O sol se colocava no horizonte lançando seus últimos raios daquela tarde. Raquel corria desesperada em direção a uma casa de madeira que se encontrava isolada em meio à floresta. Seu pulmão ardia em fúria ao esforço aplicado, suas pernas trançavam cansadas, doloridas pela longa corrida. Ela olhava para trás preocupada, procurando o seu perseguidor. Frente a casa abriu a porta e entrou.
  No interior da casa móveis rústicos, feitos em madeira se apresentavam como obstáculos ao seu conforto. Teias se espalhavam tomando toda a parede, teto. No fundo da sala empoeirada uma porta aberta deixava transparecer um quarto, sujo, com uma cama sem colchão. Um cheiro de morte tomava o ambiente.  Preocupada, Raquel, olhou em sua volta a procura de alguma ferramenta que a ajudasse a sair daquela situação. Uma cadeira serviu-lhe como arma. Enquanto respirava fundo se colocou do lado da porta de entrada, segurando firmemente a cadeira, esperando que seu perseguidor entrasse porta adentro.
     Um estrondo seguiu-se de um rosnado tenebroso. O velho telhado de amianto rangia, estalava, quebrava. Raquel olhava para o teto reconhecendo que seu perseguidor procurava uma abertura no telhado que lhe proporcionasse entrar e acabar de uma vez com a sua vida.
      A lua se erguia no horizonte. Ao longe podia-se ouvir os uivos dos lobos. Do quarto da casa um ruído chamou a atenção. Uma batida seguia-se de um som baixo de chiado. Raquel saiu de sua posição e foi observar o que ocorria. Encontrou no teto um buraco onde cobras eram colocadas e caiam no quarto. Assustada tropeçou e tombou de costas no chão empoeirado e se viu ao lado de uma serpente preparada para o bote. Levantou assustada, o seu temor pelas víboras que se arrastavam em sua direção superou o seu medo pelo seu perseguidor. Abrindo a porta correu sem direção. Ao entrar mata adentro escutava o barulho das passadas pesadas em sua direção. Em poucos minutos chegou próxima a um rio que se seguia até uma cachoeira. Raquel se viu em frente a uma queda de dez metros onde em seu final encontrava-se a continuação do rio antecedendo a uma bela lagoa. Um rosnado silenciou toda a floresta. Raquel se preparou para um salto para a vida.
     Rogério grita apavorado, Raquel se encontrava sobre o parapeito da janela do oitavo andar de seu apartamento. Suas pupilas dilatadas deixavam transparecer a sua viagem em cocaína. Rogério correu desesperado em sua direção.
     Raquel saltou. Em queda observava a límpida água se aproximar. Girou o corpo e pôde ver a fera de olhos vermelhos. O corpo coberto de espinhos, dentes pontiagudos e unhas gigantes completavam o cenário apavorante em meio a uivos tenebrosos. Olhando para o riacho logo abaixo, percebeu que estava salva. Em menos de um minuto sua mão chegou ao frescor das águas daquele belo rio.
     A mão de Raquel toca o chão, seguida do restante de seu corpo. Uma pasta de ossos, carne e sangue se formou no ponto do choque. No oitavo andar do apartamento donde o corpo se jogara, quem passava pela rua escutou um forte grito:
    - Minhas asas me ajudarão a te salvar! – Gritou Rogério enquanto pulava pela janela.
Fim