Sucubus

Um demônio, como eu, tem períodos de reflexão após assistir de camarote à vida humana. Sou uma súcubos e tenho o privilegio de experimentar, após deleitar-me no desejo luxurioso de um homem, ser do gênero feminino em essência. E com formas voluptuosas, escondendo meus chifres e rabo, caminho pelas ruas sendo desejada por olhos sedentos.

A fêmea humana convive com a animalidade masculina desde sempre, e aprendeu a jogar com isso. Alguns ousam chamar de “interesseira” quem troca o acesso a seu corpo por alguma vantagem, mas fosse eu, faria muito pior, considerando minha natureza demoníaca.

As mulheres, que são criadas em uma aura de laços, tules, vernizes e maquiagem, se vêem cercadas por lobos sedentos conforme a natureza molda seus corpos, seios e quadris mal surgem ouvem-se cantadas, investidas dotadas de agressividade e desejo que chegam a incomodar, e na inocência de uma púbere, se constrangem e retraem.

Como toda fase, esta passa, aos se tornarem mulheres compreendem que há um jogo de interesse, todos querem o poder. O dinheiro e o sexo são afirmações desse poder, desejam as mais belas para se afirmarem alphas, o dinheiro para comprarem itens que o deem valor...

Os humanos são como um animal desequilibrado, que ao ser privado do instinto que direcionava a existência, se viu diante de escolhas e, assim como crianças, exagerou no prazer, hedonistamente pisou em seus iguais com o intuito de um gozo estendido...

-Olá morena!

Um homem de cerca de 35 anos me para no meio da calçada tirando de minha reflexão, meu sorriso sarcástico brota...

-Como pode ser linda assim?

Forço uma expressão menos pervertida, a vontade é de rasga-lo no meio mas apenas desvio e continuo caminhando. Segura meu braço com força e puxa, a rua escura e deserta o estimula a tal ousadia.

-Solte meu braço agora!

Minha voz delicada não o comove. Puxa para si com um sorriso...

-Quem vai te proteger?

-Não preciso de ninguém – a voz não é mais feminina e doce como antes.

Minhas garras se mostram, e desacreditado dá um passo para trás, a pele antes morena ganha uma palidez mortal com olhos em chamas, ver o pavor tomando aquele corpo me excita. Ele tenta correr, bloqueio os movimentos dele com meu poder, ele chora feito um bebe.

-Gosta de obrigar mocinhas a satisfazerem seus desejos sujos?

-Gosto –trêmulo- eu sempre faço isso quando estou em um lugar escuro.

Ele não acreditava que estava admitindo aquilo... Há um poder de sedução demoniaca que faz com que os humanos confessem seus piores desejos, a verdade suja é a mais divertida!

-Esse meu corpo não pode ser seu, mas o seu será meu.

Um de meus dedos, com uma garra comprida o rasgou pelo anus, em um empalamento digno da Inquisição, rasgado ao meio o corpo ficou ali pela rua, e continuei caminhando, desta vez mudei o vestido para vermelho, a cor do sangue no chão foi inspirador....

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Existe na humanidade um sadismo orgulhoso, acham que justiça é sinônimo de vingança quando são decepcionados ou lesados. Justiça com as próprias mãos é o cumulo da arrogância, ser juiz e executor, alem claro de vítima, a ironia de não ser capaz de ver o outro como igual faz com que o inferno espere muitos bons cristãos.

-Boa noite, sabe o caminho mais próximo da estação?

Um rapaz magro de óculos me pergunta, se sentindo um verme esmagado por minha presença feminina e imponente. Há interesse e autodesprezo em seus olhos, percebo como alguns homens se sentem realmente inaptos a conquistarem mulheres poderosas.

-Vire a segunda esquerda e desça um morro, a verá a sua direita.

Se ainda cultuassem deuses com características humanas como em tempos remotos, certamente aquele rapaz escreveria um hino à deusa da beleza e juraria tê-la contemplado, há uma certa poesia agradável em quem não cabe nos padrões e se engana nos discurso tolo de “mulheres inalcançáveis”. Eu consigo perceber facilmente a essencia humana, índole e virtude brilham a meus olhos, assim como autodepreciação, insegurança que se mostram como uma leve névoa acinzentada.

Os homens, normalmente, vivem de teatro mais que as mulheres, estas são mais vitimas da industria da moda e aparência, os homens da opinião dos rivais, deixam de amar e sentir intensamente qualquer afeto por temer serem feitos de tolos e ficarem vulneráveis. Às mulheres é permitido chorar, fazer terapia e tomar remédios, aos homem recai a sentença de “não chore, seja forte, não apegue, etc”, a sensação que tenho, em meu voyerismo, é que homens e mulheres são polarizados para não se acertarem, há uma dificuldade em experimentar o mundo com mais ânsia, com a voracidade que a finitude exige. Se tornam tolos preocupados com a aparência e deixam de viver.

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T Sophie
Enviado por T Sophie em 01/10/2015
Reeditado em 16/03/2016
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