O senhor da discórdia: Capítulo 15 ao 19

CAPÍTULO 15

Na jaula, eles permaneciam apavorados. Aqueles dois fortões estavam em pé, os observando e rindo.

- A última peça do quebra-cabeça está chegando. – anunciou Pedra sorrindo.

- Vocês são uns covardes! – gritou Artur.

- Somos covardes sim. Adoramos ser covardes. – zombou Pedra, em seguida caindo numa gargalhada irritante.

- Vocês todos vão ter uma surpresa, logo, logo. – disse Rocha.

As expressões de todos ali na jaula se tornaram curiosas.

....

Pereira e Adriana corriam mais uma vez, só que agora bem mais rápido. Era uma corrida contra o tempo.

Eles se assustaram ao ver que o mapa indicava a casa do velho. ‘’Só pode ser armadilha’’, pensava Adriana enquanto Pereira controlava seu carro como podia.

- Acelera mais! – gritou Adriana.

Pereira assentiu e enfiou o pé no acelerador.

....

No quarto de Silva, o corpo nu estava estirado no chão, em cima de uma grande poça de sangue. Enfim ele estaria em paz. Havia cumprido seu castigo.

E sobre a cama, seu celular estava tocando havia vários minutos. E o nome que aparecia na tela era ‘’Manoel Bastos’’.

Continuaria tocando.

....

Pereira estacionou o carro de qualquer forma e desceram do carro correndo. Mas ele tinha mais uma coisa pra fazer antes de entrar na casa. Sacou o celular e ligou para Siqueira.

- Siqueira, eu preciso de reforços!

Deu o endereço e as coordenadas da casa e desligou. Olhou para Adriana e foram correndo até a casa. E nesse desespero todo, ela nem prestou atenção que o carro do seu pai estava parado logo em frente.

....

Dentro do luxuoso carro preto, ele tentava ligar para Silva, o seu filho mais novo. Ele não atendia e isso o deixava preocupado. Enfim desistiu.

Tinha coisas mais importantes a tratar.

....

Adriana e Pereira abriram a porta de uma vez e não viram ninguém. Vasculharam os quartos e o banheiro, mas nada do velho. Quando entraram na cozinha, viram o seu corpo estirado no chão envolto por uma enorme poça de sangue. Ele estava morto.

E enquanto observavam o corpo morto do velho, dois fortões os agarraram. Mesmo Pereira sendo muito forte, ele não conseguia se soltar. O homem era de uma força incrível. Os levaram até o quintal, e o que eles viram os deixou abismados. No meio do quintal havia uma jaula gigante. Mas o que mais chamou a atenção era o que tinha lá dentro. Todos estavam lá: Artur, Gabriel, Natalina, Almir, Ézio, Samira e mais duas pessoas que Adriana não reconheceu. Pereira conhecia a moça que estava em pé e desesperada. E fora da jaula, sua prima Silvia estava amarrada e amordaçada, com os olhos arregalados de desespero.

Os grandes abriram a porta e cada um sacou uma arma.

- É melhor entrarem. – disse Rocha.

Cautelosamente, Pereira e Adriana entraram na jaula. Pedra fechou a porta de uma vez e depois a trancou.

Todos se entreolhavam abismados, até que foram chamados a atenção por uma pessoa que entrava no quintal.

O velho sorridente que estava ali parado surpreendeu a todos. Era Manoel Bastos.

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Antes de lerem o cap 16, devo avisar que ele contem a linguagem muito chula. Se alguém se sentir incomodado, não diga que eu não avisei kkk

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CAPÍTULO 16

Ele era um velho de sessenta e quatro anos, mas aparentava ter uns quinze a menos. Era de uma vivacidade incrível. Além de ter um corpo atlético para alguém da sua idade e demonstrava boa disposição. Mesmo assim não fazia questão de esconder os cabelos grisalhos, já presentes. Seu olhar era profundo e faiscante, de um negro bem escuro e observador. Sua pele ainda não estava toda enrugada, e seu sorriso era jovial. Ele estava vestido de social. Camisa, calça e sapatos. Com as mãos nos bolsos da calça, ele sorria e rodeava a jaula, observando cada rosto que o encarava. Sua aparição havia petrificado a todos. Menos a Adriana e Pereira. Quando ele falou, sua voz ecoou por todo o quintal.

