A fresta

A fresta

Pode parecer uma lenda, mas isso aconteceu de verdade com minhas amigas. Há muitos anos, numa cidadezinha do interior, onde elas curtiam uma noitada daquelas. Já era alta madrugada, quando uma delas teve a idéia de irem a uma velha cabana abandonada à beira de um pântano. Todos na cidade diziam que o seu ultimo morador era um assassino. E por conta dessa fama, um dos habitantes da cidade o matou no interior da cabana, após uma serie de torturas. Ateando-lhe fogo.

Nunca acreditei em lendas, até ouvir delas esses acontecimentos. Na cidade todos comentavam que a cabana sempre estava com suas portas trancadas. Entre gargalhadas e zombarias elas chegaram à frente da velha cabana. E ao tocarem na maçaneta da porta, ela misteriosamente se abriu fazendo um ruído sinistro causando arrepios na trupe. Mesmo sentindo um enorme medo, medo que todas disfarçavam, elas adentraram a cabana.

A escuridão do seu interior fazia seus ossos gelarem. Seus olhos assombrados olhavam para todos os lados atentamente. No canto da cabana havia uma velha mesa empoeirada cheia de teias de aranha cobrindo uma vela apagada num pires negro. Como não havia luz por aquelas bandas do pântano.

Elas acenderam o pavio da vela, sua mirrada claridade fez com que suas sombras bailassem em formas sinistras nas paredes mofadas. Começaram a rir dizendo: “pode ser um assassino, mas ele era um matador bem porcalhão! Essa cabana tá precisando de uma boa faxina.” Elas só pararam de galhofas, quando sentiram uma fumaça sufocante lhes roubar o ar. Viram que as labaredas alastravam-se por toda parte.

Em meio ao pânico e desespero, elas viram as chamas formarem siluetas sinistras, já não se ouvia mais seus corações baterem e sim um misto de vozes, uivos, e gargalhadas. No centro do fogaréu ele apareceu, disforme, mais ossos do que carne e a pouca carne que cobria sua ossada estavam queimadas, retalhadas, suas mãos retorcidas, e sua voz rouca foi ditando ordens.

VOCES ZOMBARAM DE MIM, ATREVIDAS, HOJE SEREI O MAL QUE VOCES DESCONHECEM AMANHA SEREI A MORTE QUE VOCES MERECEM, NÃO TENHO NADA A PERDER O INFERNO JÁ ME PERTENCE E VOCES SÃO MINHAS URARARARARARARARAAAA!

Nessa hora, as moças apavoradas tentam fugir, mas a mesma porta que se abriu com facilidade já não se abre para elas saírem. Brincaram na entrada, agora imploravam pela saída. As almas chamuscadas que habitavam a cabana atormentavam, atormentavam e elas choravam, gritavam, tremiam, tremiam. Até que num ato de desespero uma delas começou a rezar.

Suplicando aos anjos da salvação que lhes acudissem. Uma a uma foi dando as mãos e fez uma corrente de fé, um círculo de oração, que foi afugentando aquelas almas e abaixando a intensidade das chamas e pelas frestas da porta perceberam que o sol já raiva no horizonte. E sem entenderem o que havia acontecido à porta simplesmente se abriu e do lado de fora da cabana viram que não tinha queimado uma só folha. E nunca mais elas zombaram do desconhecido mundo do além. Nem eu.

Lucyana Rodrigues
Enviado por Lucyana Rodrigues em 01/07/2013
Reeditado em 25/01/2024
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