VOZES SUSSURANTES

Vozes profundas, como que presas em um calabouço, sussurram sem parar na cabeça daquele ser sombrio, quase virando semente de tão velho, roupas gastas, sujas esfarrapadas, na face cinzenta e imunda, lanhos e rugas severamente incrustadas no semblante, que um dia, fora extremamente belo, sua postura curvada, não é nem de longe o homem que fora nos seus dias de glória, era alto e corpulento, hoje depois de muitos anos, está reduzido apenas, a um farrapo magro sem brilho no negro olhar.

As vozes não o deixam sossegar por um só instante, sempre repetindo, repetindo, repetindo a mesma ladainha

- Você é culpado, você é culpado, você culpado!

Decerto em sua parca lembrança, restam figuras difusas bailando sem sentido algum, corpos dependurados em postes, alguns dilacerados, óleo quente escorrendo por paredes tão altas, mas, que ele não se lembra mais de onde e tão pouco quando, só sente, um horrível sofrimento dentro da alma, que não sabe explicar o motivo e as cruéis vozes profundas sussurrando, dentro de sua cabeça confusa.

Vive sozinho, já não sabe há quanto tempo, nos escombros de um pequeno castelo, meros resquícios de o que fora aquela construção um dia, o velho não sabe de onde veio, onde está, só vai passando os dias, comendo peixes de um rio próximo do abrigo e frutas e raízes que vai encontrando no entorno, não existe nada por perto, nem gentes, nem construções, apenas um descampado cheio de mato e ruínas. E as vozes não o deixam descansar, só dorme por desmaio, pois acordado as vozes não lhe saem da cabeça. Que mistério será que se esconde, por detrás desse ser de face cinzenta e desmemoriado...

Alguns anos mais se passaram, e num capricho do destino, uma carruagem com dois passageiros de uma certa idade, vai parar junto aos escombros, perdida em seu destino e eles encontram, sob um velho carvalho, um monte de trapos sujos e esfarrapados, quase desfeitos pelo tempo, e as pobres partes ressecadas, quase que mumificadas de um homem. Conversando com o cocheiro, ele lhes disse que há muitos anos ouvira falar de um príncipe odioso, que assassinara por mero prazer muitas pessoas. Só sabia dizer que ele desaparecera um dia e nunca mais fora visto, talvez, a carcaça quase desfeita fosse dele.

Não dando muita nota ao acontecido, olharam para o céu e para a redondeza, tentando achar o caminho de volta ao rumo de seu destino, ao empreenderem de novo a jornada, ouviram ao longe, vozes profundas sussurrando insistentemente

-Vingança, vingança, vingança!

Partiram num cavalgar alucinante e deixaram rapidamente aquele lugar....
 
Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2015.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 17/09/2015
Reeditado em 18/09/2015
Código do texto: T5385898
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