A Triste Verdade de Um Palhaço

( Poesia Recitada - H008 ).

O Circo está totalmente lotado,

E nem se acha lugar algum...

Mesmo nos baixos degraus...

Tomados completamente.

Na contagem, a maioria são crianças,

Pais e apreciadores a minúscula parte...

Abrem-se as enormes cortinas...

Entre nuvens de fumaças, gritos, assobios...

Surge, espalhafatoso, o apresentador.

Cumprimenta a plateia: em delírio... em aplausos...

E anuncia os espetáculos da Noite...

E atenção, crianças, senhores, senhoras, moças,

Rapazes, que lotam este magnífico Circo, vem aí,

Com toda emoção, com toda graça que Deus os fez...

Estão chegando para divertir vocês nesta noite:

O elefante voador; os Tigres; os Leões; o Urso mimado;

Os Acrobatas; o Globo da morte;

E o grande o inimitável,

O impossível, maior de todos, que tem a responsabilidade,

Do encerramento brilhante e programado evento,

Exibindo-se com suas mímicas e acrobacias...:

O Palhaço!...

Divirtam-se, boa sorte e vamos nessa gurizada!...

Um colorido todo especial fluindo das crianças,

Conjugado pelas expectativas,

Que redundam nestes alegres sorrisos,

Intencionados de aproveitarem o máximo e mágico,

Este prêmio que lhes foram prometidos,

Pelas suas boas ações, com certeza, praticadas...

E os espetáculos foram exibidos,

Nas horas certas em que foram anunciados...

Finalmente, surge neste momento... O Palhaço!...

Num delírio arrepiante, a criançada aplaude...

O momento feliz que aguardavam,

Companheiro maior dos seus risos,

O Palhaço faz o seu comprimento...

No seu ritual, já está em cena!...

Ninguém sabe qual é o início,

A naturalidade é tão perfeita,

O que é bom, não se vê o tempo,

Vem, apresenta e de repente acaba...

Comovido o palhaço absorve inspiração.

A tendência começa do bom...

Bem melhor e vai até o excepcional...

Sabe que se vacilar, frustrará a pequena torcida,

Que vibra... que urra... que contagia os restantes...

Mas por detrás daqueles sorrisos...

Algo perplexo rodeia o ator...

Interiormente o Palhaço parece triste...

Quase impossível de ser notado...

A lembrança de que ficará sem seu abrigo,

Impede, em segundos, de prosseguir...

Seu olhar percorre, atônito, a Geral,

Como que pedindo... implorando ajuda.

Mas a sua repentina parada,

Desperta ainda mais na gurizada!

Os sorrisos que ecoam pelo circo todo.

A plateia ignora a situação.

A cena mais parece,

Uma anedota de um feliz Palhaço.

As palmas tornam-se evidentes demais,

A alegria contagiante eclode,

E o Circo se completa numa festa!...

Só resta ao Palhaço o conforto,

Retoma as forças e prossegue,

Confirma no seu pensamento,

Não terá importância a Tristeza,

Por quanto a alegria durar,

E descambarem sobre mim.”

Uma interrogação se forma ao ar:

A Tristeza por mais entoada que surja,

não será fator significante para deter,

A Felicidade, quando impregnada.

E como o grande Palhaço conseguiu,

Não mais que segundos... apenas...

Esquentar o gelo e marcar sua presença,

No dom do riso, sem denunciar-se em nada!...

E a explicação não é menos que lógica:

O Palhaço é um brinquedo vivo,

Quase que um rei em seu trono.

Esbanjando e distribuindo sorrisos...

Diferenciam-se pelo poder... pela posse...

No seu trono advêm sorrisos espontâneos,

Calculados por virtudes, qual nascentes...

Já o rei, no seu reinado...

Seu sorriso talvez, manipulado,

Com seus sucessos momentâneos,

E pelas suas batalhas decadentes...

Quando o Palhaço tem tristeza,

E consegue, sempre, recuá-la.

É porque confia... É certeza,

Em certos momentos da Vida,

Vale a pena não a divulgar.

Mas quando o rei sente a tristeza,

Parece impossível tentar recuá-la,

Pois está em jogo a falsa nobreza,

Que nada há neste nosso mundo,

Que tente e consiga exterminá-la.

Em cena retribui os apelos,

Renovando seus atos sem pestanejo.

Os minutos passam... desaparecem.

Um piscar de olhos e... zás traz...

