Na sua cabeça II

Quando acordou, sua atenção foi captada por um rosto angelical que lhe parecida ser uma versão feminina de si mesmo. Do outro lado da tela, a personagem parecia também olhar fixamente em sua direção e aquilo, que antes o encantava, foi se tornando atordoante. Até que ele desviou os olhos; olhos esses que capturaram a imagem estática da jovem e doce atriz, interpretando um de seus mais polêmicos papéis. Parecia haver ali um feitiço; algo hipnótico. Alguns instantes depois, ele voltou a olhar para a tela e percebeu que a imagem ainda estava lá. Estava encarando-o de forma quase quev inconveniente. Ao se afastar um pouco do suposto aparelho, percebeu que o mesmo não tinha botões. E logo notou que outros televisores mostravam várias outras figuras que agiam como a primeira. Chegou a suspeitar que estivesse em uma bilheteria de cinema, uma vez que tudo estava parado diante dos seus olhos. Seus pensamentos estavam embaralhados; parecia um pesadelo. Tanto que demorou para entender que estava sozinho; o que fez com que um medo inexplicável tomasse conta de seu coração, que batia descompassado sem que ele pudesse concebê-lo. Outro sentimento surgiu, a medida que ele caminhava pelo local, que a essa altura lhe parecida uma loja de eletrodomésticos. Era a tristeza; algo que não sentia há muito tempo. Havia pouca iluminação. Ainda assim, sua visão era boa, diferente de sua mente. Sua cabeça latejava e nada fazia sentido. Apenas um nome lhe vinha a memória: Monalisa. A moça do sorriso enigmático que o encantara. De repente, ele, sem querer, encostou em um dos alarmes que havia ali por perto. O barulho ensurdecedor fê-lo sentir-se como um bicho acoado; uma criança indefesa que se escondeu atrás de uma das paredes daquele labirinto; seu suposto labirinto eletrônico. Dali a vinte minutos, chega a polícia. Ao encontrá-lo, um dos policiais se lembrou de seu rosto. Estava estampado em um cartaz de desaparecidos. Era o Sr. Leonardo; homem de 66 anos, moreno e com problemas mentais. Ele havia sumido há alguns meses e estava perdido na galeria de artes mais famosa da cidade. Então, ele foi levado de volta para casa; para sua Monalisa; não a do retato; a que o procurou incessantemente e que ainda o amava.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 28/11/2014
Reeditado em 10/05/2019
Código do texto: T5051542
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.