Papel de Seda

Quando passava pela livraria, me veio aquela vontade enorme de buscar um bom livro para levar na viagem que faria no dia seguinte. Bem, não era lá uma grande viagem. Estava indo passar uns dias em casa de Francisca,minha amiga de longa data, na fazenda. Contava que esse passeio me faria muito bem. Entrei na livraria, andei por entre as gôndolas repletas de obras, umas bem conhecidas, outras nem tanto. Por fim escolhi um romance qualquer, levando em conta o título, que me pareceu até, vulgar: "Papel de Seda".

Na manhã seguinte, já com minha bagagem pronta, desci para apanhar a lotação. Enquanto esperava, meu vizinho de apartamento apareceu e, muito gentil me ofereceu carona até a estação ferroviária. Livrei-me da lotação, e ainda pude dar uma paqueradinha no vizinho, que é um homem bonito e simpático.

Já no trem, acomodei-me ao lado da janelinha e de uma senhora gorda, que cheirava a talco de bebê. Quis puxar conversa com ela, mas que nada, nem me olhou. Virei-me para a janelinha e ia observando a paisagem, já saindo da cidade, crianças acenando, como que dizendo: " Se cuida!".

A viagem não era demorada, umas duas horas e eu estaria em Rio Bonito do Jequiá. Onde o trem parasse, Francisca estaria me esperando, com certeza. Acabei dormindo. Não conversei com a mulher gorda nem li o livro que havia comprado para esse propósito.

Francisca estava lá, de saia xadrez, camisa branca e um chapéu, não sei de que tecido. Fazia muito calor e o sol de quase meio-dia queimava feito brasa. Olhei para Francisca e não pude deixar de rir. - Mas que roupas são essas, esse chapeuzinho...sapatos pretos... Minha nossa, voce está irreconhecível, minha amiga... Mas está com uma pele linda, cabelos sedosos, esbelta, hein??? Francisca rindo à beça, disse-me: - Queria te fazer sentir na terra, como uma caipira daqui, voce vai ver só quando chegar lá em casa o que voce vai usar... E riam muito. De repente, Francisca coloca a mão na cabeça e grita: - Minha Nossa Senhora, já estava esquecendo de minha tia-madrinha. Peraí, que eu vou ver onde ela está... E saiu num disparate em busca da tia-madrinha. Eu fiquei no mesmo lugar esperando, peguei minha grarrafinha de água, meio morna, e bebi um bom gole. Ao olhar para cima, quando virava a garrafa, notei bem no alto do casarão da estação, uma pipa enroscada. Pelo estado dos fios, devia fazer muito tempo que estava alí, mas assim mesmo pude ver a cor vermelha do papel que servira para fechar as arestas da engenhoca. Entreti-me em pensamentos e risos íntimos que nem notei Francisca me puxando pelo braço e me entregando um enorme baú da tia-madrinha... Ai, ai, pra meu susto, era a mulher gorda e carrancuda que viera sentada ao meu lado. Fomos apresentadas, mas ela nem me disse " muito prazer", e eu pensei comigo "desprazer pra voce também, antipática"!

O carro de Francisca era uma Rural Willis, verde e branca, bem conservada. Andamos uns cinco quilômetros e já avistamos a casa dela. No alto de uma colina, cercada por árvores floridas. Um rapaz veio abrir a porteira, correndinho e correndinho, tirou o chapéu da cabeça gritando: - Sua benção Madrinha, sua benção!! Ao que a velha gorda, acenou em cruz, abençoando o desgraçado. Nesse instante ela parecia um bispo pomposo. O rapaz veio ajudá-la a descer do carro e beijou-lhe a mão. Francisca deu uma piscadela para mim e de soslaio, me fez compreender o poder da tia-madrinha.

A casa era ampla, e Francisca havia me reservado um quarto bem arejado, ao lado do seu, e bem longe do quarto da tia-madrinha. A mãe de Francisca havia falecido há cinco anos, e desde então ela com o pai e os dois irmãos têm tomado conta da fazenda e dos negócios de gado de corte, da fabricação de queijos, requeijão, etc.

