AMALDIÇOADOS

Barulho de carro, buzina, sirene, centro de São Paulo, dia, Parque do Ibirapuera, apesar de fazer sol, as pessoas usam roupas de frio, algumas andando de bicicleta, outras correndo, exercitando-se, ou apenas brincando com o cachorro no gramado, crianças brincando, há uma piscina de areia, há varias crianças ali, de roupas coloridas, no escorrega, na balança, algumas mães acompanhando, outras apenas assistindo, sentadas ao redor, num banco de madeira, há também carrinhos de lanches, pipoca, sorvete, há muito barulho, crianças rindo, gritando, correndo, se divertindo, barulho de diversão, uma mulher jovem, magra, de olhar triste, parece chorar, coloca sua filha num brinquedo de balanço, a empurra duas vezes, para dar o impulso necessário, a criança parece descontente, a jovem pronuncia algumas palavras e se distancia, encaminha-se em direção aos carrinhos de alimentação, compra um sorvete, com bastante calda vermelha de morango, o rapaz se atrapalha um pouco para devolver o troco, barulho, pessoas ruidosas comendo, conversando, alguém estoura uma bexiga, quando a jovem retorna à piscina de areia, não consegue identificar a filha, não está mais na balança, o brinquedo está vazio, o sorvete derretendo nas mãos.

Predio de condominio. Centro de São Paulo. Um homem com uniforme de segurança andando de um lado para o outro no corredor do predio, é jovem tambem, magro, barba imberbe.

- Como assim? Explica de novo, Erica - diz ele para a jovem, que esta com a mão lambuzada de sorvete, segurando um copinho.

- Eu coloquei ela no balanço, ela não queria me obedecer, ela não me houve, não gosta de mim.

- Claro que ela gosta de você, é que as vezes você não tem paciencia.

- Não gosta não, Andre. Ela até me mordeu

Nesse momento Erica começa a chorar e mostra a mão com a marca da mordida.

- Você bateu nela de novo? - André dá um murro na parede.

- Não, eu não bati nela, eu a coloquei na balança e fui comprar um sorvete e quando voltei ela tinha sumido.

- Chamou a policia?

- Não, eu vim correndo chamar você pra me ajudar.

- Ok, vamos lá busca-la.

Os dois procuram por todos os lados, vasculham todo o parque, abordam as pessoas.

- Voces viram uma menininha?

Já é quase noite, começa a chover. Molhados, Erica e Andre se abraçam.

Delegacia de policia. Erica esta sentada num banco, tremendo de frio, de medo, André conversa com o policial.

- Voltem pra casa, deixem o telefone desocupado, alguem pode ligar, vamos fazer uma busca no local, não vamos tomar conclusões precipitadas antes das 24 horas.

Apartamento de Andre. Erica esta sentada ao lado do telefone. Andre esta na porta, conversando com outro segurança.

- Pode deixar, cara, eu aviso o pessoal que você não vai poder trabalhar hoje.

Uma senhora idosa oferece algo para Erica comer, mas ela simplesmente não se move, parece sonâmbula.

- Eu sabia que um dia isso iria acontecer, eu disse pra você meu filho.

- Por favor, mãe, não piore as coisas.

- Minha neta, como voces puderam fazer isso com uma criança?

Erica começa a chorar e se levanta num salto.

- Cale a boca! Pelo amor de Deus! - e sai para a rua.

André tenta segui-la, mas sua mãe o segura pelo braço.

- Eu falei pra você que a separação seria a pior escolha.

Parque do Ibirapuera, noite, ainda chove, Erica esta sentada num banco, olhando para a piscina de areia, para os brinquedos, não há ninguém aquela hora no parque. Erica começa a relembrar cada segundos da sua vida. Dizem que pela mente do individuo que está morrendo desfilam os principais acontecimentos da sua vida. As crianças brincando, as pessoas se exercitando. Carrossel. Gangorra.

De repente Érica ouve um barulho, olha para os lados, tudo escuro, não há ninguém, a chuva cessara, mas ainda venta forte. Erica olha para os estranhos movimentos dos galhos das arvores e arbustos.

- Quem esta ai?

F Mendes
Enviado por F Mendes em 03/05/2014
Código do texto: T4793122
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