CLAUSTROFOBIA


          Já estava atrasada para o trabalho em quase duas horas; a chuva que ultrapassou a madrugada, e causou estragos, deixou a cidade em polvorosa; os alagamentos se encarregaram de tirar da linha a criatura mais pontual daquela empresa. Vitória entrou no prédio às pressas e correu antes que a porta do elevador se fechasse, cumprimentou com um bom dia os dois senhores que ali estavam e apertou no botão do 10º andar.

     Com a respiração ofegante, a roupa desarrumada, a maquiagem borrada e o cabelo molhado cruzou olhares com os homens que a observavam curiosamente; simulou um sorriso, desviou a visão e olhou para seu relógio. A subida parecia uma eternidade; seu chefe a esperava para apresentar um projeto aos novos clientes da empresa de publicidade na qual trabalhava.

          No 4º andar, um dos homens desceu... Vitória olhou novamente para o relógio, com uma ansiedade que a estava deixando prestes a saltar do elevador e subir as escadas correndo. Entre o 5º e o 6º andar, o elevador parou; um carro bateu num poste próximo ao edifício comercial e interrompeu o fornecimento de energia em toda a rua; o gerador do prédio não estava ligando.

        Sentiu suas mãos gelarem, seu rosto empalideceu, o coração acelerou em disparada, o medo de ficar presa tomou conta de sua alma, imaginou que ali fosse morrer; não teria tempo de se despedir do marido e dos 2 filhos pequenos, não conseguiria apresentar o projeto que lhe daria uma promoção. Começou a gritar e se debater sobre as paredes do elevador, sobre os espelhos; não ouvia o homem que estava preso com ela pedir calma (assustado e preocupado com sua reação).

          Ficou mais ofegante, sua epiglote estava fechando e o ar não fazia o trajeto até os pulmões, seu sangue deixava de ser oxigenado, acumulava gás carbônico, o cérebro entendia essa mensagem perfeitamente. Teve a visão do inferno, viu seu mundo girar, enxergou tudo escuro e caiu desmaiada, quase desfalecida, no chão frio do elevador, segundos antes do gerador ser ligado e a porta ser aberta no 6º andar. Quando acordou estava rodeada de pessoas esperando o socorro médico; ainda zonza, sem entender o que estava acontecendo, viu seu braço cortado e a roupa ensanguentada, havia quebrado um espelho e se machucado minutos atrás. Antes de conseguir balbuciar uma única palavra, ouviu alguém dizer: "teve um ataque de claustrofobia".


(Imagem: Internet)


 
Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 22/04/2013
Reeditado em 10/05/2013
Código do texto: T4254241
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.