O almoço havia sido preparado por uma mulher alegre, chamada Marli, a empregada, a companheira, a confidente e consolo do pai de Francisca, um homem de sessenta anos, bem apessoado, e muito trabalhador. A tia-madrinha, era sua irmã mais velha, e sempre que lhe dava na telha, vinha passar uns tempos na fazenda.

Após o almoço, fomos sestiar em grandes cadeiras de vime, na varanda. A tia-madrinha, que agora sei chamar-se Dona Hiolanda, ou Tia Landa, foi para o quarto, de onde só sairia quase à noitinha.

***

Uns dias depois eu já estava bem habituada aos costumes da fazenda e até me arriscava ajudar em algumas tarefas. Marli, era uma mulher ativa, alva, de cabelos loiros longos, sempre presos em rabo-de-cavalo, e gostava de andar descalça dentro de casa. Dizia que não se pode trazer a sujeira de fora para dentro de casa, dá azar...

Para mim, tudo era novidade, muita gente diferente, com hábitos diversos aos meus, desde a maneira de se vestir até a culinária, tudo para mim era muito divertido.

Certa noite, enquanto Marli terminava de coar um cafézinho, Francisca e eu fomos para a varanda. As luzes estavam todas apagadas, e, então era possível observar a magnitude de um céu repleto de estrelas. De repente, um morcego voou perto de nós, ao que demos gritos e risos. Marli nos serviu o café e sentou-se conosco. Francisca a tinha como uma segunda mãe. Notei em seu avental xadrez azul, agora que ela acendera as luzes, um papel dobrado. Minha curiosidade foi flechada, incendiada mesmo. Me pareceu ser um guardanapo, mas disfarçadamente, cheguei mais perto dela e pude ver que era um pedaço de papel de seda, vermelho. De imediato lembrei-me da pipa que vi no casarão da estação.

Como curiosidade leva à investigação, não me detive, por nada. Fiquei esperta mesmo. Cada coisa, agora me parecia sinistra. A casa era grande, e tive vontade de "revistar" alguns cantinhos mal iluminados. Uma cumurca com um cadeado... Olhem só, quem busca encontra... Olhei em volta pela parede, na tentativa de enxergar alguma chavinha e abrir asquela porta. Bem ao canto esquerdo da escada, quase coberta, lá estava ela, a chave que eu procurava. Imediatamente, me lançei na investigação.

O lugar era totalmente escuro, sem janelas, como qualquer cumurca. Em cima de uma mesinha, uma vela grande e fósforos. Bem apropriado, proposital, diria esse cuidado. Pensei comigo: - Com certeza quem vem aqui, sabe desses arranjos. Era uma sala pequena, com prateleiras, cheias de cobertas, lençõis, travesseiros, pesados acolchoados de lã de carneiro, toalhas de banho, toalhas de mesa, toalhas de cozinha, etc. Um vaso de flores estava quebrado, colocado no chão. Abaixei-me para ver e, notei que as flores, eram de papel de seda. -Como essa gente gosta de papel de seda... Rebuscando, ou melhor: remexendo, mexericando o que podia, achei retratos de um rapaz, só dele. Era um rapaz de pele meio amarelada, meio apático, ou quem sabe doente, sei lá. Um arrepio correu em minha espinha dorsal.

