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O NAMORADOR  (Segunda e última parte)


Continuação

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          Zoca encontrou-se com o namorador. Depois de algum tempo lhe disse:
          - Amor, gostaria de falar uma coisa mas... tenho vergonha.
          - Pode “falá” pro teu amado, guria. – Falou Roseno todo labioso.
          - Queria muito me casar com você mas...
          - Mas o quê?
          - Minha mãe...
          - O que tem tua mãe?
          - É o contrário, amor. Ela não tem. Não tem condições de pagar o casamento. A festa. Não tem donde tirar o dinheiro.
 

          Roseno deu risada. Coçou a cabeça e em seguida disse:
- Se você “qué memo”, vou “robá” você. Topa?
- Lógico que topo! É o que eu mais quero!


          Roseno foi-se embora para a sua casa. Zoca foi até Sodade na casa da amiga Nida e contou o ocorrido. As duas combinaram que primeiro a Zoca trataria de fugir com o rapaz. Depois que ela aprontasse uma pra ele, chegaria à vez de Nida.
         

           Zorada, ou seja, Zoca como era conhecida, combinou o dia que os dois fugiriam. Disse que ia arrumar a mala e os dois picariam a mula, como dizia o ditado da região. Iriam embora para um lugar distante, mas dentro de poucos dias voltariam para oficializar o casamento. Assim iriam viver felizes como em contos de fadas.

          O dia foi se aproximando. Roseno se gabava para todo o mundo que ia roubar a moça. A ideia era se casar com ela, mas continuar a se encontrar com a outra. A guria combinou que deixaria os cachorros na casa da tia para que nada os incomodasse.
          
          Chegou o tão esperado dia. O safado andava de um lado para o outro, nervoso. Foi na bodega do seu Quim. Mesmo não sendo acostumado, bebeu um copinho de pinga. Arrumou o Matungo. Esse era o nome do cavalo. Botou o arreio e saiu estrada afora. De vez em quando dava umas esporadas no animal. Destino daquele dia: Buruti. E à noite? Viagem pelas campinas orvalhadas e muita festa no caminho.
          
          Chegou na casa da Zorada. A mãe estava sabendo de tudo e apoiou a filha porque o camarada não tinha vergonha mesmo.
          - Onde que se viu isso? O Jaguara sem-vergonha “namorá” duas “muié” de uma só “veiz”? O peão carece “memo” é “levá” uma coça daquelas. Minha “fiia”, o que você vai “fazê” dói mais que uma surra. – Falava dona Zezé tremendo de raiva do peão.
 

          Passou quase uma tarde na casa da Zoca.  Despediu de todos da casa da namorada, ou seja, fez de conta. Disse que ia embora porque tinha mais um cavalo para domar.

          Combinou com a Zoca que lá pelas tantas voltaria e a esperaria debaixo da janela do quarto. Ninguém sabe onde o tal de Roseno ficou das oito horas da noite até uma da madrugada, que foi o horário que retornou. Zorade ouviu o barulho do trote do cavalo e o vulto que se aproximou. Era ele. Sentou-se embaixo da janela do quarto da guria. Lá ficou ansioso a esperar pela jovem para juntos fugirem.
          
          O penico da Zoca estava cheio de urina. O da mãe também transbordava porque foram enchendo durante o dia. Estavam todos esperando o namorador chegar.

          Duas horas depois a jovem namorada do safado abriu a janela. Fazia muito frio naquela noite. Roseno olhou para cima e abriu um sorriso. Naquele momento... chuá... Veio sobre ele a penicada de mijos. Em seguida outra da mãe...

          
          O camarada falou alguns palavrões, montou no Matungo e saiu na corrida. Nunca mais voltou. Como disse a mãe de Zoca alguns dias depois: “O peão perdeu até o ‘isprito’ naquela disparada. Antes de sair a moça pôs-se na janela e gritou:
          - Vou contar pra todo o mundo que você me namorava e ao mesmo tempo namorava a minha amiga Nida lá de Sodade... É isso que você merece seu vagabundo sem-vergonha, Jaguara...
          
          Nessa hora o namorador picou o Matungo com a espora e saiu feito um risco. Foi em casa, tomou banho e logo cedo foi tomar café com o amigo Lizeu. Esperou o almoço. Comeu pouco. Disse que estava sem fome. Contou do ocorrido e que estava morrendo de vergonha e ali não poderia mais ficar.
          
          O rapaz anoiteceu e não amanheceu. Até hoje ninguém sabe para onde foi. Aprendeu uma grande lição de que deve ser honesto, sempre falar à verdade e nunca querer enganar ninguém, porque o castigo vem a cavalo.

          As ex-namoradas de Roseno se tornaram grandes amigas. Nida iria fazer o mesmo, que Zoca fez, mas não foi necessário. Até hoje ninguém sabe onde estaria o dito cujo.
 
(Christiano Nunes)