A MARIPOSA NEGRA

Olavo desviou os olhos do livro que estava lendo e fitou-os no teto do quarto. Ela ainda estava lá – negra, de cabeça para baixo, asas fechadas. Contrastando com o branco do teto, a mariposa lá estava. Entrara pela janela há algumas horas e permanecera no teto, estática, sem voar para outro canto do quarto.

Ele estava impaciente; não conseguia se concentrar na leitura – aquela mariposa o incomodava. Tinha uma sensação estranha, como se aquele inseto o estivesse observando. Desde criança, sempre fora apaixonado por borboletas. Quando completou dez anos, o pai presenteou-o com uma rede e alguns vidros para guardá-las. Seu quarto mais parecia um museu, especialmente destinado aos lepidópteros, todos criteriosamente classificados e acondicionados em recipientes de vidro.

Aquela era uma mariposa especial. Não era qualquer uma – era negra; e enorme. Olavo nunca vira outra daquele tamanho, tampouco com a cor tão intensa. Talvez o que a diferenciasse de todas fosse impressão de estar sendo observado por ela. Era uma sensação esquisita, admitia, quase ridícula (ora, ser observado por uma simples mariposa?). Ele se sentiu um perfeito idiota ao imaginar que aquele inseto o observava (mas o que poderia fazer, se tinha realmente essa impressão?).

Quando menino, ao se divertir caçando borboletas no morro com mais alguns amigos, uma grande mariposa negra lhe posou aos ombros, causando-lhe arrepios por todo o corpo. Espantou-a com as mãos, não sem antes senti-la gelada e viscosa, o que lhe provocou nojo; mas esta mariposa, apesar de escura e enorme, nem de longe se assemelhava à que aparecera em seu quarto.

Olavo colocou o livro no criado-mudo, levantou-se da cama, levando à mão o travesseiro. Foi até o meio do quarto, olhou para cima: lá estava ela – negra, inerte. Jogou o travesseiro para cima, mas sem muita força. Quando o travesseiro caiu, olhou para o teto. Ei-la ainda lá, ela e sua maldita cor negra; ela e sua estaticidade, negra e parada.

Voltou para a cama, retomou a leitura. Era o livro "Mármores", de Francisca Júlia. Sempre gostara de poesia, principalmente parnasiana. Desde menino apreciava os versos frios e impassíveis dessa poetisa, e ficava se perguntando como uma mulher tão sensível conseguia escrever aquelas poesias, de uma frieza marmórea. Naquele tempo, mulher era educada para ser apenas esposa e mãe; as poucas poetisas de então escreviam somente versos românticos, mais adequados à condição feminina, na época. Certa vez, seu pai contou que Francisca Júlia morrera sobre o caixão do esposo, que falecera no dia anterior, tamanha a emoção pela perda do companheiro. “O amor é lindo” – pensou Olavo, suspirando. “Pena que não exista mais hoje em dia”.

Um tanto nervoso, depositou o livro ao peito e acendeu um cigarro, tragou-o e soltou espessa baforada. Outra tragada e outra baforada. Aos poucos, o recinto começou a se impregnar de um cheiro forte de tabaco.

A certo momento, desviou o olhar para o teto. Surpreso, constatou que a mariposa desaparecera. Num pulo rápido, saltou da cama e foi até a janela, que estava aberta. Nada encontrou. Correu os olhos pelo assoalho, pelo teto, pelas paredes. Em vão. A mariposa sumira completamente.

Ficou intrigado. Para onde teria ido, afinal? Apesar da enorme paixão que sentia por esses insetos, não conseguia esconder o nervosismo. Talvez ela tenha voado a um destino ignorado (mas para onde iria uma simples mariposa, senão para qualquer lugar, um poste ou para junto de outras mariposas?).

Pela janela, voando ao redor da luz da rua, percebeu algumas mariposas. Olhou com mais atenção; não conseguiu discernir a que procurava. A "sua" era inconfundível (onde encontraria outra com seu tamanho e com aquela cor tão escura?). Nenhuma era tão especial como aquela. A ansiedade o dominava, e seu espírito inquieto só teria paz quando avistasse novamente aquele inseto.

De olhos semi-abertos, voltou para a cama, encostou a cabeça no travesseiro, fechou os olhos. Tentou dormir, mas não conseguiu. Revirou-se na cama por quase meia-hora, sem conciliar no sono. Irritava-se quando não conseguia dormir.

Quando viu frustrada a vã tentativa de conciliar no sono, abriu pesadamente os olhos, espreguiçando-se na cama. Foi então que algo o apavorou e lhe provocou calafrios, fazendo disparar o coração. Não conseguiu conter um grito de horror – a mariposa estava ali ao seu lado, no travesseiro, ela e sua maldita cor negra.

E parecia observá-lo.