Noites de lua cheia...

No badalar dos sinos da catedral Nossa Senhora dos Remédios, sempre que a população os ouvia, indicava que o tempo estava passando. Picos, naquelas épocas remotas, já não era a mesma. Em 1930, período de Guerra e de seca, muitos pais de famílias foram escalados para lutar. Luís, um homem destemido, muito chamativo, porém, pobre, vivia amancebado com Erinalva. Não queriam casar e o padre Benedito também se negara realizar o matrimônio, alegando que o casal era impuro e vivia no pecado. Boatos maldosos começaram a se espalhar por toda a cidade que Luís se transformava numa fera enorme, de olhos amarelos, pelo negro e áspero, com aparência de um lobo raivoso. Verdade ou não, o fato é que, realmente, em todas as sextas-feiras de lua cheia, por volta da meia noite, ouvia-se altissonante um ruivo monstruoso em toda a cidade. A população ficava apavorada. As famílias se trancavam em casa, orando até o amanhecer. Na casa de Luís... Erinalva achava estranhas as suspeitas saídas de Luís à meia noite quando tinha lua cheia. No dia seguinte, ele sempre voltava todo rasgado, ensanguentado, e com muita fome. Ela começava a suspeitar que os boatos fossem verdade, que seu companheiro era o tal lobisomem. Numa noite de dezembro, Erinalva queria tirar a prova dos nove: resolveu seguir Luís. Viu quando ele saiu de casa, tarde da noite, e foi para um prostíbulo. Quando ele entrou, ela o acompanhou e ficou escondida por trás de um grande balcão da fétida construção. Luís escolheu a dedo uma das belas moças do recinto e a levou para o quarto. Erinalva foi até a porta do quarto, no fim do corredor e ficou ouvindo tudo: muitos gemidos, o êxtase carnal incendiava lá dentro. Discretamente, ela abriu a maçaneta e percebeu que a porta não estava trancada, entrando no quarto furiosa.

- Desgraçado, então é aqui que tu vem toda sexta-feira de lua cheia? – vociferou Erinalva, chamando a atenção de outras pessoas. – fique ai com ela, porco!

E saiu chorando. Luís se vestiu rapidamente e a seguiu. Quando Erinalva estava num certo ponto, perto de sua casa, encontrou algo inesperado. Um enorme lobo a atacou e só não a mordeu porque Luís a salvou. Jogou-se no meio da fera e levou uma mordida profunda no pescoço, causando um sangramento ininterrupto e fatal. O animal correu e se escondeu entre os becos sujos da pequena cidade. Erinalva entrou em desespero ao ver seu namorado morto, muito ferido, no meio da rua, começou a chorar muito, até que chegou quatro policiais montados a cavalo. Ela relatou tudo e os policiais a informaram que o lobo que acabara de atacar fatalmente Luís havia fugido de um zoológico da cidade vizinha. Após o terrível acontecimento e o enterro de Luís, a lenda do lobisomem foi desmistificada e Luís finalmente pode descansar em paz.

FIM

Patrick Sousa
Enviado por Patrick Sousa em 23/01/2017
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