Você é muito forte pra mim, Débora
"Você é muito forte pra mim, Débora".
Aquelas palavras me perseguiram o resto dos dias. Andando na rua, cruzando os becos, atravessando esquinas. Mesmo apagando todas as pistas possíveis do meu trajeto, me achavam e retumbavam dentro de mim.
Entrei em uma espelunca e pedi uma dose de tequila e a rodela do limão mais azedo do bar. Quem sabe a bebida não engana meu cérebro e o ácido deteriora a minha alma.
Não adiantava. Até mesmo a boca dele enquanto dizia aquelas palavras apareceu na minha frente, como uma reprise, lenta e detalhada.
Me entreguei.
Analisei cada traço daquela boca, fiz todo tipo de linguagem labial, até cansar o ódio que eu sentia.
"Você é muito forte pra mim, Débora".
Até mesmo na cama ressoava aquela voz pútrida de homem. Não qualquer homem, o ser, o deus, o macho.
Aquele estupro moral foi corroendo toda a minha pele, depois as paredes e os móveis, e as minhas unhas, e a comida, o ar que eu respirava, até todo o ambiente ficar carcomido.
Entreguei-me de novo. Mas desta à insônia.
Esperei.
O dia clareou.
De tanto repetir a frase sobraram apenas palavras, desconexas, à parte, alheias a qualquer fio de sanidade.
Cansei.
Sai.
E entre buzinas e pneus, as palavras ressoavam com tal clareza: Forte, você, mim, Débora...
Tomei a decisão.
Mim...você...mim...
Entrei no prédio.
Forte... forte... forte...
Toquei a campanhia.
Débora...Débora...Débora...
"O que você está fazendo aqui, Débora?"
7 facadas. Cada uma selou o silencio na minha alma.
7 facadas. 7 palavras.
7...7...7...7
E no lugar das palavras, apenas os números permeravam minha vã consciência.