Eu atirei em um homem!

Aonde eu estava com a cabeça? Eu atirei em um homem.

Não eu não o conhecia, apesar de as estatísticas afirmarem que na maior parte dos casos de homicídios, o assassino conhece sua vítima.

Só que eu não sabia quem ele era, se tinha pais, amigos ou cachorros de estimação que abanavam seus rabinhos de felicidade quando o viam. Mesmo assim ali estava ele, caído, sangrando e com os olhos vidrados a meus pés.

Se me perguntassem, eu jamais imaginei ser uma assassina, isso nunca passou pela minha cabeça.

Seu delegado, você vai acreditar? Se eu disser que ajudo instituições de caridade, que ajudo velhinhos a atravessarem a rua e compro mimosas no semáforo pra ajudar os vendedores maltrapilhos?

Seu delegado, você vai acreditar se eu disser que sou inocente, mesmo com os rastros de pólvora em minhas mãos e estes respingos de sangue em meu vestido de verão florido?

Se ele pudesse me ouvir agora, eu lhe pediria desculpas pelo que eu lhe fiz. Mas ele já não podia ouvir mais nada. Não passava de um cadáver esfriando rapidamente.

Se fazer respiração boca a boca ou tentar massagem cardíaca pudessem o ajudar, eu o faria de bom grado, mas meu tiro acertou em cheio seu coração.

Será que foi o destino? Será que nossos caminhos estavam programados pra se encontrar aqui, nesta manhã ensolarada nesta praia deserta? E que seria aqui, já se sabia há milhares de anos, que eu ceifaria uma vida?

Eu não tive culpa, seu delegado, foi tudo um mal entendido! Ele se aproximou de mim sorrateiramente, eu não o vi chegar, estava com os olhos fechados por debaixo dos meus óculos escuros, sentindo a leve brisa do mar.

Eu não sei o que ele queria de mim, mas tocou em meu ombro esquerdo sem permissão. Posso apenas imaginar agora, o que ele estaria querendo me dizer ou fazer. Ele carregava uma arma, porque ele faria isso?

A arma que ele carregava, caiu por sobre meus ombros e foi parar em cima de minhas coxas. Talvez tenha sido um descuido por parte dele.

Só sei que fiquei totalmente paralisada naquele momento, de tanto medo que senti! Como poderia eu, sozinha na praia, não me assustar com uma situação inesperada dessas?

Quando me virei a expressão dele era tão calma que me deixou mais nervosa ainda! Ele parecia acostumado a situações como aquela, envolvendo armas de fogo. Não sei como explicar melhor o que eu senti na hora, do que isso: Foi uma sensação de que era ele ou eu. Senti que minha vida corria perigo, seu delegado. Foi legítima defesa! Quando me dei conta eu já havia apertado o gatilho!

Era pra ser apenas mais um dia sem novidades na minha vida, isso não foi premeditado, simplesmente aconteceu. Um acontecimento desenfreado que passa atropelando a todos, simples assim.

Eu estou em pânico com essa cena, não quero ser presa. Mas cometi um crime.

Agora é tarde pra pensar. Quando deveria tê-lo feito não o fiz. Vou arrastar esse cadáver pro mar e deixar as ondas fazerem seu trabalho. Quem sabe ele ressurja de novo nessa praia daqui uns dias, mas até lá, eu já estarei bem longe daqui.

Nunca mais quero retornar a essa cena de crime. Vou me livrar do cadáver e tirar esse vestido, lavarei ele nas águas salgadas, guardarei na minha bolsa e no caminho de volta o enterrarei na areia junto com a arma.

Meu DNA e minhas impressões digitais tem de ser levado pelas águas.

O rastro de sangue que ficar na areia eu vou remexer até ficar oculto.

Ninguém viu. Ninguém nunca saberá que eu já matei. Vou continuar minha vida como antes, como se nada tivesse acontecido e jamais comentarei isso com ninguém.

Quem sabe eu veja no noticiário alguma reportagem sobre o crime, que felizmente será esquecida logo depois, sendo esmagada por pilhas de outras reportagens sobre crimes mais recentes. E eu vou sair impune.

Bruna Dmsk
Enviado por Bruna Dmsk em 06/10/2015
Reeditado em 06/10/2015
Código do texto: T5406724
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