São as horas mais longas, porém têm asas...

Resta-lhe alguns segundos...

Seria como colocar seu Coração na palma da mão,

A ação e postura no ato de arrancar gargalhadas...

Subitamente fora atingido,

Por mais uma das lembranças tristes.

E esta é a mais dolorida.

Neste exato momento sua pequenina filha,

Encontra-se nos braços de sua mamãe.

Possui uma doença incurável... irreversível...

O Palhaço na corda bamba,

Parece vir abaixo,

Pendurando-se num desespero invisível...

É mais uma anedota e o público aplaude.

Pensam eles... O Palhaço é mágico!...

Novamente em pé qual um valente soldado,

Apruma-se e agradece!...

Não sabem eles, que nada vale aquele terremoto,

Avassalador, trepidante nas arquibancadas,

Muito menos o valor da bilheteria, levantado!...

Nada poderá salvá-la daquela dor,

Que a própria natureza lhe ofertou...

Jamais lhe devolverão outra em troca!...

A pobreza, o seu drama no cercado,

As faltas... necessidades... completas,

Trazendo esta imensa desgraça!...

É um soldado, é combatente, é relutante,

E com sacrifícios, finda o seu papel.

Figurando Paz... Esperança...

Calando em cada criança, jovem, idoso...

Parece vir tudo abaixo, e o show termina!...

Quanto bem que fez aqueles corações!

Distância, em cada uma de suas apresentações,

Toda maldade que poderia, talvez querer visitar!

E as crianças levam e fixam ternura,

Que estruturam toda pureza, que por si mesmas,

Exalam, destes pequeninos olhares de admiração!...

Ele, ali, parado, olhando, sentindo a despedida...

As crianças, jovens e idosos se indo,

Levando para as suas casas, alegria!

Ponteando uma infinita PAZ!...

Saúda a todos com a cabeça e com as mãos.

Fecham-se a cortinas e o silêncio ocupa o meio...

O Palhaço solitário permanece na arena,

E vai retirando as pinturas, cauteloso, pensativo.

Prepara-se para voltar para casa.

Já na estrada, caminhava, cabisbaixo,

Hoje... contava nos dedos,

Faziam mais de cem apresentações,

Sendo ele, o fator determinante, o astro principal.

Daquele Circo instalado na pequena metrópole...

Bate na porta e chama pela esposa,

E com um sorriso dá-lhe um beijo,

Quase se engasgando, conta suas façanhas,

Bem como da pequena parte que teve por méritos...

Um sobressalto repentino lhe fere,

Não há tempo para risos...

Um vento farfalhava e prenunciava tristeza,

Estampada também, em cada objeto presente!...

Pairava na ansiedade de ambos,

Qual um barco em alto mar,

E a impossibilidade de evitar o naufrágio...

Esvaem-se em lágrimas... soluços...

Abraçam-se mutuamente tentando amenizar o drama.

As palavras que se escondiam;

As mãos trêmulas, dominadas pelo nervosismo;

Seus olhares que pediam, que imploravam:

tirem-nos deste desespero, desta dor inclemente!

É a triste verdade de um Palhaço!...

Ele já sabia... esperava a hora...

A solução era impossível...

O pouco que ganhava, mal dava para manter-se vivo!

Nem sempre com suas virtudes,

Conseguia encher a casa que rendesse pouco a mais...

E como o homem nunca vive só,

Com fé em Deus, obteve a sua sonhada Família.

Mas a sorte, ou o destino, mais essa lhe pregou...

Médico algum, diagnosticaram qual era o mal...

Sua Felicidade tornou-se o Circo...

Para ele o público era a filha em seus braços...

Oferecendo acalanto, com mímicas e acrobacias.

E o Público sorria... era a filha que lhe sorria!...

A criançada sorrindo e aplaudindo...

Era sua filha sorrindo e aplaudindo...

Uma Felicidade dependente do bom tempo...

De um lugar bom... das crianças em massa...

Para confirmar sua certeza,

O Palhaço vai a cama da filha,

Ajoelha-se e dá-lhe um beijo na testa...

Neste, um gelo que fere... criva qual uma flecha,

Que arrebata e escalpa o seu Coração,

Trazendo lágrimas nos olhos,

E a esperada notícia irrecusável:

Estou morta, meu pai.

A imagem daquele circo desaba,

Nuvens poeirentas ressurgem,

Como se o mundo naqueles momentos,

Acabava de tombar e banir-se da Vida.