- Ora, ora, vejam só. Todos estão aqui. Senti saudades de vocês. Não tem consideração por mim? Um pobre velho vivendo sozinho? Uma visita de vez em quando ia bem.

Ele falava circulando a jaula, com um sorriso estampado e as mãos no bolso. Pedra e Rocha observavam.

- Ah, eu andava muito triste ultimamente. Sabe de uma coisa? Eu acho que estava até depressivo. A única coisa que me satisfazia era o cuzinho dessa moça quase sem roupa. Saudades do meu pau, Bruninha?

Ele riu e todos o encaravam como se estivessem querendo esganar o velho. Ele continuou.

- Bruninha... Se vocês soubessem a cachorra que essa moça é na cama. Se eu fosse mais velho já teria morrido do coração. – soltou uma sonora gargalhada enquanto todos o encaram em silêncio. – Qual é a de vocês? Todos mal humorados. Saibam que a receita de uma vida longa é a risada. Olhem pra mim, estou novinho.

- Você é um encardido. – sussurrou Adriana.

Manoel se aproximou e ela cuspiu em sua cara. Ele sorriu e sacou um lenço do bolso de trás da calça. Limpou o rosto e sorriu mais uma vez.

- Você minha filha, sempre foi a corajosa, não é? Sempre quis ajudar, não deixava seu irmãozinho encardido apanhar. Tentava ajudar sua mãe.

Adriana estava à beira das lágrimas. Mas não ia dar o privilégio para o seu pai, chorando na frente dele.

- Mas parece que não conseguiu ajudar sua mãe, não é? Se não me engano, ela morreu.

- Cala a boca! – gritou Gabriel.

Manoel se virou para ele.

- E você, seu inútil? Vejo que se tornou um mendigo. Quer uma gorjeta? Ou você é daqueles que preferem um gole de cachaça? Se quiser eu busco. Ou quer beber o meu xixi quentinho? Você é um traste mesmo...

Gabriel observava respirando rapidamente. Queria sair dali e matar seu pai enforcado. Todos permaneciam prestativos e perplexos. Principalmente Pereira, que agora conhecia o verdadeiro Manoel Bastos.

- Você sempre foi um merda. – continuou Manoel. – Eu sempre tive vergonha de ter você como filho.

- Você nunca ligou pra gente! – gritou Adriana.

- Não, eu nunca liguei. Simplesmente por isso. Você, Gabriel e Artur são três merdas que não foram embora depois que deram descarga.

Todos os rostos estavam fechados. Ninguém ousava dar um pio.

- Vocês todos são uns inúteis. As suas expressões são impagáveis. Eu esperei tanto pra ver esses rostos. Eu mando em vocês... Vamos lá, Artur. Cadê o velho e arrogante Artur? Está parecendo um cãozinho com medo das bombas. Sabe que de vocês três, você é o mais covarde? Deixou seus irmãos sozinhos enquanto eu matava a mãe de vocês. Você é um merda...

Em seguida olhou para Gabriel.

- Meu filhinho querido... Gabriel. Puxou a sua mãe. Os mesmos olhos verdes. Ela era linda, não era? Pena que morreu tão jovem... Você se lembra, não é Gabriel? Aquele dia frio, no porão. Vocês só souberam chorar. Já tentou desenterrar os ossos dela? Saiba que a mansão está aberta caso queira fazer isso...

Gabriel se continha para não explodir. Manoel se virou para Adriana.

- Minha filha do meio. Sabe que você é a única que me dá uma pontinha de orgulho? Você tem um corpo incrível. Presumo que deve dar pra Deus e o mundo, to certo? Quantos que você leva pra cama em uma noite? Quatro? Seis? Você deve ter uma bocetinha deliciosa...

