O MISTÉRIO DA LÁPIDE
 
Lápide fria, branca e marmorizada, um epitáfio simples e seco – “ Aqui jaz aquele que tudo viu, nada falou e mesmo assim, morreu”.

Os adoradores de túmulo, os góticos e alguns curiosos, já haviam visto este jazigo com esse inusitado epitáfio, sem lhe dar atenção ou nota.

Numa noite fechada e fria, um grupo de adoradores de túmulos, desses mais modernos, que gostam de tirar selfies junto aos mausoléus e lápides, parou para comentar sobre o texto escolhido para àquele em especial, muitas conjecturas foram feitas, mas, nada que indicasse o motivo de tal escolha do falecido, que por um acaso, falha da administração ou da família, não tinha seu nome em lugar nenhum da lápide, apenas a data *19.04.45 – 16.07.95* - morrera jovem o pobre coitado.

Um vento frio, gélido por sinal, fez com todos do grupo se encolhessem com arrepios, riram, nem se incomodaram com isso, a noite estava realmente fria, o vento era esperado e normal. Um senhor pálido e bem vestido, vai para perto deles e fica defronte ao túmulo, parado e mudo, o grupo continua a sua busca por lápides, dignas de selfies, sem se preocupar com o senhor, o qual eles nem haviam percebido a aproximação.

Depois de quase uma hora, eles retornam pelo mesmo caminho por onde entraram, e o homem ainda estava no mesmo lugar, como se fizesse parte da paisagem do cemitério. Um do grupo, resolveu indagar se ele conhecia o falecido, ele soturno e de poucas palavras, respondeu que sim, a curiosidade aumentou e outros fizeram perguntas para as quais o homem pálido ia respondendo soturnamente, mas, sem demonstrar irritação. O rapaz que fizera a primeira pergunta, quis saber se o homem tinha a informação sobre a escolha do texto do epitáfio, e o senhor pálido apenas disse, que Euclides (o falecido), vira muitos crimes na época da ditadura, nunca comentara nada e que mesmo não falando fora assassinado sem explicação e seu corpo havia sido deixado às margens de um rio próximo à sua residência com um bilhete fincado no peito que dizia

- Nada vistes ou ouvistes, nem em pensamento.

A curiosidade aumentava, mas, o homem pálido, apenas disse que já havia falado demais e foi embora em direção à saída do cemitério.
Um outro componente do grupo, quis agradecer e gritou
- Senhor, senhor!
- Como é o seu nome?

E o velho senhor soturno e pálido respondeu
- Euclides
 
 
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 01 de junho de 2015. 
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 01/06/2015
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