Casa de Família

Abri a janela do meu quarto para entrar um ar fresco, porque estava complicado respirar aquele cheiro de mofo ali dentro, me dando até dor de cabeça. Liguei a TV e me distraí assistindo o Coisa de Nerd. Resolvi ir à cozinha pegar algo para comer e aproveitei para tomar mais uma dose de café, que infelizmente ficara morno. Tive preguiça em fazer outro, então bebi apenas um gole daquele velho mesmo. Retornei ao quarto e continuei dando uma olhada pela internet.

De repente minha mãe bateu na porta da sala. Ela acabara de chegar do trabalho e já tive que aturar sua reclamação por ter deixado o trinco trancado, a impedindo de entrar usando apenas a chave. Abri a parada para ela e em instantes a energia elétrica caiu, como é costume acontecer aqui quase toda semana. Fiquei chateado porque me preparava para assistir "Uma Família da Pesada" e a luz demorava voltar.

Fui tomar banho no escuro. Joguei uma água gelada em cima e nem usei a toalha. Saí andando pela casa molhado mesmo, pois era forte o calor. Ao me ver, minha mãe veio me perguntar:

- Você viu onde está a faca grande de cortar carne?

- Vi não. Nem a usei hoje. - Eu a respondi.

- Que droga! Some tudo nessa casa! E o emprego que você iria procurar hoje? Pelo jeito, só ficou aí à toa o dia inteiro novamente...

Eu a deixei reclamando para lá e fui tentar dormir, pois nem queria jantar naquela hora. No leito consegui dar umas cochiladas, mas acordava direto por causa das pragas dos insetos. Peguei meu celular para conferir a hora e vi um "23:39" na tela. Nisso, eu notei um vulto passar subitamente pelo corredor. Levantei e fui ver quem era, levando o celular para iluminar a casa. Dei de cara com o chão repleto de sangue e nas paredes haviam marcas vermelhas de mãos se arrastando.

Caraca, maluco! Fiquei abismado e saí gritando pela minha mãe, não para ela me socorrer, mas fiquei preocupado com a possibilidade do sangue ser dela. Quando entrei em seu quarto, achei meu padrasto todo cortado na cama. Corri clamando por ajuda, entretanto me veio uma pancada forte na cabeça e apaguei.

Acordei num quartinho dos fundos do meu quintal, junto da minha mãe. Fiquei um pouco aliviado por vê-la viva e ao mesmo tempo aflito para nos soltar. Fui recuperando as forças lentamente e me preparei para arrombar a porta, só que minha mãe me disse:

-Espere, não precisa se desesperar com isto. Eu tenho a chave e posso abrir a porta quando quiser dessa vez, porém não iremos sair daqui agora.

- Como assim, mãe? A senhora está louca? O assassino voltará e fará conosco o que fez com seu marido!

-Ha ha ha! Ninguém vai voltar, só há a gente aqui. É que eu cansei de dar duro nessa casa e ninguém cooperar. Cheguei no meu limite e no momento estou fazendo justiça!

Nisso, ela puxou a já mencionada faca grande e me deu um golpe, decepando um braço meu. Com o outro me obrigou a relatar a história aqui. Agora ela irá cortar minha cabeça. Que absurdo, não?! Adeus!

Filipe Sonne
Enviado por Filipe Sonne em 08/06/2016
Código do texto: T5660823
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