Pereira olhava a ação do homem incrédulo. Como ele tinha coragem de dizer isso para sua filha? Em seguida Manoel se virou para a irmã.

- Natalina Bastos... Minha irmãzinha do coração. Quem te viu quem te vê, hein? Tá acabada... E pensar que já foi uma vagabunda e tanto. Tanto é que trabalhava num bordel, isso você não pode negar. Ainda dá no coro? Acho que não, seu marido é um trouxa...

Todos permaneciam silenciosos e ofegantes de raiva. Manoel se virou para os seus amigos.

- Robert e Ézio... Não tenho o que reclamar de vocês. Sempre foram meus companheiros fiéis. Talvez eu os liberte... Se chuparem o meu pau. – soltou uma risada aterrorizante em seguida. Mas logo se recompôs e olhou para Samira. – Minha sobrinha linda. Fiquei sabendo que você se tornou uma biscate. Almir, como você deixa uma coisa dessas acontecer? Uma moça linda assim... Na verdade tem é que dar mesmo. Tá ouvindo Adriana?

Em seguida ele se virou para Almir.

- Almir, Almir. O que falar de você? Sempre foi um ordinário assim como eu. Gosto de ter você como irmão, sabe disso. Mesmo assim to gostando de ver você com essa cara assustada...

Em seguida olhou para Bruninha e esboçou um sorriso malicioso.

- Acho que você é a única que vou soltar. To precisando do seu cuzinho apertado, ando muito carente desde que você não apareceu mais na mansão. To com saudade dos seus peitinhos duros, enfiar o dedo na sua bocetinha... Se lembra de como eu fazia? Com voracidade. Enfia e tira, enfia e tira. Você gostava que eu sei, gritava a noite inteira... Aposto que tá molhadinha agora se lembrando do meu pau grande metendo como um cavalo.

- Cala a boca, pelo amor de Deus! – gritou Adriana balançando a grade.

- Calarei. Espere mais um pouco, sei que a minha voz é chata. Tá quase na hora do meu almoço. E vocês, estão com fome? Quem saiba eu não traga um pouco de bosta pra vocês comerem?

Em seguida ele olhou para Pereira e sorriu.

- Você é o detetive do caso, certo? Descobriu quem é o meu assassino? Se descobrir me conta, tá?

Depois ele olhou pro lado e viu Silvia com o olhar desesperado.

- Olha, quase me esqueço de você. Fica tranquila, daqui a pouco eu te liberto dessa mordaça...

Manoel parou de falar e observou atentamente cada rosto, sempre com o mesmo sorriso. Depois de muito tempo ele tirou as mãos dos bolsos. E continuou:

- Deixem-me falar os motivos que me levaram a fazer isso com vocês... Bem, eu estava em casa, no meu escritório, chato como sempre. Não tinha nada pra fazer. Eu saía pra beber um pouco e comer umas prostitutas, mas isso ainda era pouco. Eu precisava de ação. Então... eu tive a brilhante ideia do assassinato e do testamento. Não acho que vocês foram idiotas o bastante de acreditar no testamento? Devo dizer que Oliver fez um grande trabalho... E como eu ia dizendo, eu precisava me divertir mais. Aí eu inventei o assassinato pra fazer vocês voltarem para a mansão. Pensando bem, acho que aquele homem assassinado teve o azar de se parecer comigo, não acham? E claro, como poderia me esquecer? Aquele casal de velhos são grandes atores. Ou vão me dizer que acreditaram que justo naquele dia o velho resolveu ir até o riacho? Sim, pelo que me disseram, ele é um grande ator. Agora deve estar curtindo o meu dinheiro em algum lugar lindo com a mulher. Enganaram vocês direitinho, hein? E também tem o Manoel Júnior. Vocês o conheceram? – ninguém conhecia Manoel Júnior. – Ah, sim! É claro que vocês não conhecem. Ele é o mordomo. O Silva. Meu filho mais novo.

