A coisa - Breve Relato

Perspectiva 1

Corro desesperadamente, algo me persegue e não sei o que é. Avanço cada vez mais rápido em direção ao meu carro.

Vou conseguir escapar, procuro as chaves, me atrapalho, mas acho. Sinto dores por todo o corpo, abro a porta do carro. Estou arfando, algo matou minha esposa, ela está morta, ainda não consigo acreditar. Olho para o lado de fora da janela e tento achar o que seja que estava atrás de mim. Não vejo nada, a realidade está difícil de aceitar.

Vejo um vulto na floresta lá longe, algo muito rápido para ser humano. Estou começando a entrar em pânico, tento me acalmar, mas não consigo, surgem fragmentos da memória da minha mulher sendo morta, sinto o cheiro de sangue e morte nas minhas roupas. Foi tão rápido, só notei quando a tinha visto caída no chão, toda desfigurada, seu corpo todo retalhado jogado, os restos do que deveria ser um corpo feminino exposto de uma forma totalmente repugnante, como isso é possível? Consigo sentir o cheiro como se ainda estivesse lá, sinto as lágrimas descer pelo meu rosto fazendo a minha pele arder nos pontos onde arranhei ao tentar fugir.

Volto à realidade, estou com medo. Não quero morrer, minha respiração está cada vez mais acelerada. Olho para fora e a vejo, a Coisa…

Perspectiva 2

Em primeiro lugar quero declarar que o que vou dizer aqui não partiu de uma mente perturbada, ou de um efeito de substâncias alucinógenas. Este relato apesar de surreal é totalmente verdadeiro.

Alguns fatos precisam ser ditos antes de se iniciar esse relato, eu estou em um acampamento em uma cidade do interior e há um cheiro de morte espalhado no ar.

Me encontro escondido embaixo de um carro, estou em um estacionamento de um acampamento, você deve estar se perguntando “por que estou escondido embaixo de um carro”. Irei fazer um breve relato de como cheguei a essa situação.

***

São 23:00 e acabei de chegar ao acampamento, estou muito cansado e tudo que quero no momento é montar a barraca e dormir até sentir que virei gente novamente.

Como qualquer coisa enlatada e esquento com a minha fogueira improvisada, resolvo deitar logo porque sei que amanhã vou ter muitas coisas para fazer.

***

Escuto um barulho e acabo acordando, olho no relógio são 03:00 da manhã, levanto e resolvo tomar um pouco de água. Escuto um barulho novamente e este vem acompanhado de um grito de mulher. Há um cheiro forte no ar, tento identificar, mas nenhuma ideia me vem à cabeça.

Resolvo sair da barraca para verificar, ando silenciosamente sem fazer o mínimo barulho, sigo em direção ao lugar de onde veio o grito. Escondo-me atrás de uma árvore e tento ver. A clareira de onde partiu o grito está coberta de sangue, há uma fogueira quase extinta, tento enxergar mais a direita e vejo uma barraca e um cara parado, olhando para algo que não consigo ver direito. Ele parece que está em choque. Viro para o outro lado da árvore para tentar ver o que deixou o homem naquele estado, e então vejo a cena mais repugnante da minha vida, o tipo de cena que apareceria em filmes de terror com assassinos, o que deveria ser um corpo humano, está todo desfigurado, e pelos restos consigo identificar o que deveria ser uma forma feminina, o cheiro está quase insuportável.

Resolvo ir tentar falar com o homem, dou um passo, mas vejo a expressão de seu rosto mudar, seu corpo assume uma posição de alerta, e ele sai em disparada, entrando no meio da floresta. Não sei o que o fez correr, mas resolvo segui-lo.

Ele continuou correndo até chegar ao estacionamento. Diminuiu o passo e começou a procurar algo nos bolsos.

Chegamos ao ponto em que me encontro escondido embaixo do carro. Mas a sua pergunta deve permanecer na sua cabeça “por que estou escondido embaixo do carro”, a resposta é muito simples, resolvi me esconder aqui, para poder observar sem ser pego, “o que eu vi” é o verdadeiro problema.

***

O homem que segui acha o que estava procurando, eram as chaves de um carro, ele abre a porta e entra, respira com dificuldade, não o tipo de respiração que se tem quando está cansando após uma corrida, mas o tipo de respiração que só damos quando vivemos uma verdadeira situação de desespero.

Sinto meus joelhos latejarem, acabei os arranhado ao tentar me enfiar embaixo desse carro. Tento imaginar o porquê dele estar neste estado, mil hipóteses passam por minha mente, a mais lógica seria a de que ele assassinou a garota em um momento de raiva. Ainda sinto este cheiro repulsivo em minhas narinas. Meus pensamentos são interrompidos por um movimento furtivo vindo da floresta, algo muito rápido se movimenta. Não consigo identificar qual é a sua forma, a única coisa que tenho certeza é que, o quer que seja não é humano.

Acho que agora eu é que estou entrando em desespero, a coisa se aproxima do carro, para em frente ao que está o homem, arranca a porta, tira-o de dentro do carro e o despedaça com os braços e mordidas. Percebo neste momento que não poderia estar mais errado. A Coisa larga o que sobrou do homem, e cheira o ar, cheira e procura algo com os olhos, ele olha na minha direção, e se aproxima e sei que este é o meu fim.