ON OUR WAY

parte 1. L.A.

A vida nem sempre é bonita, ela tem seu lado obscuro, a cama negra onde se deitam apenas os fracos. Por sua vez a excitação perceptível nos olhos de quem assiste o inocente se contorcer perante o “julgamento” sagrado onde se define sua nova morada; o céu ou o inferno. A verdade é uma coisa que devemos ter cuidado não a deixando transparecer sobre a sua verdade, encobrindo a divindade da poderosa mentira e deixando claro o que sempre nos foi dito.

Eu estava caminhando em uma estrada vazia e escura sem nenhuma luz mostrando o que viria pela frente. Já sem folego parei e frete a uma casa aparentemente vazia, não fazia barulho algum e não era possível escutar se quer um suspiro; até o alarme soar.

“Corram, é o fim, salvem suas vidas!” - disse alguém correndo.

“Para onde vão?” - gritei passando em frente elas.

“Corra rapaz, vá para longe e se esconda!” - uma senhora segurou meu ombros ao dizer, seu tom era apavorante.

Em alguns segundos o alarme parou e as luzes de alerta se acenderam.

“Cada um para o seu canto, esse lugar já está parecendo o próprio inferno!” - um guarda passou acomodando as pessoas.

O sol por suas vez era um amigo não muito presente que as vezes forçava para não aparecer, deixando todos na escuridão e no silêncio eterno.

parte 2. SETE ALMAS.

Fazem três dias que o sol não aparece por aqui, as noites tem durado dias e as pessoas tem começado a ficar paranoicas.

A regra de não durante a escuridão foi anulada, ela é tudo o que temos, as atividades feitas durante o dia agora são praticadas a no escuro, não tem sido nada fácil caçar sem luz, os animais se escondem dificultando com que nós nos alimentemos.

É bem visível o resultado disso, já sumiram sete pessoas no grupo; mas a boa noticia é que acharam dois debaixo da igreja em um túnel cavando para nos refugiarmos ao soar do alarme ou quando as coisas piorarem aqui por cima.

A guarda Mystie veio andando em minha direção com seu cinto de contimentos na mão, olhou para mim de cima a baixo fitando pausadamente cada peça de roupa eu vestia.

“O que é essa mancha vermelha em sua camisa Miller?” - ela segurou a barra da minha camisa olhando em meus olhos.

Quando questionado sobre o acontecido fiquei calado colocando as mãos sobre a boca, nem precisaria mais perguntar, bastava olhar para minha camiseta, antes branca.

***

Eu não conseguia entender, durmo em um cômodo trancado a senha, como poderia ter sido eu a atacar aquelas pessoas no túnel? Não tem explicação para tal coisa, está tudo ficando muito difícil por aqui. Espero que o sol não demore tanto para voltar, não quero me obrigar a comer o que servem na cela, beber sangue é errado, ainda mais sendo humano. Não quero causar vergonha à meu pai sendo o primeiro “canibal” a ser preso.

“Coma, é tudo por hoje!” - me foi empurrado um prato com retalhos de carne crua e um copo pela metade.

Cheirei o líquido, era sangue.

“Ei, isso é sangue!” - fui até a grade.

“É o que você bebe, certo?” - ele gargalhou olhando para mim.

“Não, eu não sou canibal!” - joguei o copo no chão.

“Você não pode me tratar assim canibal!” - ele veio até mim sacando sua arma de choque, a apertou e eu caí no chão desacordado.

Sabe, até que não seria uma má ideia ficar preso, pelo menos aqui eles servem comida todos os dias.

parte 3. CANTAR BLUE FICOU NO PASSADO.

“Não aqui, não hoje, não agora, nunca mais.”

Escuridão e fome foi tudo o que tivemos durante esses quatro anos em que o sol não apareceu, várias coisas aconteceram após minha prisão, as coisas que fui obrigado a fazer e as centenas de vezes que eu esperava o galo cacarejar para começar a tocar o banjo que fiz com madeira roída e fios de nylon velhos.

Ganhei alguns trocados dos guardas, mas tenho quase certeza de que nunca os gastarei, assim como minha filha Alissa que nasceu a exatamente mil trezentos e quarenta e quatro dias; as vezes fico imaginando como ela deve ser, meu nariz, meus olhos, minha boca, pelo menos alguma coisa minha ela deve ter, e é bem provável que ela não saiba quem sou, e o pior, temo que Andrea não a tenha contado que Chuck Miller, seu pai, eu, estou vivo.

Toda noite um por um os guardas foram sumindo, ocasionalmente suprindo as necessidades de algum canibal maluco, e muito esperto até, pois até hoje não foi pego. Observei todo o movimento na noite passada, o ultimo guarda sumiu em meio a escuridão, não se ouvia e nem se via nada o transformador de luz estourou, o modo como ele desapareceu foi sombrio e por sua vez o único que me fez ver a câmera que ficava de frente a minha cela, alguém ou alguma coisa estava me guardando para hora como essa.

Da cela onde eu estava só dava para ver uma paleira, a única que deve ter sobrevivido, acho que nunca tinha visto uma palmeira assim em Los Angeles, era grande, parecia saudável e suas folhas extensas tinham um tom de verde que eu nunca tinha visto. O brilho da lua - Nossa atual amiga. - refletia nelas; é como um balé clássico, as folhas balançavam, mais pareciam estar dançando.

A porta da cela se abriu, eu já estava pronto para morrer. O quarto foi tomado pela indesejada escuridão, parecia que a lua já tinha se cansado de iluminar ali vinte e quatro horas por dia durante quatro anos seguidos em que o sol desapareceu de vez.

Alguma coisa entrou na cela, fazia o barulho de um cachorro, mas sua aparência era de um home corcunda abaixado. Em horas assim não se deve fechar os olhos para não perder nada, eu não ia querer perder a hora da minha morte.

Em questão de alguns segundos a lua retornou a seu lugar iluminando toda a cela novamente; não era apenas um, e sim vários, vieram em minha direção mordendo cada espaço vago do meu corpo.

Conforme meu gritos se esvaiam chegavam mais “coisas” pulando em cima de mim. É este é meu fim, ser morto por zumbis, ou canibais loucos de fome, ou quaisquer outra criatura sombria, e nunca poder realizar meu sonho de pilotar uma moto em uma estrada vazia de L.A até o anoitecer sem ver nenhum carro.

Quero dizer, ninguém nunca mais vai realizar sonho algum, esse é o início de uma nova era, a era das trevas eternas.

Richard Foxx
Enviado por Richard Foxx em 16/05/2014
Reeditado em 16/05/2014
Código do texto: T4808629
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