Minutos finais (parte 4 de 4)

4.

Alguns meses depois fui julgado e condenado a morrer por injeção letal. Passei 5 anos no “corredor da morte”, em que não vi nenhuma vez mais minha irmã. Apesar disso, sofri bastante por ter assassinado aquela inocente criança.

Finalmente o dia de minha morte chegou, e agora falta apenas 1 minuto de espera. Viro meu rosto para onde estão as pessoas que assistem a minha execução. Os pais da garota estão lá, e me olham com um misto de ódio, nojo e tristeza. Vejo também os advogados e outros indivíduos que não conheço.

E, no meio de todos eles, vejo minha irmã, mas não me surpreendo. Ela se levanta e vem até mim – não há mais qualquer ferimento nela. Há um olhar bastante diferente daquele que eu via em seu rosto desde que morrera. É um olhar bondoso e sincero, como sempre fora quando era viva.

Ela pára diante de mim, e noto que o relógio cessa faltando 1 segundo para o horário de minha morte. Todas as pessoas ficam completamente estagnadas como estátuas.

O tempo agora inexiste.

5

Ela aproxima sua boca de meu ouvido e sussurra:

“Seus anos de sofrimento terminaram, meu querido irmão. Aquele ser que você pensava ser eu e lhe atormentou todo esse tempo, na verdade era um demônio. Ele se alimentou de seu sentimento de culpa e de sua tristeza, até levá-lo à loucura e matar aquela criança.

“Não pude ajudá-lo antes porque minha alma estava perdida e fraca, mas assim que me encontrei fui a seu auxílio e destruí aquele ser maldito.

“Não se preocupe, nada foi culpa sua, nem a minha morte, nem a daquela pequena garota. Nossos pais o julgaram muito mal, mas antes do fim eles o perdoarão, pois ainda o amam.

“Bom, agora é a hora de eu ir. Esperarei você do ‘outro lado’.”

E, com um lindo sorriso, ela se levanta. Penso ver um par de asas bastante brancas às suas costas, mas logo uma luz intensa a envolve, e quando desaparece ela não está mais lá.

O tempo volta a correr, e no segundo que se sucede sinto o frio líquido da injeção penetrar em minha veia. Rapidamente começo a sentir um pouco de tontura, mas logo essa sensação passa e o sono toma seu lugar, um sono reconfortante e intenso. Não luto contra ele, deixo-o apenas me levar. Sinto minhas tristezas e preocupações sumindo, para nunca mais voltarem.