Sombra no espelho
No escuro da noite e na luz de meu quarto, eu a vi, tão bela quanto a um quadro. Jamais esquecerei aquela face corada e aquele sorriso singelo que naquele momento tanto amava vislumbrar. Eu sabia que ao meu alcance ela não poderia estar e que tal quimera poderia ser o auge de minha loucura, mas, eu desejava tê-la em meus braços, não importava se só por uma noite ou um minuto.
Sua presença lúgubre fixava seu olhar em mim. Seria realmente uma ilusão?
Como um tolo enganado pela própria obsessão, não pude resistir. Por muito desejei cerrar os olhos e entregar-me ao declínio, mas até mesmo um leve movimento de minhas pálpebras era um pecado naquele momento. A seu encontro corri para libertá-la de sua prisão de vidro polido.
Meus superficiais esforços tornaram-se úteis afinal. Ela estava livre, caminhando a meu encontro. Sua hedionda presença elevava-me ao máximo de meu êxtase. Eu não me importava com a dor que seus minúsculos fragmentos me proporcionavam, eu estava feliz por vê-la.
Nunca deixarei que Caronte leve minha amada Lucy.
Tão bela!
Tão frágil!
Tão pálida...