Angustia... anjo

Os olhos negros presos nos dela, a voz suave, o poder que parecia emanar daquele homem alto, e suas forças, vontades, todas inertes, como se sua alma estivesse voando acima de seu corpo e apenas seus olhos ainda captassem sinal.

Eram 3 horas da manhã, e atônita, com a maquiagem borrada pelas lagrimas se viu ali, diante de um ser indefinível, se sentiu massacrada pela vida, talvez fosse o algoz, quem veio buscar sua alma, um ceifeiro, uma entidade de morte que vendo seu desespero se compadeceu.

Não era capaz de chorar, ele a tomou pelas mãos, e a levou ao seu próprio carro, colocou em seu lugar de motorista e se sentou no de passageiro e ficou a fita-la, ordenando com os olhos que ela fosse para casa. E seus movimentos voltaram, com calma dirigiu a sua casa. Talvez perdesse órgãos, dinheiro, um sequestro? Um roubo? Ele não a ameaçava com uma arma, mas sua imponência era tamanha que tinha a impressão de que poderia quebrar seu pescoço com um leve apertão, como se faz com um animal muito pequeno que se tem entre os dedos.

Chegou em casa, ele a acompanhou, destrancou a porta, ele a seguia, sentia a proximidade dele atrás de si, arqueou o corpo com pesar, temia que a agredisse, nem queria olha-lo nos olhos pois temia que tomasse como afronta. Ele a tocou de leve no braço e a levou ate o sofá e a sentou, ela sentia angustia, mas não diria medo, era algo estranho.

Quando ele abriu a boca, a voz de trovão que saia de seus lábios ela sobrenatural:

-Lúcia, por toda a sua vida eu estive com você e hoje, por tudo que aconteceu te vi prestes e acabar com sua existência.-respirou fundo, como um vulcão bufando prestes a entrar em erupção.

Ela abaixou os olhos, e deixou as lágrimas escorrerem, não entendia quem ele era, mas aquelas palavras era a de um pai decepcionado, e isso pesou em seu ser, como se alguém dissesse que esperasse mais dela.

-Você é forte.

Levantou seu queixo com a mão, com firmeza mas ao mesmo tempo de modo muito delicado. Se viu diante de olhos negros como a noite, um brilho luminoso faiscando lá dentro como se no fundo de um negro poço pousasse a mais pura luz.

Levantou e foi caminhando até a porta.

-Quem é você?-angustiada disse em um sussurro.

-Sou o anjo que te acompanha desde seu nascimento.

Se sentindo confusa, acolhida e criticada, em um misto insano, chorou. Queria pedir que ele não fosse embora, talvez ele não o fosse de fato, mas não estaria visível a seus olhos.

-Não vá embora! –gritou a plenos pulmões, com uma força súbita que a invadiu, um desespero do fundo da alma.

O anjo, que se dirigia à porta parou, e ficou observando seu rosto, a expressão impassível. Caminhou até ela, sentou novamente a seu lado:

-Lúcia, me ouça, hoje você ia se matar, tinha a insanidade dos suicidas em seu corpo e alma, se deixou impregnar por estes sentimentos nocivos, sei que sua dor foi grande, seu companheiro, família, emprego, tudo em um momento de crise. Mas, sua força é maior que sua dor. Eu não posso te consolar, eu não sinto a dor na carne como você, eu não tenho sentimentos e sensações como as suas, mas eu sempre estou com você. E quando algo é maior que você, sou eu que estou ali. Agora, vá deitar, durma, e amanhã volte a viver.

A voz de trovão, a autoridade, o modo de falar, não havia como não obedecer, ainda pôde ver a figura desvanecer, mas desde então soube que não estava sozinha.

T Sophie
Enviado por T Sophie em 24/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
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