Minutos finais (parte 3 de 4)

3.

4 minutos.

Entretanto, antes de fazer isso resolvi ir a uma igreja que ficava próxima ao abrigo em que eu morava, a fim de buscar algum reconforto espiritual. No fundo do meu coração, eu não queria fazer aquilo com minha falecida irmã. Sentia-me culpado, e sabia que merecia ser atormentado pela alma dela até o fim da minha vida. Mas aquilo estava insuportável, eu não agüentava mais tanto sofrimento. Se meu plano de matá-la falhasse, não me restaria outra escolha senão retirar minha própria vida.

Quando entrei na igreja, a missa já havia começado. Estava bastante cheia, pois era domingo, mas mesmo assim consegui encontrar uma fileira completamente vazia bem próxima da saída e distante das outras pessoas – não queria que notassem minha presença, desejava muito a solidão naquele lugar.

Foi então que a vi. Minha irmã, toda vestida de branco, postada de pé próxima ao padre. Como sempre, estava coberta de ferimentos e sangue, o qual manchava sua roupa em diversas partes. Ela me olhava, com um sorriso maligno nos lábios, e então, para minha surpresa, falou pela primeira vez desde que morrera:

– Você não tem coragem de me matar – ela sussurrou, mas apesar da distância eu a ouvia nitidamente – Eu sou sua linda e querida irmãzinha... Covarde... ASSASSINO!

Ao dizer essa última palavra, uma terrível gargalhada ecoou pela igreja, fazendo uma onda de raiva e desespero me invadir. Levantei-me e corri em direção a ela, pouco me importando com os olhares que me acompanhavam. Retirei do bolso uma faca que sempre carregava comigo e a segurei com força em minha mão.

Antes que qualquer um pudesse me deter, saltei onde ela estava e a esfaqueei sem parar. A fúria de meus golpes era tão grande que o sangue dela espirrava em todas as direções, manchando tudo ao meu redor de vermelho.

Somente depois de quase 1 minuto conseguiram me conter. Seguraram-me com força e me amarraram. Eu ouvia choros por todos os lados e várias pessoas tentando ressuscitar o cadáver de minha irmã.

– Não adianta... – disse eu, ofegante, mas sentindo um enorme alívio – Ela está morta... Finalmente estou livre!

Tão logo terminei de falar, vários golpes me atingiram. Socos e chutes de pessoas em intensa ira, que mal se importavam com o fato de estarem em uma igreja.

Quando eu estava quase perdendo a consciência, policiais chegaram para conter o tumulto. Levantaram-me do chão e me algemaram. Enquanto me conduziam para fora da igreja, virei-me na direção do cadáver.

O que eu vi fez meu corpo praticamente congelar, não conseguia mover sequer um dedo devido ao choque. O corpo postado onde eu havia assassinado minha irmã não era o dela, mas de uma garotinha de 11 ou 12 anos, que nada se parecia com minha irmã.

Lágrimas começaram a rolar desenfreadamente em meu rosto machucado, uma dor imensa me invadia. Os policiais nada se importaram com isso, e continuaram me empurrando até a viatura. Assim que fecharam a porta, olhei através do vidro do carro para a entrada da igreja. Várias pessoas me olhavam com muita raiva, outras choravam descontroladamente. Mas, atrás de todas elas, na parte mais alta da escadaria da entrada, notei minha irmã. Ela ainda sorria para mim, aquele sorriso maligno que eu tanto odiava e temia.