Todos ficaram perplexos com a revelação. Principalmente Adriana. ‘’Eu fui estuprada pelo meu próprio irmão?’’.

- Vocês não se lembram de um rapazinho estranho que ficava rondando a mansão? – perguntou olhando para os filhos. – Pois é. Ele é o único filho que eu admiro. Me ajudou muito. E então, como ia dizendo, resolvi fazer essa brincadeira com vocês. E devo dizer que estou me divertindo muito. Os rostos de vocês não tem preço... E aí, o que vão fazer? Estão sem os celulares... Podem tentar sinal de fumaça. Não, não ia dar certo, não é? Mas ainda to pensando o que vai acontecer com vocês. Talvez eu os deixe aí pra sempre, quem sabe?

Todos olhavam incrédulos para Manoel sem saber o que fazer. Talvez naquela hora o silêncio fosse o principal aliado. Não podiam fazer nada. ‘’Desgraçado seja Siqueira’’, pensava Pereira. ‘’Onde está o reforço que não chega?’’.

E Manoel Bastos olhando cada rosto atônito, permanecia sorridente.

....

Assim como Pereira havia pedido, Siqueira mandara reforços para qualquer eventualidade. Quatro carros da policia cercaram a casa. Se demorassem mais alguns minutos lá dentro teriam que invadir.

- A gente invade agora? – perguntou um policial com a arma apontada para a casa.

- Não, vamos esperar mais um pouco. – disse o sargento Farias.

Qualquer barulho que eles ouvissem lá dentro seria motivo pra invadir. Mas por enquanto só esperavam. Atentos.

....

Lá dentro, no quintal, Manoel permanecia observador e sorridente, enquanto todos permaneciam perplexos e apavorados.

- Bem... Acho que vou dar uma saída. Vocês vão ficar bem? – perguntou com a sua voz sempre irônica.

- Eu te odeio. – murmurou Artur com os dentes cerrados.

- Todos nós te odiamos. – agora foi Samira quem falou.

- Você merece se tornar comida pra cachorro. – disse Natalina.

A cada palavra atirada nele, Manoel sorria mais. Parecia estar se divertindo bastante.

- Eu paguei por isso. Ver vocês esbravejando. Isso não tem preço... Saibam que estão dando uma diversão e tanto pra mim. Eu agradeço...

Foi interrompido por um arrombar de porta e olhou desconfiado para Pedra e Rocha.

- O que foi isso? É a policia?

Antes que uma resposta fosse dada, três policiais entraram com armas empunhadas no quintal. O que estava na frente tomou a palavra.

- Se rendam. Vai ser melhor assim.

Manoel ergueu os braços cautelosamente, mas com uma habilidade incrível, levou a mão ao bolso e sacou uma arma, dando um tiro em cada policial.

- Peguem a moça! – gritou para os grandalhões.

Rocha foi até Silvia e a pôs de pé, apontando uma arma para sua cabeça enquanto saiam correndo dali.

- Não! Não! Minha filha não! Por favor... – Natalina chorava e não conseguiu se manter de pé, caindo no solo da jaula. Adriana se abaixou para consola-la. E ficaram abraçadas enquanto todos esperavam que eles fossem pegos.

Lá fora, os policiais apontavam suas armas para os três homens. Mas não poderiam atirar.

- Se atirarem, ela morre! – gritou Manoel.

- Vamos negociar! – gritou o sargento. – Se entreguem! Não queremos machucar ninguém!

Manoel Bastos riu e abaixou a voz para falar com os dois grandões.

- Vamos lentamente até o carro.

Com a arma apontada para a cabeça de Silvia, eles foram caminhando vagarosamente até o carro estacionado do outro lado da rua. Mesmo com os policiais estando a frente, eles não se intimidaram. Manoel atirou em mais dois e assim correram para o carro. Enquanto davam a partida, alguns policiais tentavam acertar os pneus, mas todos os tiros saíram errados.

O carro preto de Manoel saiu cantando pneu a toda velocidade. Pedra era um motorista profissional, então se os policiais quisessem pegá-lo, teriam que suar muito.

