A Tempestade e os seus segredos. Parte II

Quando ia fazer carinho na cabeça dela ela se levantou, fui atrás dela conversando tentando acalmá-la, mas não me dava bola, fingia que nem me escutava novamente chamei e nada não olhava para mim, literalmente não me ouvia.

Chorando muito ela se trancou no banheiro, bati na porta chamei por ela e só ouvia o choro desesperador da minha amada. Ouvia gritar: - Porque, Porque Deus, o que eu fiz para merecer esse tipo de dor, me fala Deus, o que eu fiz pro senhor.

Ouvindo isso, quase arrombei a porta, não consegui porque é muito pesada e estava me sentindo um pouco fraco, tudo girava, sentei na cama e respirei fundo, não conseguia em ficar de pé na porta, quanto mais ela gritava e chorava mais a minha cabeça doía. Passado mais ou menos uns vinte minutos, ela saiu do banheiro de banho tomado, toda cheirosa, linda como sempre e eu ali, ainda sentado com a cabeça como se fosse uma panela de pressão, a ponto de explodir. Ela se dirigiu até a sala e ligou à televisão, a imagem não estava muito boa, também com a chuva do lado de fora poucas televisões estariam pegando direito. Vi que ela pegou o telefone e ligou para a mãe dela, avisando que não se sentia bem ainda, por mais que tenha passado um bom tempo, não havia entendido o porquê da vida ser assim, mas que um dia as coisas iriam voltar a ser melhores, pegou a chave do nosso carro, apagou as luzes e saiu, nem um beijo ou um tchau me deu, o que esta acontecendo, como ela vai sair com essa chuva lá fora, ainda mais ela que odeia dias de chuva, minha cabeça doía muito ainda, não conseguia pensar direito, por isso resolvi dormir um pouco até passar essa dor e esperar.

Fechava os olhos e nada, estava totalmente sem sono, à preocupação era de mais e eu não poderia fazer nada, teria que ficar esperando do jeito que me encontrava. Em seguida ouço uma risada bem de leve, pensei que poderia ser ela chegando, mas não era, pensei que estaria com febre e com alucinações, não é possível. Consegui me levantar da cama bem devagar, dei dois passos e cai no chão, assim que cai havia baratas, ratos caminhando e correndo, subiam em cima de mim, sentia na minha boca, baratas entrando em meus ouvidos, mordidas de ratos em minhas pernas, o sentimento era de ódio daqueles bichos, de nojo. Não estava conseguindo me levantar estava sem forças e os bichos corriam pelo meu corpo e nesse momento uma criança apareceu e falou comigo:

-Oi, esta lembrado de mim? – Disse a menina, com um vestido amarelo.

-Quem é você? - Respondi apenas por pensamento, pois na minha boca havia baratas e se abrisse elas entrariam, estava nojento.

-Não se preocupe, consigo ler seus pensamentos. Levante venha, pegue a minha mão.

Nesse momento, segurei a mão daquela menina, segurei com tanta força que consegui me erguer e aquelas coisas caiam do meu corpo. Assim que fiquei de pé os bichos sumiram e eu estava em outro ambiente que não era mais a minha casa, era como se fosse um deserto, o calor era insuportável, a areia queimava os meus pés, a menina não permaneceu mais ali comigo. Consegui correr e achar uma árvore no meio daquela terra toda parei na sombra da linda e gigante árvore, sentia a terra da sombra úmida, me ajoelhei, respirei bem fundo e comecei a pensar no que havia acontecido em meu quarto, na menina que me salvou daqueles bichos nojentos.

O Lugar era quente demais, aquela sombra era um alívio, olhei para cima e no primeiro galho estava a menina comendo uma fruta, com um sorrisinho no canto da boca.

-Oi, esta com fome?

-Não estou com sede, tem alguma bebida? Ajuda-me!

-Não tenho, mais um dia eu também passei sede, e isso nós aprendemos.

-Que lugar é esse? O que eu estou fazendo aqui? Minha esposa onde ela esta?

-Um dia ela estará aqui também.

Nisso começou a cair uns bichos da árvore, como se fossem escorpiões, a menina sumiu, os galhos balançava muito e aqueles insetos caiam em mim, resolvi correr por aquele deserto e procurar outra sombra. A terra queimava, mas não tinha o que fazer ou corria ou ficava ali, nesse momento ouvi um choro, e uma voz dizendo:

- Onde você esta? Espero que esteja num lugar melhor!

