O senhor da discórdia: Capítulo 3

Aqui está mais uma pequena parte da minha história.

Leiam e comentem.

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CAPÍTULO 3

O hospital estava um completo caos naquele dia. Pessoas desesperadas tentavam atendimento enquanto outras estavam esparramadas pelo chão gelado. Muita gente gemia e outros gritavam, ora por ter levado uma facada ou por ter sido espancado.

Pereira entrou na recepção e atravessou um imenso corredor observando tudo aquilo incrédulo. ‘’O descaso existe’’, pensou enquanto desviava de uma criança deitada no chão. ‘’Não é pra render matéria na televisão. Ele existe’’.

Parou frente a porta onde disseram que estava o velho que denunciara o crime. Segundo alguns tinham dito, ele desceu até a margem depois de ter ouvido barulhos estranhos, talvez vozes. Disseram que ele achou os pedaços do corpo e logo entrou num transe profundo. Mas Pereira sabia que essa versão não era original, pois o velho ainda encontrou forças pra avisar a policia e os peritos.

Antes de se encaminhar até o hospital, Pereira visitou o local do crime e se surpreendeu pela quantidade de sangue espalhada pela grama verde. E se deu ao luxo de achar um dedo da mão de Manoel Bastos.

Os peritos haviam dito que não tinham deixado nenhuma pista. Talvez a única forma de achar os suspeitos era alguém ter visto alguma coisa. Mas a casa mais perto do riacho ficava a quase um quilômetro. Era impossível alguém ter visto ou ouvido algo.

‘’É um caso delicado’’, pensara Pereira enquanto saia do local. ‘’Mas não delicado pra mim’’.

Agora ele estava ali pra falar com o velho. Talvez ele tivesse boas satisfações pra dar sobre o que aconteceu. Foi então que uma enfermeira saiu do quarto anotando alguma coisa em sua prancheta.

- Ei. - advertiu Pereira – Sou o detetive Pereira. – mostrou o distintivo e a enfermeira assentiu. – Tenho que falar com esse senhor.

- Foi um caso triste, não é detetive...detetive...

- Pereira.

- Sim, obrigada. Pois é, ele fazia visitas aqui de vez em quando. Talvez o hospital não estivesse esse caos se ele viesse até aqui.

Pereira não estava dando a mínima atenção pra enfermeira de voz enjoada.

- Posso entrar?

Ela assentiu.

- Mas não o pressione muito. Ele está...

Pereira não deixou ela terminar de falar. Passou por ela e entrou no quarto batendo a porta.

- Grosso. – resmungou a enfermeira saindo dali.

Ele era um velho com a aparência totalmente desgastada e fitava o nada. Nem quando Pereira entrou ele se mexeu. Como muitos disseram, parecia que estava em transe. Um transe profundo.

Pereira tentou não fazer movimentos bruscos e se sentou num banquinho que estava do lado da cama. Observando aquele quarto abafado, ele viu que estava cheio de rachaduras e certamente chovia ali dentro. A cama não tinha coxa e o velho estava sobre um colchonete quase todo rasgado. Do lado direito da cama tinha um pequeno armário com alguns frascos de remédio cheios e uma centena de frascos vazios. Além do chão estar sujo e a janela emperrada. Pereira suou só ao entrar.

- Senhor? – perguntou Pereira passando com o braço rente o rosto do velho, mas ele nem piscou nem se mexeu. Continuou fitando o vazio com a boca quase sem dentes aberta.

Teria que tentar novamente.

- Senhor, eu preciso falar com você.

Nada.

- Por favor, eu preciso do seu depoimento.

Foi então que uma baba começou escorrer no lado esquerdo da boca do velho e ele nem fez questão de limpar. Deixou que molhasse a roupa do hospital. Pereira estava quase desistindo quando ouviu um sussurro.

- Foi horrível. – a voz do velho era um sopro. E ele continuava sem se mexer.

- O que foi horrível? – Pereira estava contente pelo progresso do homem.

- Braços e...pernas. Na grama. Sangue...

Pereira achou que não conseguiria tirar nada do velho, mas também não tinha grandes expectativas dele ter visto alguma coisa.

- O senhor...viu alguma coisa?

Ele balançou a cabeça quase que em câmera lenta e fechou os olhos. Pereira ficou imaginando no que o homem estava pensando. Será que havia visto mas estava com medo de falar? Será que fora ameaçado? Por isso o trauma?

- Quem eram eles? – Pereira estava a ponto de explodir. Estava perdendo tempo.

- Sangue...e...sangue. – sussurrava o velho. – Pernas...braços...

- Eu entendi. – interrompeu o detetive perdendo a paciência. Ele não era famoso por ser compreensivo. Nem com um velho traumatizado. Se levantou e foi até a porta, parando e dando uma última olhada no homem, que babava mais uma vez.

- Sangue...sangue...tanto sangue. – sussurrava o velho.

‘’Realmente. Muito sangue’’, pensou Pereira saindo do quarto e batendo a porta. A enfermeira baixinha vinha voltando.

- E então? – perguntou tentando ser simpática.

Pereira passou por ela e quase derrubou a prancheta de suas mãos.

