A SANTINHA

Ela sempre passava na mesma hora, praticamente usando o mesmo tipo de roupa: Uma saia longa de cor morta, bem desgastada, que não mostrava nada, apenas os pés finos e dedos pequenos. Vestia sempre uma camiseta longa que só acabava nos punhos, com grandes botões pretos, tão grandes que escondiam seus seios. Parece que ela se protegia dos pés a cabeça, evitando olhares de desejo. Não era bonita, nem de se jogar fora, deixava o cabelo solto, longo e embaraçado. Tinha grandes lábios, e uma pele morena e lisa, mal arrumada, não despertava tanto o interesse dos homens, acho que pra ela assim era melhor. Seu único amor era os cultos, de segunda a segunda, andando com aquela velha bíblia pesada, nem sei pra que tanta oração, pois, ninguém imaginava que ela fosse capaz de pecar.

Os moleques da rua a chamavam de tia encalhada, pois, chegava aos 30 sem nunca ter namorado sério. Trabalhava de caixa em um supermercado no centro, ganhava pouco, mas, nunca atrasava o dízimo, para ela era sagrado o compromisso. Morava apenas com sua mãe, seu pai já era falecido. Filha única, e bastante tímida, talvez a superproteção da mãe tenha impedido dela arrumar um namorado, e casar. Ela também não queria abandonar a mãe sozinha, e a velha chata assustava qualquer pretendente.

Essa rotina da santinha, começou chamar minha atenção, “culto de segunda a segunda?” achei estranha tanta devoção. Conversando com um e com outro descobrir que as terças a igreja que ela frequentava não funcionava, era a folga do pastor que também era cantor, vendia seus discos no fundo de um carro sempre no fim dos encontros religiosos.

Passava semana, passava mês, e minha curiosidade aumentava. Para onde ela ia afinal? Será mesmo uma santinha? Eram tantas perguntas que não cabiam em um questionário. Nunca fui de falar com ela, ficávamos apenas no, “boa noite e no bom dia”! Então, resolvi persegui-la, e acabar de vez com minhas dúvidas. Fui de mansinho rastreando teus passos, ela andava rápido, e nunca olhava para trás, entrou na rua da igreja, passou pela porta e seguiu. Parecia que seu destino não tinha fim, entrando e saindo de ruas, sem cansar e sem parar ela seguia. Daí então ela parou, e entrou nunca casa de janelas grandes, num bairro classe média. Olhei de longe sem saber o que realmente funcionava ali, não dava para perceber, tinha que correr o risco e chegar mais perto, ou então continuar curioso. Tomei coragem, atravessei a rua e parei na porta, a casa estava meio escura, procurei alguém por perto para saber quem morava ali. Porém ninguém sabia, acabei até sendo assaltado nessa tentativa de procurar informação. Pensei em entrar e acabar de vez com todo o suspense, já era um pouco tarde, sabia que ela já estava pra sair, sem pensar direito entrei sem bater, e meus olhos não acreditaram no que eu vi, meu queixo caiu, e caído ficou, era tão estranho ver aquilo, nunca iria imaginar o que ela realmente estava fazendo. Gritava alto, se tremia toda, até suada estava, revirava os olhos tão rapidamente. Foi inesquecível, matei minha curiosidade, descobrir que a danada da santinha, realmente era uma santinha, pois, o que ela fazia naquela casa, era rezar com um grupo de irmãos, canalizando a força de sua fé, contra os poderes do demônio.

Diêgo Vinicius
Enviado por Diêgo Vinicius em 23/07/2012
Reeditado em 23/07/2012
Código do texto: T3792244
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.