Ontem eu vi um cara

Ontem eu vi um cara.

Não era belo, não era feio, era apenas um cara.

Seu rosto era composto de uma barba rala, mal feita; uma ou duas noites mal dormidas que causaram um roxo profundo de olheiras mas, o que realmente me chamou atenção naquele cara era a ausência da própria sombra ao passar pela luz.

Era noite, um poste após outro ele ia passando, e a sombra ligada a seus pés não se formava, não andava junto.

Seu olhar era marcante. Um olhar distante, longo, perdido.

Esse homem andou até a mais alta ponte seca da cidade.

Subiu no parapeito e olhou para baixo.

Seu cabelo desgrenhado voava ao vento enquanto ele analisava a queda.

Então o homem, que já tinha decidido o que estava para fazer, colocou os pés mais para frente, alinhados com o final da ponte.

E com aqueles olhos azuis e a face cansada ele me viu.

E com o susto que teve, se desequilibrou e seu corpo foi jogado pra trás, fazendo-o cair com as costas no asfalto.

Foi então que uma luz muito forte o iluminou.

Uma luz forte, que mesmo parecendo poder cegá-lo, ainda assim não produziu sombra alguma.

Então minha missão foi cumprida. Seu crânio foi achatado pelas rodas do caminhão.

Prazer, eu sou a morte!

E quando até mesmo a sombra é capaz de te abandonar, é sinal de que eu estou espreitando... E de uma maneira ou de outra, eu vou te levar...

Álisson Zimermann
Enviado por Álisson Zimermann em 18/10/2012
Reeditado em 19/10/2012
Código do texto: T3939788
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