- Grosso.

Estava entrando em seu carro quando seu celular tocou.

- Siqueira?

- E então meu amigo? – o tom de Siqueira e de apreensão. – Alguma coisa com o velho?

- Nada. Ele está quase maluco.

Pereira ouviu uma tímida risada de Siqueira do outro lado da linha.

- Eu também acho que ele não viu nada.

- Ele viu sim.

- Descobriu algo? – Siqueira estava em dúvida.

- Sim, descobri. Ele viu muito sangue.

Siqueira soltou uma ardente risada. Eram raros os momentos que Pereira tentava descontrair um pouco.

- Foi perda de tempo. Eu tenho um lugar pra ir agora. E...creio que posso sair de lá cheio de informações. – disse fechando a porta e ligando o carro pra acabar de vez com aquela conversa.

- Você tem que passar aqui antes.

Pereira arqueou as sobrancelhas.

- Não tenho nada o que fazer aí.

- Sabe, eu não quis te contar logo de manhã pra não encher sua cabeça de coisas. – Siqueira sabia que levaria uma sonora bronca. – É que...você vai ter um ajudante nessa investigação.

- Ajudante? – gritou Pereira sem saber que Siqueira afastava o telefone do ouvido do outro lado da linha. – Seja lá quem for esse otário, manda ele embora.

- Pereira...

- To desligando.

........

Na grande mansão o silêncio tomava conta dos hóspedes. Apesar do tratamento hostil que vinham tendo do mordomo, que se esgueirava pelos cantos silenciosamente, eles permaneciam silenciosos e aparentemente tranquilos. Ninguém parecia estar realmente triste.

‘’O que esse homem fez no passado que não me contou?’’, Silva se perguntou enquanto observava nas sombras. Cada um estava em seu canto. Esperando por alguma coisa que ainda não sabiam. Por que foram chamados se não haveria enterro?

Foi aí que Adriana, sozinha em seu antigo quarto, começou desconfiar que algo estava pra acontecer. ‘’Claro que sim. O testamento’’, pensou aliviando um pouco sua mente e se olhando no enorme espelho que refletia aquele quarto imenso.

O quarto podia ser muito maior do que algumas casas por aí. E para o deixar ainda mais gracioso, havia uma enorme cama no centro, forrada por um lençol caro e vigiada por um criado mudo. O abajur antigo e as paredes bem enfeitadas com alguns quadros que ela não conhecia , deixavam o ambiente ainda mais agradável. ‘’Esse é um quarto’’, pensava enquanto deitada em sua cama olhava pela janela aberta para o imenso jardim descuidado.

Quem olhasse para aquele jardim jamais poderia imaginar que um dia fora cheio de cor e vida. Crianças de todos os lugares passavam o dia brincando de namorados em meio as flores que sua mãe cuidava como se fosse um filho recém-nascido. Isso porque os três filhos já estavam bem grandinhos pra serem paparicados como um jardim.

Enquanto as lágrimas caiam mais uma vez naquele dia, ela pensou mais uma vez no passado terrível. Não só seu. De seus irmãos, de sua mãe, e vai saber de quem mais. Seu pai tinha a fama boa na sociedade, rica ou pobre. Quem o visse frente os holofotes jamais poderiam imaginar que ele era um velho violento e arrogante, que batia na mulher e nem dava atenção para os filhos. Ele os chamavam de ‘’abortos da natureza’’, e cuspia em suas caras. Era um fantasma e tanto que Adriana ainda não havia conseguido exorcisar.

Pensou nas pessoas presentes ali na mansão e também nas que não estavam. Sua tia não havia vindo e ela sentiu falta de sua presença. Manoel Bastos tinha uma irmã, a pessoa que Adriana mais gostava na família, junto com seu irmão Gabriel. Quanto a Artur, ela tinha raiva dele. Mas ainda o amava. Antes daquele derradeiro dia ele era um irmão presente, que gostava de brincar com seus irmãos mais novos. Parecia que a forma como ele havia levado a vida o tinha transformado completamente.

E ainda pensando em tudo em todos adormeceu depois de muitas horas.

Só foi acordada minutos depois com o telefone que tocava no criado mudo.

- Sim?

- Adriana Bastos? – era aquele homem estranho que a tinha recebido logo de manhã. Sua voz era assustadora. – Peço que desça já. O detetive Pereira tem algumas perguntas a fazer.

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Não é querer fazer jogada de marketing, mas digo que o próximo capítulo(4), está sendo o melhor até agora. Não só porque ele vai dar um rumo definitivo na história, mas também porque é o mais bem escrito de todos.

Devo dizer que eu não tenho a história pronta. Estou escrevendo ao mesmo tempo em que posto aqui. E acho que os comentários de incentivo, e esse site fizeram muito bem pra mim. Estou aprendendo muito.

Então leiam os capítulos anteriores e o prólogo. E aguardem, que dentro de 2 a 3 dias, postarei o Cap.4.

Leiam também a pequena sinopse que eu fiz da minha história. Está lá em ''Resenhas''. Entendam melhor o que se passa.

Obrigado.

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 24/08/2012
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