NOBRE SENHOR!

A lua brilha na penumbra da noite, envolta entre nuvens nebulosas, frias.

A sombra de uma bengala é refletida na água que burila na correnteza calma do rio.

Quem a segura é um nobre Senhor, que permite seu pensamento seguir o curso do rio que deságua no oceano.

Pigarreia, quebrando o silêncio que o envolve sorrateiramente.

Levanta o chapéu, olha para a lua, puxa uma tragada do charuto que o acompanha desde tenra idade.

Bafeja a fumaça entre mosquitos que vagueiam sobre sua cabeça embranquecida pelo tempo.

Senta numa pedra, e respira profundamente, como a lembrar do seu passado juvenil naquelas paragens.

Envolto em seus pensamentos traga mais uma vez o charuto, que ilumina os seus olhos avermelhados, doentios.

O câncer na garganta faz com que os mesmos saltam das órbitas oculares em progressões severas.

A respiração ofegante denuncia que os órgãos respiratórios já estão afetados.

Respira profundamente, mais uma vez, sentindo seu coração bater descompensado.

Levanta com dificuldade, sentindo as pernas bambas.

Retira o chapéu, com as mãos trêmulas.

Olha mais uma vez para a lua e traga intensamente.

Tossi, pigarreia, estremece!

Leva a mão no peito, e tomba de joelhos em agonia, com o veneno na mão, que ainda em brasa sorri do moribundo.

Naquela noite só a lua testemunha a morte do Nobre Senhor.

Deomídio Macêdo
Enviado por Deomídio Macêdo em 29/08/2012
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