Ao fundo da salinha havia um espelho pequeno, com apetrechos de barbear. Estavam úmidos. Então alguém o havia usadoa há pouco tempo? Mas quem? No tiritar de meus arrepios, pude ver uma fresta de luz vinda do lado direito da escada. Era outra porta. Então, pensei que poderia ser uma saída para o outro lado da casa, por que não? Fui lentamente até à porta e toquei a maçaneta de leve, estava aberta, entrei. Era um quarto muito bem cuidado, limpo. Havia um banheiro, uma saleta com uma estante repleta de livros, uma escrivaninha e uma máquina de escrever, antiga. Olhei em volta e pensei comigo, que tudo isso era muito interessante, me fascinava a idéia de um lugar secreto, assim, todo arrumado e confortável. Havia uma janela com grades, mas que formava uma pequena varanda, onde o sol batia com vigor. Segui andando, até que dei de cara com um homem alto, pele clara, olhos escuros penetrantes. - Boa tarde! Me disse ele, com as mãos postas para trás das costas. Eu ainda meio em choque, respondi, com um olá sem graça. Ele riu. - Nunca recebo visitas, em sete anos, voce é a primeira pessoa a vir me ver, ou... entrou aqui por engano? Eu não sabia o que responder. - Eu...eu, desculpe, eu não sabia que havia este lado da casa, me perdoe... eu já vou embora, me desculpe... Ele, veio , bem perto de mim, apanhou minhas mãos e as segurou entre as dele, grandes, suaves, quentes. -Não precisa ir, eu gostei de voce ter vindo, fique aqui um pouco mais. Quer um chá de lima? Que tal? - Está bem, se não for incômodo para o senhor... -Venha comigo, e não me chame de senhor, sim? A cozinha era toda branca, limpa, arejada, com tudo que se pode ter em uma cozinha moderna. Em cima da mesa um enorme arranjo de flores ... de papel de seda. - Aqui parece que gostam muito destes papéis de seda, não? Notei vários arranjos de flores feito com eles e... - O que foi, o que quer falar? - Bem, na estação, quando cheguei, notei que havia uma grande pipa de papel de seda vermelho... claro que toda estraçalhada, me pareceu fazer muito tempo que está lá e... - Quem sabe, uns sete anos? - Sete anos, porquê? Como assim? - Olha seu chá, tome-o. Vou apanhar uns biscoitinhos de aveia. Eu segui a silhueta daquele homem, esguia, nobre, elegante, mas um homem que eu nem sabia quem era, nem seu nome havia perguntado. Enquanto ele não vinha, fiquei observando alguns quadros dispostos nas paredes, a quantidade de livros na estante que podia ver de onde estava. Notei também que além da cozinha, descendo uns quatro degraus, havia um "laboratório", ou um lugar de trabalho. Com a xícara na mão fui até a entrada da escadinha e pude ver em cima de uma mesa quadrada, várias varetas de vime, e uma quantidade de papel de seda. Senti um calafrio e me deu vontade de sair correndo dalí. Mas ao voltar-me, o homem estava quase encostado em mim. - É meu passatempo, faço pipas, veja aqui... Havia pelo menos umas duzentas pipas, colocadas uma sobre a outra, algumas em andamento, outras destruídas num canto. - O senhor as vende? Ele riu, baixou a cabeça e seguiu para a janela da pequena varanda. Seu olhar era distante, triste, cheio de melancolia. - Desculpe-me, mais uma vez, eu não quis ser invasiva (mais do que já tenho sido), mas para mim é intrigante tudo isso. Ele, simplesmente virou-se e foi para o outro lado. - Saia daqui, por favor, agora, vá! Eu saí correndo, quase tropeçando. Errei o caminho de volta, enrosquei-me num biombo de papel de seda, em estilo japonês, quase o fazendo cair.

xxx

Aquela noite não pude dormir, estava assustada, intrigada mesmo. Na manhã seguinte, fui falar com Francisca sobre o que havia visto. Ela não quis comentar nada. A tia-madrinha, olhou-me com olhos que querem fuzilar alguém. Entendi que era um assunto delicado. Mas ainda assim, não deixava de pensar naquele homem, naquele ambiente isolado de tudo, até mesmo dos da casa. Queria saber o que havia acontecido com ele, porque decidira viver naquele lugar , "secreto". E como era gentil. Pensei: Marli deve saber de algo, e como é bem falante, vai me dizer algo. - Não sei do que voce está falando, nem nunca ouvi aqui algo sobre esse rapaz... E me dá licença que tenho muito que fazer, até mais...

Fiquei alí parada, imaginando mil coisas. A pipa na estação, as flores de papel de seda no bolso do avental de Marli, a cara fechada de Dona Hiolanda...

