Histórias Roubadas

“O que é arte? Seja o que for, interessa a muita gente: o catálogo da Interpol soma mais de 34 mil obras roubadas em todo o planeta. Quase todas surrupiadas de maneira simples e eficiente: se a média prevalecer, apenas 10% serão recuperados. É o 3º maior mercado ilegal do mundo, atrás apenas de drogas e armas.”

Eduardo Cosomano.

Personagens:

Alice Goulart

Cláudio Fontana

Marcos Albuquerque Fontana

Marília Albuquerque

Marina Albuquerque Fontana

Maysa Albuquerque Fontana

Natália Andrade

Otávio Peixoto

Pedro Alcântara

Roberto Fontana

Sinopse:

Tiradentes, 21 de abril de 2013. Essa é a data em que Alice Goulart foi brutalmente assassinada às quatro horas da madrugada na Serra de São José, típico ponto turístico da cidade, com uma bela vista para o centro histórico de Tiradentes e para as cidades vizinhas de São João del Rei e Prados. Mas, neste momento, servia de palco para um corpo que inicialmente enforcado e depois esquartejado, os pedaços se encontravam em cima de sete cruzes com os seguintes dizeres em latim: "hoc servit exemplum” (Isto serve como um exemplo). Este crime chocou o mundo. Qualquer semelhança com o fato histórico não é mera coincidência.

Contudo, este é o fim, o que interessa saber são as motivações, os meios, quem teria tais intenções.

Alice Goulart era historiadora formada pela Universidade Federal de Ouro Preto, recém-funcionária no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), obstinada e instintiva. Alice se mudou para a cidade há menos de um ano, morava num sobrado colonial, que era seu sonho, sempre foi muito dedicada aos estudos e por isso saía pouco de casa, não tinha filhos embora fosse muito atraente. Sempre introspectiva, aos 30 anos preferia tomar vinho e tocar seu saxofone a ter que se relacionar com outras pessoas, por isso, não tinha muitas amizades. Sempre optou por separar muito bem a vida pessoal da profissional, mas no fim das contas não tinha uma vida pessoal.

Quando chegou à cidade, Alice foi recepcionada por Natália, arquiteta, e Otávio, geógrafo. Seus futuros colegas de trabalho. Natália era casada com Pedro Alcântara, advogado de Marília Albuquerque, dona de uma rede de lojas, pousada e detentora de centenas de obras de arte sacra que ficavam expostas num magnífico museu. Obras sacras dos séculos XVIII e XIX de seu acervo pessoal, compradas desde a infância, legalizadas e hoje incentivadas pelo Ministério da Cultura.

Alice ao chegar à cidade se deparou com vários problemas com relação à preservação do patrimônio, à construção de um novo museu financiado pela família Albuquerque e investigação a uma instituição paulista de restauração e empreiteira, que supostamente teria ligação com os empresários da cidade, com super-faturação de obras financiadas pelo governo.

As relações da cidade de Tiradentes sempre estiveram calcadas em vínculos políticos, troca de favores e interesses, tanto que a prefeitura é um cabide de empregos, cargos comissionados e nepotismo. Além disso, existe um monopólio de poder, a cidade é movimentada pelo dinheiro vindo do turismo, por isso, uma associação de donos de pousada e lojas, juntamente com o prefeito Roberto Fontana, governam, manipulam a vida dos tiradentinos.

Marília Albuquerque é a presidente da associação de pousadas, muito arrogante, insubmissa e prepotente, sempre conseguiu o que quis, porque além de muito dinheiro, é influente. Vive um casamento de fachada com o milionário Cláudio Fontana, irmão do prefeito, que é gay, mas nunca pôde se assumir por ser uma figura pública e pertencente a uma família tradicional mineira. Marília e Cláudio têm três filhos, Marina, Marcos e Maysa. Os filhos tem uma péssima relação com os pais, não há diálogo em família, o clima é pesado. Marília ama muito os filhos, sem distinção, mas sofre muito ao descobrir que Marcos também é gay, o que acaba por esfriar ainda mais a relação que tem com seu suposto marido, uma vez que Marília o acusa de ter sido influência negativa na vida do filho. As outras filhas, Marina e Maysa são gêmeas e estudantes de arquitetura na Universidade de São Paulo, trabalham como estagiárias na instituição de restauração responsável pelas obras da cidade de Tiradentes.

Um jogo de aparências, talvez seja essa a melhor forma de caracterizar a população da cidade. Casamentos por um fio, personalidades e caráteres forjados, instituições corruptas e relacionamentos falsos. Quem visitar a cidade em semana santa se deparará com uma população fervorosa, católica, muito ligada as tradições. Essa é a visão de um turista, mas aqueles que aqui vivem sabem que a hipocrisia é a melhor arma para preservar as estruturas lucrativas que são o motor desse lugar.

Humberto Viana
Enviado por Humberto Viana em 18/09/2013
Reeditado em 25/07/2014
Código do texto: T4487810
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