- Acelera mais! – gritou Manoel no banco de trás.

Silvia tentava gritar, mas a mordaça não deixava. Manoel tirou a fita e em seguida a livrou daquele pano úmido de saliva.

- Queria que você salivasse assim no meu pau.

Os três riram e Pedra pisou fundo, vendo pelo retrovisor que eles estavam um pouco longe.

Entraram num trânsito infernal e Pedra sem ligar se batia ou não, avançava costurando os carros com toda a maestria possível. Era um piloto profissional, treinado para esse tipo de situação. Ele já se envolvera em diversas perseguições e sempre saíra bem. Só que ele havia se esquecido que estava fugindo da policia pelas ruas de São Paulo. Não em uma cidadezinha interiorana. E quem estava comandando a perseguição era Farias. O sargento mais temido da cidade. Dentro do seu camburão, ele não desgrudava os olhos do carro mais a frente e dirigia com maestria. Mandou que o policial que estava ao seu lado pegasse o rádio e ordenasse que os outros camburões fechassem a rua. Pedra era bom piloto, mas não inteligente. Eles já estavam presos.

Fazendo manobras para não bater e manter toda a velocidade, Pedra olhava pra trás e via que os policiais ainda estavam longe. E nessas rápidas olhadas ele sempre tirava risca dos carros, conseguindo desviar por um milímetro. Enquanto isso, Farias deixava que ele pegasse distância para achar que estavam bem. Assim, seguiriam em frente e cairiam na teia de camburões. Farias dava risadas pela burrice do homem.

Percebendo que dificilmente seriam pegos, Pedra acelerou mais e passou cruzando sinais e costurando motos e carros, causando vários tombos de motoqueiros. Manoel olhava pra trás e via que os carros ainda estavam longe. Silvia permanecia amarrada e assustada. Manoel olhou pra ela com um sorriso malicioso.

- Sabia que você é uma gracinha? – perguntou passando a mão pelo liso rosto dela. – Nós estamos em três e temos pintos grandes. Já experimentou dois paus ao mesmo tempo? Depois vai experimentar...

- Não vou experimentar nada! Vocês vão ser pegos! – gritou Silvia. Depois cuspiu no rosto de Manoel. Já era a segunda.

Enquanto isso, os carros abriam espaço para a policia percebendo que se tratava de uma perseguição. Com a ajuda, os camburões conseguiram chegar mais perto. A primeira estratégia era tentar parear um carro de cada lado e assim fechar o carro preto de Manoel. Em seguida tentariam uma batida. Mas essa estava descartada por Farias.

Pedra seguia com sua extrema habilidade, e conseguia se sair bem dos carros, deslizando como se estivesse numa pista de gelo. Mas sem perceber, ele estava caindo na outra armadilha. Mais a frente, um enxame de carros da policia cercavam as ruas. E aos poucos, outros carros se espalhavam pela cidade. Seria difícil ele conseguir escapar dessa.

Vendo o mundaréu de camburões à frente, só restava uma alternativa para Pedra. E a mais perigosa. Jogou o carro de uma vez para a contramão e por pouco não foi atingido por um carro que passava. Conseguiu se firmar e passando aperto, ele se livrava dos carros da melhor forma que podia, mesmo sabendo que agora as chances de fuga eram bem menores. Despistá-los ia ser impossível. Os carros vinham e os braços fortes de Pedra estavam cada vez mais cansados. Manoel estava apavorado no banco de trás. Gritava e dava ordens para Pedra, que não ouvia nenhuma. Só queria se livrar como podia dos carros e escapar das garras da policia. E raspando em uns e tirando riscas de outros, ele conseguiu se segurar bem, até que num momento de desatenção, bateu de frente com um carro que atravessava em alta velocidade, causando um grande estrago no automóvel de Manoel. E tentando se livrar dos cintos rapidamente para sair do carro, os policiais chegaram atirando nas rodas e cercando o carro.

Lá dentro, eles estavam apavorados e só tinham uma alternativa. A refém.