Saí para os fundos da casa, pensando em ver a janela dos aposentos daquele rapaz. Havia uma cerca de telas, e um portão sem cadeados. Pensei, vou entrar aqui, quem sabe encontro alguma coisa, ou ele me vê e chama pra entrar, sei lá... Dei a volta por detrás de um galpão e segui na certeza de que iria vê-lo. Havia um buraco de uns dois por dois metros, onde podia-se ver que eram queimados os lixos, papéis velhos e com um olhar mais apurado notei que havia tiras de papel de seda de todas as cores. Estavam alí para serem queimados. Achei muito natural. Ele manda as sobras de papel para serem queimadas aqui, junto com o lixo do banheiro e outros papéis que sobravam da casa. - Mas quem é que busca e trás esses pedaços de papel de seda pra cá? Ele, o homem enigmático? Marli, a empregada? Ou outro empregado qualquer? Quem? E fiquei alí matutando nesse mistério. Pois pelo que entendi, ele vivia isolado de tudo e de todos. Então se esses restos estavam alí, alguém os trouxera. Estava tão concentrada em minha "investigação" que não notei que o pai de Francisca me olhava com desaprovação. Veio dizendo: - Voce não deveria vir aqui, tem muito lixo, aqui queimamos tudo que não usamos mais... Saia daqui, se não quiser se sujar, ou ficar cheirando fumaça, pois vou acender estes papéis aqui. - Eu estava caminhando e achei interessante, este jeito de cuidar do lixo, já que na cidade nós reciclamos tudo e ... O homem não me deixou terminar. - Aqui não é a cidade, não temos esses métodos aí, então nos valemos disto aqui... Percebi que ele queria que eu saísse depressa dalí, fui saindo e olhando disfarçadamente para trás. Notei que havia papéis de seda.

À noite, Francisca retirou-se cedo para seu quarto. Dona Hiolanda jantou no quarto, Marli disse estar sem fome e saiu para a varanda. Ficamos à mesa Seu Adalberto e eu. Ele não me pareceu muito contente comigo, e, eu nem terminei o jantar pedi licença e fui me levantando, mas ele, com voz firme disse-me para ficar. - Termine de comer! - Obrigada, estou satisfeita, vou me deitar e... - Satisfeita? Voce me parece muito curiosa, e tenho muito que te falar. Levantou-se e me convidou para ir com ele à uma salinha pequena que havia ao lado esquerdo da sala de jantar.

- Sente-se. Disse-me ele, com jeito de quem quer resolver algo muito grave. Sentei-me numa poltrona grande de veludo verde. Esperei, não me atrevia a dizer coisa alguma. Adalberto acendeu um cachimbo e calmamente veio sentar-se na poltrona ao lado da minha.

- Voce foi ver o Caetano, não foi? - Caetano? O rapaz da casa ao lado? - Não é na casa ao lado, é nesta casa mesmo... - Me desculpe por isso, eu não sabia que ele vivia assim, escondido e que era proíbido ir lá... Adalberto, com um olhar de pai penetrou minha alma. - Proíbido? Quem disse isso, minha filha? Ele quis ficar assim, desde um fato horrível... - A pipa no casarão da estação, tem a ver com isso? - Puxa voce é bem mais esperta do que imaginei... tem sim. - Se quiser me contar a história, eu quero ouví-la inteirinha. Adalberto, deu uma baforada, olhou para fora, respirou fundo e virou-se para mim, fitando-me como quem quer ser perdoado. - Tem certeza disso, minha filha? - Tenho sim senhor!

