A VIÚVA

Que belas pernas ela tinha, tão belas que era quase impossível não perder alguns segundos olhando, principalmente quando vestia suas provocantes saias, suas curvas, mexia com a imaginação de todos os homens, era tão bonita que algumas mulheres a desejava e outras morriam de inveja. Teu marido tinha falecido apenas há algumas semanas, vítima de um ataque fulminante do coração, até então um mistério aquilo ter acontecido, pois ele sempre apresentou uma excelente saúde. Muitos diziam que era o fogo dela, que tinha acabo com ele, outros suspeitavam de assassinato, alguma porção que ela poderia ter dado pra ele tomar. Porém era difícil provar, os dois se davam muito bem e ele nem tinha tantas posses, pertenciam à classe média baixa. Deixou apenas um carro antigo, uma casa pequena, e sua modesta pensão. Esse fato fez com que a policia nem investigasse o caso, essa suspeita só sobrevivia na boca dos vizinhos, nas rodas de fofocas a viúva sempre era assunto.

Ninguém entendia a falta da dor por parte dela, e o teu comportamento tão comum e frio. Para uma pessoa que há pouco tempo tinha perdido o marido, não era normal agir daquela forma, tão solta, despreocupada, feliz, aliviada, realmente leve.

Lembro que nas sextas-feiras a noite, ela passava em frente ao bar do Zé lobo, naquele salto tão alto que parecia um mini arranha céu, vestindo roupas apertadas e curtas , tão apertadas que dava ênfase ao teu corpo perfeito, tão curtas que quase amostrava tuas partes, seguindo um estilo quase puta.Usava um batom vermelho flamejante, acompanhado de um perfume forte, que exalava um cheiro tão doce e picante, atiçando os machos de todas as espécies. Como uma sereia do asfalto, dominava e conquistava qualquer um.

A viúva se tornou o troféu da rapaziada, uma verdadeira disputa de gladiadores estava para começar, tudo que era homem solteiro, e até casado queria ser o primeiro a pega-lá de jeito, mas como alguns conhecia o falecido não se ousavam a corteja-la, pelo menos não agora com tão pouco tempo de luto. Porém outros não tinham respeito, (triste daquele que se vai), e assim logo tentaram conquistar a viúva, sem muito sucesso, embora ela usasse um estilo apelativo, e parecer estar de fogo, a viúva sempre dizia não aos convites indecentes que recebia.

Certo dia ela apareceu na vizinhança na companhia de uma loira, alta de olhos azuis como mar europeu. As duas andavam pelas ruas de mãos dadas, sempre alegres, desfilando uma intimidade suspeita. E aquela cena logo gerou comentários, alimentou de forma violenta a curiosidade dos seus vizinhos. A partir daí, algumas perguntas começavam a se repetir incansavelmente, todas sem respostas. Quem era aquela loira? Será que elas duas tinham um caso? Ninguém sabia, nem ela dava trela para alguém descobrir, parecia ignorar todos dali. Alguns homens até ficaram triste com a hipótese da viúva ser sapata, já outros desenhavam na imaginação as duas se pegando.

O tempo passava e ninguém descobria os mistérios da viúva, sem falar que ainda restava a duvidas sobre a morte do seu marido, e agora surgia a suspeita de um caso com outra mulher, a vida dela parecia até uma novela. Não tinha como não querer descobrir, todos se envolviam com a história, todos esperavam um desfecho, esperavam respostas. Mas ela parecia irredutível, não falava nada, sempre dizia que não devia satisfação a ninguém e assim continuava sua misteriosa vida.

Certa tarde, eu a vi sozinha, sentada no batente da porta de sua casa, cabisbaixa, parecia estar muito triste, depois de algum tempo analisando, pensei comigo, será que só agora a ficha dela caiu, e ela estava sentindo a morte de seu marido? E onde estava a loira? Fique com receio de ir lá puxar conversa, e ela perceber minha curiosidade, mas aquela tristeza dela se tornou um convite para mim, a curiosidade de entender lá, misturava-se com a humanidade de querer ajuda lá. Então cheguei mais perto, e perguntei se ela estava bem,ela resistiu e não me respondeu, manteve o silêncio e logo percebi algumas lagrimas escorrendo pelo seu rosto. Repetir a pergunta, agora um pouco preocupado, dando pequenos passos, me aproximando cada vez mais em direção a ela, e mais uma vez ela não respondeu, eu respeitei a vontade dela e não repetir o processo, apenas dei meia volta e comecei a sair lentamente, logo ela me surpreendeu com um abraço por trás, daqueles abraços de urso, um abraço que ocultava um pedido de socorro, e em seguida começou a chorar compulsivamente. Confesso que fiquei assustado com a ação dela, mas mantive o controle, e pedi calma, virei e peguei na mão dela, sentamos os dois no batente, e assim iniciamos uma longa conversa.

Ela me revelou o motivo daquele choro, e pra minha surpresa, as coisas que eu pensava sobre ela não eram reais. Primeiro ela me contou sobre não ficar triste pela morte do marido, acontecia que seu marido, repreendia ela, sufocava, e longe dos olhos dos outros, eles discutiam muito, ele tinha casos com as colegas de trabalho, e ela sofria muito com tudo isso, não tinha coragem de deixa-lo e então sofria em silêncio, confessou até que já tinha sido espancada por ele. Ela me explicou também o motivo de começar a se vestir daquele modo vulgar, seria uma forma de exaltar a sua libertação, expressar que ela era dona de si mesma, e que agora viveria assim sem ser controlada por ninguém. Sobre a loira, ela até sorriu quando me contou, disse que era uma prima do interior que tinha vindo visita-lá, ela disse que foi bom mexer com a curiosidade dos vizinhos fofoqueiros, que fazia tudo de propósito, que gostava de provocar mesmo, dava pistas, mas não entregava o ouro, deixando todos aflitos e mortos de curiosidade.

A parte mais difícil da conversa foi quando ela me contou sobre o motivo de está chorando, não era saudade do marido como eu pensava ser. O tal motivo era que ela estava gravida , estava esperando um filho do falecido marido, aquela agitação toda fez com que ela esquecesse seu ciclo, porém já tinha passado mais de 8 semanas, e um exame confirmou sua gravidez. Ela me contou que um filho era muita responsabilidade, e principalmente para uma pessoa que morava só, e ser mãe solteira atrapalharia nos seus próximos relacionamentos, ninguém iria querer nada sério, sem falar que criar uma criança sem o auxilio do pai seria muito difícil, ela estava apavorado com tudo aquilo.

Foi chocante saber tudo aquilo de uma vez, era estranho imaginar que a gente fantasia demais a vida das pessoas sem antes saber se é real, e agora eu sentia uma pena tremenda dela, passar por tudo aquilo em tão pouco tempo, era realmente triste, nem tinha bons conselhos para dar a ela, apenas fiquei ouvindo, acho que minha presença bastou no momento, não conseguir pensar direito. Apenas abracei ela,um abraço de desculpa, por ser mais um curioso, mais um preconceituoso.

Hoje ela vive com seu filho, arrumou forças, superou tudo sozinha, criou um amor imenso pela criança e assim seguiu, continua solteira e bonita, esperando o homem certo aparecer.

Diêgo Vinicius
Enviado por Diêgo Vinicius em 13/08/2012
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