Apontando a arma para a cabeça de Silvia, eles desceram cautelosamente empunhando seus revólveres. Mas num gesto de extrema frieza, um policial acertou um tiro certeiro na testa de Rocha, que largando Silvia, caiu pra trás causando um grande estrondo pelo seu peso. Foi a oportunidade certa para os policiais avançarem e agarrarem Pedra e Manoel. Foram algemados e alguns policiais exaltados deram fortes pancadas em suas cabeças. E mesmo Pedra sendo extremamente forte e podendo resistir, ele ficara abalado pelo irmão. Estava morto.

Foram levados aos solavancos, cercados por muitos policiais e cada um foi jogado em um camburão. Enfim estavam presos. Quando as pessoas descobrissem o que havia acontecido, certamente ficariam chocadas. Manoel Bastos era um assassino e fugitivo da policia. Logo estaria em todos os noticiários.

E em seguida os camburões saíram a toda velocidade.

O sargento Farias estava conversando com um policial.

- Que velho desgraçado. Maquinar uma coisa dessas...

- É, mas ele foi pego. Vai apodrecer na cadeia.

Farias assentiu e entrou no camburão. O outro policial também entrou.

- Vamos libertar aquelas pessoas daquela jaula!

CAPÍTULO 17

A tarde de Pereira foi longa e cansativa. Ele passou horas dando entrevistas e tentando explicar o caso da melhor forma possível para a imprensa. E em questão de minutos, o ‘’Santo Manoel’’ se tornara num assassino.

Depois de suas declarações, as mesmas pessoas que choravam e saíam às ruas no dia anterior, agora estavam desesperadas e perplexas. Agora elas exigiam justiça contra Manoel. E saíam as ruas novamente, mas agora para protestar.

Ao conseguir se livrar do bombardeio de perguntas, Pereira sentiu-se aliviado e se encaminhou até o departamento em que trabalhava. Tinha que esclarecer alguns detalhes com Siqueira.

Estavam novamente no escritório, mas aquele velho clima de tensão havia passado. Com tudo resolvido, agora eles podiam sorrir e falar sobre o caso em tom de brincadeira. Pelo menos para Siqueira.

- Você disse que a mulher do homem assassinado se matou? – perguntava Pereira sentado na desgastada cadeira do escritório de Siqueira.

- Sim. Pelo que parecia, eles eram muito unidos. Um amor verdadeiro... Mas no fundo eu acho que a culpa foi minha. – suspirou Siqueira.

Pereira o encarou duvidoso.

- A culpa foi sua? Por que diz isso?

- Eu contei pra ela que o marido havia sido assassinado para parecer que era Manoel que estava morto. Eu não sabia que ela ia ter essa reação...

- A culpa não é sua. – defendeu Pereira. – Você não podia adivinhar.

Siqueira assentiu e sorriu em seguida. Abriu a gaveta e tirou um bloco de papel. Pereira encarou enquanto ele virava as folhas.

- O que é isso?

- Se eu te contar você não vai acreditar.

Pereira se levantou e pegou o bloco na mão. Conforme ia lendo sua expressão se fechava novamente.

- Não acredito... Eu mereço um descanso.

- E você vai ter o seu descanso.

- Vou?

Siqueira riu e pegou o bloco novamente.

- Esse caso é do Augusto.

....

Estavam todos na mansão e agora parecia que finalmente teriam paz. Os dois dias foram intensos e cansativos demais. Enfim teriam o merecido descanso.

Adriana observava todos atentamente, e conforme via todos sorrindo, sorria também. Sua cabeça agora estava tranquila e leve. Ela permanecia em pé, no meio da grande sala, pensando em tudo o que havia acontecido. Mas alguma coisa no seu peito ainda era pesada e desconfortável. Ela sentia que não havia acabado. Se tratando de Manoel, poderia se esperar tudo. A forma como ele havia aparecido e as coisas que disse, ainda ressoavam em seu cérebro, que trabalhava lentamente naquela hora. E o corpo de Silva que foi encontrado nu e no meio de uma poça gigante de sangue, também a intrigava. Ele havia se suicidado. Por que? Sua cabeça precisava de descanso.

