Sem final...

Caminhando pela rodoviária com sua mala de rodinhas atraia todos os olhos, o vestido negro que usava, o coturno que ia até os joelhos, os cabelos escorridos e a palidez mortal, esta era mesmo a doce menina que saíra daquela cidade há três anos?

Não era séria, mas também não sorria, era inexpressiva, alguns antigos amigos tentaram se aproximar, ela esboçava um sorriso que dava calafrios a quem via, era como o sorriso de uma estatua de mármore.

Caminhando pela rua principal daquela cidade média, que, apesar de desenvolvida ainda mantinha os costumes interioranos de se relacionar com os vizinhos, passear nas praças ao entardecer, e manter uma vida cheia de simplicidade e sinceridade, como se o tempo estivesse parado ela se via mais uma vez naquele lugar tão cheio de paz que se tornou um inferno a partir do dia em que se aventurou a procurar a velha cigana.

Tudo aconteceu havia cerca de quatro anos, ela tinha quase quinze anos na época, um parque, que vinha periodicamente pra cidade, ficava nos limites da cidade, todos iam alegres para se divertir nos brinquedos, aproveitando a oportunidade para namorar, sendo este seu caso. O nome dele era Bernardo, um rapaz educado e sério, que lhe dedicava muito carinho e sempre dizia que ainda se casaria com ela, arrancando assim sorrisos constrangidos da moça. Enquanto caminhavam abraçados viram a cabana de uma cigana, sentindo um calafrio quis propor que não fossem ele então a desafiou:

-Do que você tem medo Luana?

-Não tenho medo, que bobagem!

Entraram então na cabana escura, sentiram o cheiro de ervas, apesar de abafado lá dentro era estranhamente frio, se sentaram diante da mesa, já a mulher, que tinha muitas correntes no pescoço, sequer levantou os olhos:

-Querem saber do futuro?

-Pode ser... -respondeu Bernardo sorrindo pra Luana.

A mulher levantou os olhos e fitou Luana, deu um sorriso irônico e começou a acariciar a bola de cristal como se fosse um animal de estimação. A mulher, que até então assumia uma postura relaxada enrijeceu, levantou os olhos assustados para os dois e disse:

-Morte! Vejo morte no caminho de vocês... - a voz saia falhada, como se ela estivesse com medo, ou não querendo ser ouvida por alguém próximo.

-Não vale a pena morrer por amor, mesmo que pareça a melhor solução, o mal sempre quer tragar almas, mesmo que fazendo parecer ser um ato nobre, lembrem-se disso...

Ela então abaixou os olhos e ficou suspirando. Bernardo fez menção de pagar, mas ela não aceitou, disse que eles deviam ir.

Luana saiu de lá preocupada, Bernardo também estava pensativo, não falaram nada até chegarem a casa dela. Quando foram se despedir.

-Tchau meu amor, por favor, não fique preocupada, aquela cigana é uma farsante certamente. Tenha bons sonhos...

Ele foi embora a passos lentos depois de beijá-la, sentiu uma forte angustia ao vê-lo partir. Entrando para sua casa, os pais estavam na sala assistindo TV. O irmão mais novo estava no quarto lendo algo, ela se sentou em sua cama, não conseguia esquecer do pavor que vira nos olhos daquela mulher, olhando para a janela viu uma sombra estranha do lado de fora, foi correndo ver o que era, mas ao se aproximar tinha desaparecido. Sentia os joelhos tremendo quando voltou para a cama, deitou rapidamente, deixou a luz acesa, cobriu a cabeça com o cobertor. Demorou muito pra dormir.

Acordou assustada no meio da noite com o barulho de um trovão, começara a chover forte, a casa estava silenciosa, a luz estava apagada, provavelmente por um de seus pais, as sombras dos objetos que pareciam bestas mitológicas faziam com se enchesse de pavor. A arvore do lado de fora fazia a típica cena de filme de terror, galhos desfolhados formando sombra no chão a cada raio, abraçada aos joelhos ficou olhando ao redor, quando olhou para o espelho viu perfeitamente o rosto de Bernardo coberto de terror, gritando, se levantou apressada, mais um raio seguido de um estrondoso trovão, a imagem tinha sumido. Começou a chorar, tudo culpa de uma maldita cigana! Enquanto, de olhos fechado tentava pensar em coisas boas para o medo diminuir, ouviu uma risada macabra vinda de muito perto, como se quem a tivesse dado estivesse muito próxima de sua cama, abriu os olhos, viu sua própria face, um riso maléfico, uma faca ensangüentada na mão, viu sua imagem sair correndo pelo corredor, teve medo de ir ver pra onde tinha ido, tremia até os ossos, as lágrimas deixavam a vista embaçada, soltou um grito quando sua mãe chegou no quarto e acendeu a luz:

-Filha, o que houve?

A abraçou, ela soluçava, contou sobre a cigana, mas na de sua própria aparição, a mãe ficou seria enquanto ouvia e disse:

-Filha não procure ciganas, nem magia alguma para saber nada de seu futuro, nem nunca pense em usar magia, pois é muito perigoso- respirou fundo- volte a dormir querida.

