Olhar do medo (T2730)

Havia algo de estranho em seu olhar, indecifrável, mas ao mesmo tempo diabólico, um olhar que penetrava e conseguia estudar a sua alma.

Nunca havia enfrentado um medo diante de um cliente que demonstrava tamanha frieza, ele confessou tudo, em detalhes que me assustaram, disse que não podia haver segredos entre um advogado e seu cliente.

Em minha vida defendi muitos assassinos, não me arrependi de ter livrado nenhum, alguns consegui diminuir penas, outros confesso que até inocentei, mas nenhum causou tanto impacto como este, nenhum tinha aquele olhar, um olhar do mal, naquele momento comecei a ver as coisas por outra perspectiva, pensei em minha família, em meu filho, e no futuro que ia dar a ele cada vez que ajudava um criminoso como este, pois do outro lado sempre há a vítima e a família da vítima, o sofrimento que se embuti em cada um, e eu na outra ponta ajudando a aumentar este sofrimento, onde apenas se vê a vontade de se fazer justiça, e eu acabava, muitas vezes com este desejo, e novamente, e quantas vezes aconteceu, eu colocava um assassino na rua, e a que custo, por fama, para me mostrar poderoso, não sei.

Mas diante do que ouvi eu não podia defendê-lo, e como sair desta, ele estava diante de mim, parecia me conhecer, parecia saber muito de mim, e a cada vez que me olhava podia sentir minha alma em pânico.

De repente ele levanta estende as duas mãos algemadas em minha direção, eu estendo a minha e num aperto de mão se retira em companhia de um guarda, olha para trás mais uma vez antes de sair pela porta, outra vez aquele olhar, deixando claro que não tinha nenhuma outra opção, eu já estava envolvido num mundo sombrio, um mundo onde minha alma se tornava encarcerada, tão presa quanto os criminosos que defendia.

Alexandre Brussolo (12/12/2014)