Ela se afundou no sofá e abaixou a cabeça, tentando pôr seus pensamentos em ordem e decidir o que faria. Mas os pensamentos foram interrompidos quando sua tia sentou-se ao seu lado.

- Preocupações?

Adriana olhou para ela e sorriu. Estava contente em vê-la. E Natalina estava mais contente ainda, por sua filha ter sido salva.

- Nem tantas... Só pensando mesmo.

- Seu pai nos pregou uma peça e tanto, não é?

- Pois é. – respondeu com cansaço na voz.

Natalina olhou melhor ao redor da sala e suspirou. Fazia tempo desde a última vez em que estivera ali, enquanto a mansão era cheia de vida. Agora parecia ser um lugar vazio em ruínas.

- Olha esse lugar. E pensar que um dia isso já foi tão lindo e agradável...

- Agora é um lugar vazio em ruínas.

- Você leu o meu pensamento, menina?

As duas riram com ar cansado. Adriana percebeu que Artur parara na entrada da sala, observando-a.

- Parece que seu irmão quer conversar com você. – disse Natalina.

Saiu dali e Artur sentou-se ao seu lado.

- Eu... queria te pedir desculpa, Adriana. Fui, ou melhor, sou um idiota.

- Não precisa se desculpar. Eu te amo mesmo assim.

Os olhos de Artur lacrimejaram e ele abraçou sua irmã como nunca havia abraçado.

- Eu sempre te admirei, Adriana. – murmurou Artur.

- E nunca quis admitir, não é?

Ele balançou a cabeça com um sorriso um tanto tímido.

- Nosso pai é um monstro.

Adriana só assentiu.

- E Gabriel? – perguntou Artur sem aquela voz arrogante. – Não me parece nada bem.

Adriana assentiu preocupada e se levantou.

- Ele está no jardim. Vamos até lá.

Eles saíram de mãos dadas e viram Gabriel no meio do jardim conversando com Silvia. Eles pareciam sorridentes. Deviam estar conversando sobre algo muito bom. Adriana só tinha esse último pensamento feliz de Gabriel. Quando eles olharam melhor, um homem, que mais parecia um monstro invadiu a mansão e ferozmente foi pra cima de Gabriel o fulminando com três tiros certeiros. Adriana pensou estar tendo um pesadelo e desabou enquanto Artur correu até eles e com um chute certeiro, tirou a arma das mãos de Hugo Perez. O que se seguiu depois foi uma luta entre Artur e Hugo, mas o boliviano parecia estar satisfeito, mesmo sendo espancado por Artur. Gabriel estava caído no chão, esticado e com os braços abertos. Sua expressão parecia feliz. Adriana correu até ele e chorou como nunca havia chorado. Queria que o irmão se levantasse e dissesse que não passara de uma brincadeira para tentar descontrair. Mas não, o sangue era real. Gabriel estava morto. Aos poucos se formou um círculo em torno do corpo estirado no chão e de Adriana, que permanecia abraçada com o irmão naquela grande poça de sangue.

Chorando.

O enterro de Gabriel na manhã seguinte foi regado de silêncio e algumas lágrimas. Adriana não tinha mais nada para chorar. Ela tentava, mesmo que fosse difícil, se conformar e ser forte. Ficou abraçada com Artur durante todo o ritual. O velório e o enterro.

Gabriel foi enterrado debaixo de uma chuva fina, e depois que todos já haviam ido embora, Adriana e Artur, permaneceram no cemitério abraçados. Não se ouvia uma palavra por parte dos dois.

Mas Adriana estava com a cabeça em outro lugar. Ela ainda tinha mais uma coisa pra fazer.

CAPÍTULO 18

Manoel Bastos olhava cada um dos presos na imensa quadra da prisão em que estava. Não tivera direito a cela com televisão e mordomias. Infelizmente dessa vez, a lei não funcionara a seu favor.