A mãe apagou a luz e saiu, mas Luana não viu quando sua mãe pôs um risco de sal sob o carpete que ficava na porta do quarto. As janelas eram todas cobertas de pequenos amuletos, a mãe era supersticiosa.

No dia seguinte, acordou cedo, era sábado, o dia passou normalmente, assim que começou escurecer Bernardo bateu na porta procurando-a:

-Meu amor, estou muito assustado, ontem a noite vi coisas muito estranhas -disse rapidamente quando ela foi abrir a porta- vamos lá pra praça, não quero que ninguém ouça isto.

-Mãe! Vou até a praça, não demoro!

-Sim, mas não volte muito tarde não hein!

Chegando lá, a praça estava deserta, normalmente teriam pessoas lá, mas desde que o parque chegara...

-Agora me conte!

-Eu me vi andando pela casa com uma faca na mão! Eu vi seu reflexo assustado no espelho do corredor! Fiquei com medo de ter acontecido algo a você meu amor!

Contou então o que acontecera com ela. Os dois ficaram silenciosos, resolveram procurar a cigana novamente. Indo em direção ao parque, nos limites da cidade, não viram nada, estava tudo deserto, como se o parque nunca tivesse estado ali. Resolveram voltar para casa, mas a cidade tinha desaparecido! Só havia a rua por onde tinham vindo e mais nada, todas as casas e lojas estavam fechadas, como um lugar abandonado há muito tempo. Sentindo o sangue gelar se olharam nos olhos e se abraçaram. Quando ela se afastou viu que o rosto dele estava se transformando, virando algo monstruoso! Afastando-se depressa começou a correr sem rumo.

Correu muito, a rua não terminava, não chegava há lugar algum! Enquanto corria as lagrimas escorriam, estava exausta, mas sempre que olhava para trás o via caminhando lentamente, mas há apenas poucos passos dela, o rosto dele já estava totalmente desfigurado, e ele tinha um sorriso malévolo. Tinha uma faca na mão, quando ela caiu no chão, sem conseguir se mexer depois de tanto correr ele a imobilizou e começou a ameaçar com a faca, ela chorava e dizia que o amava muito, o rosto começou a voltar a forma normal e uma voz abafada disse:

-Por favor, me mate, senão vou acabar matando você, se me ama me mate, por favor!

Entregou a faca em sua mão. Quando enfiou em sua garganta e ele caiu para trás sentia tudo rodar, acordou em um hospital.

-O que aconteceu? Onde está Bernardo?

Os pais parados na beira de sua cama deram a noticia, ele estava morto, tinha levado uma facada no pescoço.

-O que aconteceu comigo?-sentia o corpo dolorido, estava arranhada, cheia de cortes, suas mãos pareciam queimadas.

-Você foi encontrada caída, do outro lado da cidade, próxima de um poço totalmente machucada e desacordada.

Desmaiou, ficou em coma durante 2 meses. Depois que acordou a decisão já tinha sido tomada, iria morar com sua tia na capital.

Agora de volta tentava traçar um plano, o parque lá estava mais uma vez, precisava procurar a cigana, pois só ela sabia.

-Saia daqui moça, não posso sequer olhar para você, suas mãos estão manchadas de sangue, e sua alma corrompida, paira sobre você uma grande desgraça.

-E você não pode me ajudar?

-Pergunte antes para a sua mãe.

Olhou para a mulher interrogativamente, esta estava impassível e silenciosa. Quando saiu em direção a sua casa foi caminhando lentamente, de longe via sua casa nesta instante notando que sua mãe plantava algo, estranho que a cada novo buraco ela parecia dizer algo e fazer um gesto estranho.

-Mãe, o que está fazendo?

A mãe sorriu e a abraçou.

-Nada minha querida! Só estou plantando umas coisas...

-Mãe,preciso te perguntar algo, há alguma maldição em nossa família?

Tomada de um súbito terror o sorriso se desvaneceu e ela baixou os olhos.

-Por que pergunta isto minha filha.

Depois de contar toda a historia ficou observando a mãe pensativa em um silencio quase fúnebre.

-Sua avó era uma poderosa feiticeira minha filha, ela desapareceu quando eu e seus tios éramos pequenos, nos deixou livros de magia para que aprendêssemos a nos defender de forças sobrenaturais...- parou para respirar antes de terminar.- todos temos marcas, pintas, sinais, coisas com o qual nascemos e são esquecidos, muitas vezes ignorados, mas no nosso caso todos temos uma pequena pirâmide desenhada, sendo cinco irmãos formamos um pentagrama, eu como primogênita carrego um grande peso minha filha, e acho que por algum motivo você também...

Tinha os olhos marejados de lagrimas.

-Talvez a morte de seu namorado...

-Mãe,acho que eu o matei.

-Sim, filha, você o matou...

(procura-se alguém que possa dar um grande final a este conto)

Sibila Dyan
Enviado por Sibila Dyan em 01/02/2007
Reeditado em 02/02/2014
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