Era a voz da minha esposa, eu tenho certeza disso, tentei gritar, mas nada adiantava minha voz não saia, estava correndo sem saber para onde, mas a minha missão era correr e sair daquele lugar, novamente ouvi a voz dela:

-Amor, você esta me ouvindo? Se estiver, quero que saiba que...

Cai, assim que ela disse “que” eu cai em uma lagoa, não era simplesmente uma lagoa que tem uma linda água azul, era como se fosse sangue, vermelha, estava pisando em pedaços de carne, mas não conseguia ver direito o que era realmente. Só pensava o que estaria acontecendo comigo, o porquê disso tudo, só pode ser um sonho, mas esse sonho estava muito real, sentia dores, sentia frio, sentia nojo. Na beira da lagoa estava à menina sentada com os pés naquela água que mais parecia sangue, fui tentando chegar mais perto dela e quanto mais eu ia em direção dela, mais funda ficava a lagoa, e aqueles pedaços de carnes estava em toda parte.

-Me ajuda, por favor!

-Nade até mim, também já passei por isso.

-Eu não consigo, esta fundo.

-Venha, estou aqui.

Fui em direção a ela, no meio do caminho não aguentei mais nadar e comecei afundar, parecia que haviam colocado um peso em meus pés que me puxavam para baixo, não aguento, eu me rendo, deixei meu corpo cair e fechei os meus olhos, assim que abri estava deitado nas pernas da menina e ela fazia carinho na minha cabeça, levantei correndo e comecei a perguntar:

-Antes de me perguntar tudo de novo, se acalma – ela falou antes de mim

-Me acalmar eu quero saber tudo.

-Você vai saber, só peço calma pela primeira vez em sua vida.

-Diga o que você quer?

Nisso aquele deserto começou a se tornar minha casa novamente, vi minha esposa sentada chorando vendo novela.

-Esta vendo ela?

-Sim, quero falar com ela, Amor! – comecei a gritar.

-Pare, não esta vê que ela não te ouve.

-Como Assim, por quê?

-Tenha calma que eu te explico. Lembra que ano passado você e a sua esposa teriam um bebezinho?

-Sim me lembro mais o que tem a ver.

Olhei para o lado e estávamos no cemitério que tem na frente da empresa que trabalho.

-Pois é, o que aconteceu com o bebê?

-Não sei. Por que estamos aqui?

-Me fala o que aconteceu com o bebê?

-Não sei. – assim que terminei de responder, em um túmulo eu cai, a menina estava em cima e eu naquele buraco com larvas que passavam em meu corpo.

-Com você não da para conversar mesmo. Fique aí e azar é o seu.

-Não, calma, por favor, eu falo.

Me puxou daquele buraco, mas eu estava bem na beirada dele.

-Fale, se não já sabe o seu lugar!

-Ela perdeu o bebê!

-Ah, ela perdeu o bebê?

Cai novamente no buraco as larvas estavam em todo o meu corpo, começaram a cair ratos, baratas, em cima de mim. Eu estava implorando para ela me tirar e ela não me ouvia, fiquei um tempo e depois ela me puxou.

-Vamos conversar agora?

-Sim, falo tudo!

-Onde esta o bebê?

-Ela tirou.

-Ah sim, ela tirou o bebê?

-Sim, não era o que queríamos naquele momento e então resolvemos tirar.

Percebi que a menina chorava muito, estava ajoelhada no chão, chorando.

-Me perdoe – ela me disse

-Perdoar você por quê?

-Por querer chegar em uma hora que vocês não queriam nada.

-Como assim, não estou te entendendo?

-É Papai, me desculpa.

Eu entrei em desespero, tentei abraçá-la, mas não conseguia, ela me empurrava

-Você é...

-Sim, eu seria a menina que nasceria.

-Me perdoe minha filha, não queria causar dor, me perdoe. Isso é um sonho? Por que você esta aqui comigo agora?

Minha vida voltou a mais ou menos três semanas atrás, estava no banco do passageiro no meu carro e eu estava dirigindo ao mesmo tempo, vi que a minha felicidade, pois iria pedir minha noiva em casamento, chovia muito nesse dia, a rua estava trancada, queria chegar em casa logo para fazer um grande surpresa, em um cruzamento eu vi essa menina atravessando a rua com o mesmo vestido, notei que enquanto dirigia não havia percebido a menina, distraído com a conversa no celular, quando olhei para frente tentei frear o carro mas não consegui, a menina sumiu, o carro derrapou, capotou e bateu em um poste de luz, fazendo com que o poste caísse e desse um curto circuito no carro.

Francis Betim
Enviado por Francis Betim em 21/08/2013
Código do texto: T4444699
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