Rostos no Banheiro

Tinha sido um dia daqueles. Após um dia estressante no trabalho: o arquivo urgente que não conseguiu enviar, o sermão da chefe, um imprevisto de última hora, Marta conta de 1 até 10, aliás, ela tenta contar. Inesperadamente, o som de trovão e a chuva torrencial que começa a cair. O ônibus que pegou para ir para casa parou na esquina. Não havia trazido consigo nem capa nem guarda-chuva porque também não adivinhava que ia chover, então se molhou até chegar em casa.

A respiração ficou pesada. Tinha se acostumado a morar só, mas soube aquela hora que seria uma noite difícil. Marta tinha problema de rinite alérgica, sendo assim qualquer chuva ou bafo quente de terra molhada incomodava seu nariz.

Ela entrou no banheiro. Lavou o rosto e o nariz, que insiste em espirrar. Prende o fôlego e depois solta. Fecha e abre os olhos.

De repente, ela percebe que várias manchas aparecem por toda parede formando rostos, olhos e boca, observando-a ou fitando-a curiosamente.

- Não, não. De novo não. - ela murmura - Por favor! Vai embora! Deixe-me em paz!

Marta desliza pelo azulejo, no canto da parede, colocando suas mãos na cabeça. O telefone lá fora começa a tocar. Como iria reagir? Era o seu psiquiatra querendo saber como estava. Fazia alguns dias que não aparecia no laboratório. E ele sabia mais do que ninguém, que o estresse poderia desencadear novos surtos. Marta era esquizofrênica.

Nefer Khemet
Enviado por Nefer Khemet em 03/01/2016
Reeditado em 23/02/2021
Código do texto: T5499079
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.