Ele observava cada um em silêncio e sentia repugnância pelos presos. Ali não era o seu lugar. Estava no local errado. Olhou para si próprio e quis tirar a roupa laranja da prisão. Mas ele sabia que não ficaria muito tempo ali. Era questão de dias para ele estar de volta a sua mansão e brincar com suas queridas garotas de programa.

Um preso que o encarava chamou sua atenção. Era um gigante de mais de dois metros e tinha os olhos vermelhos.

- O que você tá olhando? – perguntou Manoel enquanto o gigante se aproximava.

- Então você é o famoso Manoel Bastos? – a voz do homem era um sussurro pelo seu tamanho.

- Que foi? Quer saber se eu já comi sua mãe?

O gigante permaneceu encarando Manoel e sacou uma faca de seu bolso. Manoel encarou aquele objeto recuando.

- O que você vai fazer, grandão? Eu tava só brincando...

O gigante não deixou ele terminar de falar e enfiou a faca em seu estômago, fazendo ele cair. Em seguida, pra garantir, passou com a faca em sua jugular.

Aquele era o fim de Manoel Bastos.

CAPÍTULO 19

Sob o sol que começava a despontar no horizonte, Adriana e Artur estavam cada um segurando uma pá no meio do jardim, bem naquela parte irregular, onde sua mãe fora enterrada há quase vinte anos atrás. Adriana havia tirado o luto e estava de blusinha e shortinho curto. Ela sabia que ia ter que suar bastante. Artur a observava atento.

- Tem certeza de que quer fazer isso?

Ela assentiu decidida e pegou sua pá, mostrando para Artur que queria realmente fazer aquilo. Ele balançou a cabeça entendendo e começou cavar. Adriana começou em seguida.

Ela não se lembrava muito bem se o buraco era muito fundo, mas se lembrava que seu pai ficara quase uma hora cavando. Então devia ser muito fundo.

A cada pouco de terra que ela tirava, ela sentia como se estivesse tirando o peso de suas costas. Ela cavava determinada, como se estivesse desenterrando um fantasma do seu passado, que ainda a assolava.

Ela cavava e limpava o suor com a frente da mão, mas não cessava o ritmo forte, junto com Artur, que também cavava com determinação. De vez em quando eles lançavam rápidas olhadas um para o outro e sorriam. O que estavam fazendo era loucura, mas valia a pena.

Artur já não estava mais em casa quando sua mãe foi enterrada no jardim, mas imaginava os ossos de sua mãe ali embaixo. Quem sabe ela não estivesse inteira? Sempre com aquele belo rosto sorridente. Não. Era querer demais.

Adriana sentia seu coração pulsar mais acelerado conforme o buraco ia se aprofundando mais. Sua alma começava a dançar ao vento, livre de pesadelos, como nunca havia sido. Em vez de sentir tristeza, ela ria enquanto cavava. O sol ainda fraco não era um problema para ela.

Enfim bateram a pá no que parecia ser algo duro. O buraco já devia estar com uns dois metros de profundidade. Eles estavam lá dentro, cavando mais um pouco e achando os ossos deteriorados de sua mãe. Mas o vestido branco que ela vestia ainda estava intacto. Como que por obra do destino.

Os dois riram em vez de chorar. Eles se abraçaram suados e assim permaneceram durante minutos. Até Artur se abaixar e pegar os ossos de sua mãe. Como eles levariam lá pra cima era um problema que não tinham pensando.

Mas enfim sua mãe poderia ter um enterro digno.

E enfim o espírito de Adriana e sua mãe poderiam ter uma coisa que nunca tiveram.

Paz.

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Obrigado a todos que acompanharam e fizeram dessa história o que eu não esperava.

Graças a vocês eu continuei ela e consegui termina-la.

Obrigado mesmo.

Especialmente á (Gantz, Sonia Maria Piologo, Claudynha, Zeni Silveira, Julio Cesar Dozan, Naor Willians e Messerschmitt)

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 04/09/2012
Reeditado em 04/09/2012
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