Confissões.

Confissões.

Eu não me lembro de como tudo começou, ou melhor, quando começou, o que eu posso dizer é que eu tive uma infância normal, pelo menos eu a considero normal, eu tinha muitos amigos, e como toda a criança sempre fui muito travesso, coitada da minha mãe, quase arrancava os cabelos de tanto nervoso que passava comigo, também não era para menos. Até os doze anos de idade eu morei em um sitio, desculpe uma fazenda, essa fazenda ficava no interior de Minas, próximo à cidade de Rio das Antas, que lugar maravilhoso e encantado.

Eram dois irmãos e uma irmã, eu sou o mais velho, depois vem o Fábio e a caçula Anita, sempre fomos muito unidos, como irmão mais velho a culpa de todas as traquinagens recaia sobre mim, as chineladas e palmadas eram sempre para mim, como minha irmã era a caçula, bem você já pode imaginar, ela aprontava todas e se livrava da culpa, meu irmão Fábio era o tipo calado e ficava mudo diante de nosso pai, como eu sempre tentava explicar os fatos a culpa sobrava para mim. Não sei lhe dizer se isso influenciou no meu futuro desastroso, às vezes penso que sim, às vezes penso que não.

Sim, os meus pais sempre nos deu uma boa educação, a escola era próxima da nossa casa, naquela época na fazenda tinha até a quarta serie, da quinta serie em diante tinha que ir para a cidade estudar. Se eu era bagunceiro. Mas é claro que era sempre aprontei todas, brigava quase todos os dias, sim, o meu temperamento era muito explosivo, sempre foi, e por causa disso apanhei a beça. Lembro-me da minha primeira briga, foi na terceira serie, com um menino da mesma idade minha, o motivo foi muito besta, estávamos na fila do recreio, o folgado do menino cotou a fila, e bem na minha frente, eu tentei dialogar com ele, mas dai ele deu de ombros, não perdoei aquilo, dei-lhe uma tremenda bofetada na cara, o resto você já sabe, socos e pontapés, fomos para diretoria, nossos pais tiveram que comparecer na escola levei uma tremenda surra do meu pai naquele dia. Minha infância foi assim, de certa forma normal, toda criança apronta briga e tudo mais, a única coisa que era diferente em mim, isso eu reconheço, era meu temperamento explosivo, era anormal, coisas mínimas me tiravam do serio.

Quando completei doze anos eu fui morar na cidade de Rio das Antas, na casa de um tio, o motivo era os estudos, mas foi bem nessa época que as coisas começaram a acontecer, eu estava entrando na adolescência a fase mais difícil da vida, pelo menos no meu ponto de vista, sim claro, tive muitos amigos na escola, e todos eles eram os piores da escola, minhas amizades definiriam quem eu seria, é sempre assim doutor, as amizades da adolescência influencia sim no seu futuro, se não diretamente indiretamente, no meu caso foi dos dois jeitos, indireta e diretamente.

Os meus tios brigavam muito doutor, não tinha lugar, bastava um mínimo de qualquer desentendimento e pronto, estava feita a briga, sim claro, eles brigavam muito na minha frente, não só de boca, era socos para tudo o que é lado, minha adolescência foi recheada de violência, começando pela casa do meu tio, depois na escola, e foi na escola que experimentei o cigarro pela primeira vez, um colega chamado Bruno me ofereceu no recreio, dai foi uma consequência desastrosa, de um cigarro foi para dois e três, e depois veio à maconha, eram sempre as mesmas pessoas que ofereciam, depois veio o vicio, nessa época eu já tinha atingido a maior idade.

Não, eu não via meus pais com frequência, eu diria que a cada dois meses, é claro que eles perceberam, e também meus tios contaram tudo, no começo meus tentaram conversar comigo, mas não adiantou a rebeldia já havia dominado meu coração, e um ódio descontrolado que não consigo explicar tomou conta de mim, na verdade ditava as regras da minha vida, não doutor, eu nunca tive controle das minhas emoções, era e é tudo uma bagunça dentro da minha cabeça, eu nunca consegui me controlar.

Sim eu lembro-me perfeitamente da primeira vez que roubei, foi um mercadinho próximo da casa do meu tio, lembra-se do Bruno que me deu o primeiro cigarro, então, foi ele que me deu a arma, um trinta e oito bem velho e encorajou-me a roubar, ele me deu uma daquelas toucas ninjas, esperei o melhor momento e fui ao ataque. Olha doutor é difícil dizer o que eu senti naquele momento, eu diria que mais medo, com dose de euforia e depois do ato uma sensação de alegria, eu gostei daquilo eu tive prazer em roubar, depois é claro veio os outros roubos.

Não eu não morava mais com meus tios, eles pegavam muito no meu pé, e como eu tenho um temperamento descontrolado e agressivo, decidi morar sozinho, antes que eu fizesse algo de ruim com eles, se eu tinha coragem, mais doutor, é claro que eu tinha e tenho, deve ser por isso que pediram que você viesse, não sei por que isso tudo, mais tudo bem, vamos lá, continuemos então. Sim eu era um viciado em varias drogas, e o vicio é como dizem te escraviza, te domina, não adianta tentar fugir, não adianta doutor.

Sim eu continuei com as mesmas amizades, o Bruno era um tipo de chefe do grupo, sim doutor, eu tinha um grupo, fazíamos barbáries, todos tinham medo, principalmente de mim, pelo meu temperamento, e com o efeito das drogas eu ficava ainda pior. Vivíamos fugindo da polícia, meus pais, e doutor, eu nem visitava mais meus pais, a única falta que sinto é da minha mãe, principalmente dos abraços dela, tudo bem então doutor, foi até bom desabafar com o senhor, na próxima semana então, tudo bem para mim, tenho muita coisa a lhe contar, de certa forma isso parece me deixar um pouco mais aliviado, quem sabe o senhor consiga me consertar, não é mesmo. Obrigado, um bom dia para o senhor também.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 31/03/2015
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