na parede do quarto, acertou algumas molduras que lhe pareceram levemente inclinadas.
Julgou ser oportuno, no momento exato, acender velas e queimar incenso.
Ficou em dúvida se deveria exibir um belo jarro com flores. Rosas ou girassóis, talvez. Descartou crisântemos e margaridas.
Sentia a ansiedade iminente, uma certa dose de adrenalina.
A idéia de que alguém pudesse passar um mês dormindo ao lado do marido morto, soava tão absurda quanto perfeita, tendo em vista seus planos.
Após um delicioso banho de imersão e sais, vestiu sua melhor camisola.
Arrumou o jarro com os girassóis.
Atendeu ao telefone, ele prometeu chegar dentro de duas horas.
Ela imaginou um forte vento, acompanhado de trovoadas e relâmpagos.Uma tempestade seria ideal para a cena.
A noite estava tão clara...
Olhou o relógio: vinte e duas horas e quinze minutos. Era necessário tomar a primeira pílula. As demais deveriam ser tomadas de meia em meia hora, de forma que a quinta fosse ingerida minutos antes da chegada dele. Mário atrasava-se sempre. Dava desculpas descabeladas de fios ruivos.
Preparou as taças para vinho, champanhe, e água, com requinte. Cinco doses bastariam, correspondentes às cinco pílulas dele.
Precisariam toma-las, em duas horas e meia, no máximo.
Mário não permanecia mais que isto, e seria tempo suficiente.
As pílulas designadas a ele prometiam um efeito retardatário.
Ele teria chegado em casa, com as desculpas descabeladas de fios negros que inventava para sua mulher. A ruiva deprimida que seria bem capaz de.
Imaginou a expressão no rosto da viúva, quando fosse descoberta após um mês, dormindo ao lado do marido morto.