O SANTO

Lá no meio das serras, bem nos cafundó dos Judas, ficava uma cidadezinha pobrezinha de dá dó. Seus poucos habitantes viviam sob as rédeas do coronel Zé Fialho, sujeito que se intitulava o dono da cidade só porque possuía umas terrinhas na qual empregava, sob condições desumanas aqueles miseráveis.

O povo não tinha assistência médica e a educação oferecida era muito precária. A fome era constante e a miséria a companheira inseparável daqueles desvalidos. O que os mantinha vivos e esperançosos era a fé em Jesus de Nazaré e em Nossa Senhora da Dores a padroeira da cidade.

Um dia apareceu pelas aquelas bandas um homem de barba e cabelos compridos, vestia uma túnica de estopa com um cordão amarrado na cintura e calçava alpercatas de couro. Trazia ainda pendurado no pescoço um grande rosário de madeira e carregava uma pequena cruz nas costa. O povo acreditou de imediato que ele fosse um santo e deram-lhe o nome de beato porque ele pregava sobre o amor e as peregrinações de Jesus e cantava os hinários de Nossa Senhora como ninguém. E assim, homens, mulheres e crianças faziam fila para serem benzidos por ele. E o povo se afeiçoou ao beato e o beato a eles, tanto que ficaram constantes as suas peregrinações naquele lugar. Mas o Coronel Zé FIalho não ficou muito satisfeito com o chamego do beato com o povo. Ele achava que o beato poderia pregar idéias revolucionárias e assim fazer com que o povo abrisse os olhos para o não conformismo.

Certo dia, quando o beato partiu, o coronel mandou que um dos seus capangas o seguisse levasse consigo um jumentinho para dar-lhe sem que ninguém visse. Mas o coronel era astucioso e instigou o povo contra o beato o acusando de ele ter lhe roubado o jumentinho.

Quando o beato retornou de suas peregrinações, veio montado no jumentinho e estranhou a frieza do povo, pois ninguém veio recepcioná-lo, pelo contrario deram-lhe as costas. Então ele seguiu em frente e foi até a casa do coronel para lhe agradecer o presente. Mas o coronel o chamou de ladrão e mandou que seus capangas o arrastassem para a praça e ali o humilhou diante do povo. Em seguida ele foi levado para cadeia e lá foi chicoteado dezenas de vezes, mas a cada chicotada em vez de gritar ele bradava:

- “Perdão meu Jesus,

perdão meu senhor,

perdão Deus clemente,

perdoais senhor”

E foram três dias seguidos ouvindo este clamor. No quarto dia só se ouvia as chibatadas. Dizem que ele foi liberado e partiu em seguida. Ninguém mais ouviu ou ousou falar nele.

No ano seguinte a cidade foi assolada por uma enchente que a deixou submersa. Um curioso passava por perto viu boiando sobre as água um rosário de madeira.