xxx

Há doze anos, Caetano foi estudar Engenharia na capital. Se formou, voltou para cá. Desde seus quinze anos namorava a filha de um grande amigo meu, o Gaspar. Quando ele já havia se formado, veio trabalhar na Estação, com engenheiro chefe. Então, ele e Graçinha resolveram ficar noivos. Foi uma festa muito bonita, apenas com as famílias e alguns amigos. Eavam felizes. Ele nunca tivera outra namorada, nem ela outro namorado. Almas gêmeas, como diziam todos daqui. Ele projetou a casa, perto da estação, quando a casa ficou pronta, mobiliou-a de acordo com os gôsto de Graçinha. Se amavam demais mesmo. Por vezes pareciam duas crianças, as mesmas que eu vi crescerem juntas. Marcaram o dia do casamento. A igreja estava lotada. Havia pessoas até na escadaria que fica em frente à estação. A festa foi no salão do Clube dos Maquinistas e Funcionários da Estação Ferroviária, pois todos o queriam muito bem, e pediram que fosse feita a festa nesse Clube. Ele como Engenheiro era também funcionário da Estação, então tudo se arranjou. O casamento foi pela manhã, pois Graçinha dizia que assim teriam mais tempo para ficar com os amigos, e eles casados teriam tempo só para eles dois. Após o almoço, todos brincavam na pequena piscina, outros apenas jogavam bola, outros, embaixo das castanheiras, carteavam baralho, ou dominó. Um colega lembrou que havia visto Caetano fabricando uma pipa de papel de seda e que gostaria muito de ver seu filhinho empinar uma bem grande. Graçinha ouvindo isso, pediu à sua irmã que fosse até à casa e pegasse umas folhas de papel de seda, que alguns presentes haviam sido embrulhados, e mais o que fosso necessário para que Caetano construísse a pipa. Por uma lástima do destino, foi arranjado tudo para que ele fizesse a tal pipa, e o papel que lhe foi trazido era vermelho. Graçinha, muito feliz, ainda disse: - Papel de seda vermelho, ou é cor de muita paixão ou é cor de sangue... Todos riram, sem saber o que estava por vir a acontecer. Trouxeram-lhe muitas varetas de vime. Ele todo empolgado, disse que faria essa pipa de papel de seda vermelho para seu grande amor, a sua linda esposa. E deu-lhe um beijo, dizendo que ajudaria com a pipa para subir ao céu bem alto. Ela disse:- Vindo de voce , meu amor com essa pipa de papel de seda vermelho, irei até o céu, mas com voce junto comigo, é claro! A festa ia então, toda ela muito animada, e já alguns casais, começavam a dançar ao som do acordeón do Pedro Jardim. Caetano terminou a pipa vermelha para Graçinha, fez mais umas tres para as crianças e foram levantá-las no pátio que há por trás da Estação. Estavam felizes. Porém a pipa de papel de seda vermelha não queria empinar de jeito algum, e Caetano ajudando Graçinha, corriam para o outro lado, até que a pipa subiu. Tão logo ela subiu, começou cair e cair, até que enroscou... (nesse momento Adalberto deu um suspiro profundo, serviu um cálice de licor e engoliu, como se tivesse caminhando para o inferno) no catavento, no alto do casarão da estação. Caetano disse o vento sopraria e a pipa cairia de lá. Entretanto, Graçinha, correu para puxar com força o fio que conduzia a pipa e este havia enroscado na rede elétrica. Ela foi eletrocutada. Seu vestido branco, derreteu. Todos ficaram paralisados. Caetano gritou para que ninguém a tocasse, mas seu pai não ouviu, e morreu também, alguns dias depois a mãe dela, não aguentando o acontecido, ficou louca e até hoje está em um manicômio na capital. Caetano então gritando pediu ao Adilson que desligasse a chave geral e então esperou uns instantes e correu para abraçar Graçinha, já morta. Ele ficou assim até à noite, quando os bombeiros e os médicos da capital chegaram. Mas já era muito tarde. Caetano sumiu por uma semana. Foi encontrado junto ao túmulo de Graçinha. Estava desatinado. Não falava nada, apenas abraçava algo que não se podia ver. Parecia um louco. Minha esposa, ficou doente, e desde esse dia não se recuperou mais, até morrer tres anos depois, em profunda depressão. Francisca fechou-se aqui conosco, e Caetano tentou várias vezes o suicídio. Vive tomando remédios controlados, mas não quer falar com ninguém daqui da casa nem de fora. Fica lá fazendo pipas de papel de seda vermelho, azul, verde, sei lá, depois manda queimar tudo. Quando quer mais material, envia um pedaço de papel por baixo da porta e Marli sabe que é dessa cor que ele quer. Por isso todos ficamos assustados por voce ter entrado lá e ele não ter sido violento com voce.

xxx

(continua)

NENINHA ROCHA
Enviado por NENINHA ROCHA em 06/02/2007
Reeditado em 03/04/2007
Código do texto: T370927
Classificação de conteúdo: seguro