VOCAÇÃO ENFERMA

Numa tarde, estava completamente átoa, espairecendo a vida. Olhando vitrines num shopping, saboreando sorvetes...Desanuviando um pouco a minha mente. Ainda olhando as vitrines,vi meu reflexo no vidro, e atrás de mim, vi uma jovem freira, sentada numa sorveteria, olhando insistentemente a vida, num vai e vem de pessoas, movimentando-se pra lá e pra cá. Fiquei curiosa, pedi licença, e sentei-me ao seu lado. Chamava-se Irmã Melânia e estava ali tentando refletir sobre a sua vida. Saiu das fortalezas do convento em missão de caridade, sobrou tempo e foi ao shopping saborear um sorvete. Pelo seu ar pensativo, perguntei se tinha algo errado torturando-lhe. Imediatamente ela levantou-se, pediu desculpas pois já estava de saída. Mais antes, remexeu numa sacola, tirou um livro, me deu, pediu que eu lesse e saiu apressada. Sem entender nada, levantei-me olhando a capa do livro, cuja autora chamava-se Ainalem Malta e saí. Ao chegar em casa abri o livro "História de uma Mãe" e comecei a ler imediatamente. Era a história de uma moça de 19 anos, que chamava-se Juliana Oliveira Prado, narrada na primeira pessoa do singular, como se fosse a história da autora. Filha de um Coronel de Ilhéus, dono da maior fazenda de cacau da região, no ano de 1958. A história de uma mãe que teve seu filhinho arrancado dos braços e levado para uma instituição, um orfanato. Já se faziam três anos. A minha curiosidade fez com que eu devorasse o livro. Falava-se no livro, de um escritor famoso, afeto de Juliana, que chamava-se Eduardo Moreno Gentil. Gentil, ajudou Juliana que confidenciava os seus segrêdos...Resolvi procurar esse escritor em Ilhéus. Fui em livrarias à procura de algum livro seu, era uma auto-biografia, dizia que ele estava morando em Salvador. Fui pra Salvador, fucei todos os catálogos telefonicos e não encontrei nenhum Eduardo Moreno Gentil. Então resolvi ir a um cyber, cliquei em um site com seu nome e encontrei um endereço de editora. Era a editora onde ele publicava suas obras literárias. Fui lá, dizendo-me irmã do escritor e me disseram

o seu endereço. Era uma tarde de muito sol. Tarde quente de fazer a gente suar. Eduardo recebeu-me gentilmente, não desmerecia o nome que tinha. Era um homem alto, moreno, com olhos da cor do mar. Belissimo! Mostrei-lhe o livro de Ainalem Malta e ele olhou-me seriamente. Mandou que eu sentasse e serviu-me um chá. Eu olhava pra ele sem entender nada e ele olhava pra mim com o mesmo semblante. Então comecei a explicar-lhe tudo, depois me calei, pois agora era a hora dele me tirar dúvidas. Ele só fez sussurrar:

- É chegada a hora! Vamos lá...

Então contou-me que aquele livro era a história de Irmã Melânia, narrada com nome fictício de Juliana e pseudônimo de autora, Ainalem, que lido de trás pra frente, significava Melânia. A irma Melânia, chamava-se verdadeiramente de Helena Rosas Batalha e que apaixonara-se por um italiano de Florença, que estava de passagem em Ilhéus e engravidara dele e só soube quando ele partiu. O Coronel Batalha sabendo disso, que sua filha seria mãe solteira, ele era Deputado às vésperas de tornar-se Senador, não queria vê seu nome manchado por um descuido de sua filha. Então, assim que ela teve o filho, ele pediu ao Eduardo que encaminhasse a criança para o Orfanato "Casa do Pequeno Órfão"que ele já havia cuidado para a criação do neto bastardo. Só que o Eduardo não fizera o que ele mandara, ficou com a criança, sob os cuidados de uma governanta. Era uma linda menina...Logo após a saída de Eduardo ele encaminhara a Helena para um convento, onde ela recebera os votos de noviça.

As dúvidas que eu tinha foram todas esclarecidas, agora eu tinha que fazer uma visitinha para a Irmã Melânia, para a Helena...não sei...

Fomos ao Convento da Imaculada Conceição, eu, Eduardo e a Cecilinha. Pedimos pra falar com a Irmã...Ela surgiu na salinha que estávamos à sua espera. Surpresa agora, estava ela. Apresentamos a sua filhinha e prontamente ela se dispos a sair do Convento, trabalhar para manter a Cecilinha.

E foi isso que ela fez. Helena Rosas Batalha, de uma maneira ou de outra, batalhou por sua filha, não desmerece o nome que tem!

07/06/2007 Tereza Neumann

Direitos reservados à autora